7 de agosto de 2011

Efeito Google já é sentido nas salas de aula


06 de agosto de 2011
Educação e Ciências | Diário do Vale | Tecnologia | RJ

 Efeito Google já é sentido nas salas de aula da região

Júlio Black
Volta Redonda
Lavoisier dizia que "na natureza nada se perde, nada se cria; tudo se transforma", e Darwin sentenciou na Teoria da Evolução da Espécies que os seres vivos - e entre eles nós, humanos - se adaptam e evoluem de acordo com o ambiente em que vivem.
Incontáveis anos após a morte da dupla que ajudou a revolucionar a ciência como conhecemos, a "evolução" da humanidade ocorre em um meio que não é animal, vegetal ou mineral: o mundo virtual da internet. Segundo pesquisa publicada no mês passado pela revista norte-americana "Science", as pessoas estariam deixando de armazenar a informação para guardar onde ela seria encontrada. Com o título "Os efeitos do Google na memória: as consequências cognitivas de ter a informação na ponta dos dedos", o estudo foi realizado com 60 alunos da Universidade de Harvard e ficou conhecido por "Efeito Google". Basicamente, o estudo chegou à conclusão de que a capacidade de memorização havia diminuído. Para muitos, além de interferir na memória, a prática de pesquisa na internet vem substituindo o costume de se averiguar informações ou dúvidas entre amigos, parentes e especialistas.
E essa "adaptação" do ser humano a um novo "ambiente" teria chegado às salas de aula do Sul Fluminense? Segundo a professora e Mestra em Linguística e Língua Portuguesa pela PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica), Ana Malfacini - que trabalha com alunos do ensino médio, segundo grau e de ensino superior -, a resposta é "sim" - e isso não seria bom: - Acho que os alunos banalizam a ferramenta, não a usam de maneira adequada. Um bom exemplo é a Wikipedia, nos últimos tempos, ele virou um oráculo; se você não acha algo lá, parece que o assunto tem menos importância. Parece então que o senso comum confia mais na internet do que nas pessoas - criticou.
Ela disse, ainda, que vem sentindo as mudanças constantemente, com alunos conectados à internet em sala de aula através de redes WiFi e que, ao invés de ajudar no ensino, isso acaba apenas resultando em menor atenção ao que é repassado - exatamente por confiar no que é encontrado na rede mundial de computadores.
- Os alunos baixam trabalhos inteiros através da Web e entregam como pesquisa, mas ainda tenho alunos que interagem comigo, dizendo que pesquisaram no Google o que eu ministro. Mas isso é muito raro; no fim, o povo gasta muito tempo nas redes sociais - salientou a professora.
Para Malfacini, o professor precisa saber usar ferramentas virtuais; ela destacou, inclusive, que algumas escolas já capacitam os profissionais de ensino nesse sentido e que cabe a eles o papel da mediação.
- Os professores têm novos desafios, mas continuam sendo profissionais igualmente importantes. Eles precisam mostrar para os alunos como se raciocina na Web e não deixar que eles saiam repetindo lugares-comuns, mas é difícil. A resistência é grande por parte de alunos viciados e professores pouco estimulados - lamentou.
A professora, entretanto, não vê apenas desvantagens nessa mudança de paradigma: - Isso significa que estamos fazendo novas conexões e que a nossa memória está selecionando o que achamos mais produtivo. Só me preocupa o fato de as pessoas perderem o contato com o tradicional, deixar de ir a uma biblioteca e pesquisar tudo na rede. "Por que ir a um teatro se tenho o YouTube?" Mas aí o problema não é da internet ou do Google, mas das pessoas - acredita.
"Ferramenta válida'
Existe, porém, quem veja de outra forma o fato dos alunos recorrerem ao Google para saber sobre informações pontuais. É o caso da também professora e Doutora em Comunicação Social Aline Pereira: - É importante frisar que o Google é uma ferramenta de busca que conduz a fontes de pesquisa, assim como os livros, as revistas e as enciclopédias. Falar em termos gerais sobre "pesquisa no Google" é muito vago. É possível fazer diversos tipos de pesquisa no site. Uma coisa é a pesquisa para simples verificação de dados, datas ou acontecimentos. Outra coisa é a pesquisa em artigos acadêmicos ou livros disponíveis na internet, desde que citados. E uma terceira, bem diferente, é copiar material disponível na internet sem dar os créditos, como se o texto fosse seu. Acho que o problema está nesta última, mas isso não é novidade - afirmou.
Ela aproveita para salientar os benefícios e malefícios da ferramenta de pesquisa: - Existe um recurso no próprio Google, inclusive, que é o "Google Acadêmico", que conduz direto a artigos científicos. O lado positivo é a rapidez e a facilidade com que solucionamos uma dúvida que nos tomaria tempo e também o contato com outras pesquisas sobre o seu tema. O lado ruim é que muita gente abusa e acaba se apropriando de informação de terceiros. A consulta não pode ser cópia integral, substituindo o que deveria ser fruto de um pensamento crítico e reflexivo do aluno. Hoje em dia, alguns alunos simplesmente utilizam o recurso de "copiar" e "colar" do computador sem se darem sequer ao trabalho de ler o resultado final. Já recebi trabalhos onde o aluno se esqueceu de tirar o endereço da internet do rodapé da página - contou.
A professora do UniFoa (Centro Universitário de Volta Redonda) acredita que a informação não deva ser retida (no sentido de decorada). Dessa forma, ela não se importa que os alunos usem o Google como consulta se isso lhes poupar tempo para o que realmente importaria, na sua opinião: a contribuição ao tema através de uma reflexão crítica.
- Não é o objetivo da escola ou da universidade fazer com que o aluno decore informações. É lógico que ele precisa ter uma noção temporal. Saber, por exemplo, que o Renascimento vem depois da Idade Média. Mas saber em que ano Leonardo Da Vinci pintou a Mona Lisa, isso ninguém precisa saber de cor - destacou Aline, que aponta para outro problema que, segundo ela, seria mais crítico: - O que eu noto é que os alunos chegam, a cada semestre, mais despreparados, mas isso não tem nada a ver com a internet. A culpa é do nosso sistema educacional que não prepara os estudantes para o ensino superior. A leitura e o estudo são atividades desmerecidas atualmente. Não temos cultura literária - criticou a acadêmica.
Se essa nova forma de pesquisar tornou o plágio mais comum e aceito, Aline destaca que a internet também facilita o trabalho do professor para demonstrar que "o crime não compensa": - Assim como os alunos têm mais rapidez para copiar, os professores também têm muito mais rapidez para detectar a cópia - disse a profissional da educação.
Rapidez
A estudante de Comunicação Social Carina de Almeida, de 22 anos, é uma que reconhece a influência do "Efeito Google" na sua vida acadêmica.
- Basta colocar fragmentos ou palavras mesmo sem as conjunções na área de busca e já temos uma pista ou o próprio assunto que queremos encontrar. A gente tenta guardar emails, sites, informação mesmo em cadernos ou agendas, mas é impossível manter esse controle se, com um clique, a gente encontra o que quer na internet. É muito mais prático do que folhear cadernos - afirmou.
Carina também acredita que a internet passou a ser a substituta de amigos e parentes na hora de se procurar uma informação: - Ela (a internet) é mais rápida do que perguntar para alguém, sem contar que a pessoa pode errar. A Web também não é perfeita, mas nela sabemos como "caçar" a informação. Por mais que a net seja dispersa, variada, alguns sites já passam confiança - explicou.

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