25 de setembro de 2011
Sangari | Imirante.com | São Luís | MA
Mais de 50% dos leitos públicos estão ocupados por acidentados de motos
Este ano, mais de 25 pessoas morreram em acidentes de motocicletas em São Luís.Diego Torres/ O Estado
SÃO LUÍS - Mais da metade dos leitos do setor de ortopedia dos principais hospitais públicos de São Luís estão ocupadas por vítimas de acidentes de trânsito envolvendo motocicletas. O diretor médico do Hospital Municipal Clementino Moura (Socorrão II) e chefe do setor de ortopedia da Santa Casa de Misericórdia de São Luís, Newton Gripp, afirmou que os traumas mais comuns são na tíbia e no fêmur. O tempo de recuperação pode ser de até um ano.
Em nenhum mês deste ano houve redução no número de motocicletas emplacadas no Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Com mais motos nas ruas e avenidas da cidade e a imprudência que uma boa parte dos condutores insiste em cometer, os hospitais vão ficando cada vez mais lotados com vítimas de acidentes.
O ortopedista Newton Gripp, diretor médico do Socorrão II e do Socorrão de Presidente Dutra, afirmou que pelo menos 60% dos leitos da ortopedia daquela unidade estão ocupados por acidentados de motos. As fraturas mais comuns, disse o médico, são nos membros inferiores. "Tíbia e fêmur, ambos os ossos da perna, são disparado o maior registro de ocorrência", contou.
Na Santa Casa de Misericórdia de São Luís o percentual é um pouco menor em razão da gravidade dos pacientes que ali chegam a procura de atendimento. "Na Santa Casa, o número de internações e cirurgias chegam a aproximadamente 40%, mas ainda assim é um percentual alto", frisou.
Um paciente, dois atendimentos - Um dos casos do qual Newton Gripp lembrou com certa ironia foi o de um homem internado e operado duas vezes, ambas em decorrência de acidente com motocicleta.
Gripp explicou ser normal o retorno de pacientes com deslocamento da platina, por insistirem em fazer esforço físico antes do tempo normal - como caminhar e andar de moto novamente.
Há pouco menos de um ano, dois acidentes fizeram o mesmo paciente buscar atendimento hospitalar. "Quando eu cheguei para atendê-lo, fui reconhecido e ao perguntar se a placa havia deslocado, ele ainda fez piada e me disse que voltou porque sofreu outro acidente. A diferença é que foi na outra perna", lembrou o médico.
Vinte e cinco pessoas já morreram este ano em acidentes com motocicletas
De janeiro a agosto deste ano, 25 pessoas morreram vítimas de acidentes com motocicletas em São Luís. O registro é do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e revela que o saldo deve superar todo o ano de 2010, quando 27 pessoas morreram após colisões. Junho foi o mês mais violento para motoqueiros, com o saldo de seis mortes.
Imprudência, imperícia e condições adversas de trafegabilidade causadas pelo inverno rigoroso ou estado de conservação das vias são os responsáveis pelo aumento de acidentes com óbitos na capital, segundo o chefe da coordenação de educação para o trânsito do Detran, Roberval Lopes.
A média mensal de motociclistas mortos esteve em 2,2 no ano de 2010 e este ano já é de 3,1. Caso seja mantida até o fim do ano, podem ser contabilizadas 37 mortes em 2011.
Com exceção de fevereiro e abril, todos os demais meses deste ano foram mais violentos para os motociclistas do que o ano passado. O destaque foi o mês de junho, quando seis pessoas morreram.
Medidas - Roberval Lopes afirmou que, entre as principais medidas adotadas pelo Detran para reduzir os registros de mortos, está sendo feito um levantamento das ruas e avenidas mais perigosas, bem como ações voltadas para essas áreas.
Um estudo intitulado Mapa da Violência, elaborado pelo Instituto Sangari, analisou de 1998 a 2008 e apontou o aumento do número de acidentes envolvendo motos em 700%. Segundo a análise, a única categoria que concentra mortalidade na faixa jovem é a dos motociclistas, com taxas extremamente elevadas dos 19 aos 22 anos. O mesmo estudo mostra também que, enquanto a frota de motocicletas aumentou 369% nesse período, as mortes aumentaram mais de cinco vezes e atribui a este incremento da frota a incidência dos óbitos.
Luiz Almeida, de 40 anos, é motorista de caminhão e sofreu um acidente semelhante ao que matou um amigo. Com fratura em uma das mãos e a suspeita de luxação no joelho esquerdo, ele minimizou a colisão entre sua moto e um animal na estrada. "Eu acho que tive até um pouco de sorte, porque um amigo sofreu um acidente parecido como o meu e morreu", disse.
Mortes - No dia 26 de junho, o motociclista Raimundo Coelho de Sousa, de 47 anos, morreu depois de ser atingido por um ônibus na Avenida Santos Dumont. Segundo informações de testemunhas, Raimundo Coelho seguia com sua filha na garupa quando tentou entrar em uma rua que dá acesso ao antigo Clube Recreativo Jaguarema e bateu contra um ônibus que fazia a linha Tropical/Santos Dumont. Ele e a filha foram levados ao Socorrão II, mas Raimundo Coelho morreu na mesma noite.
Sete dias mais tarde, no dia 2 deste mês, Ulisses João Carvalho Coelho, de 27 anos, quebrou o pescoço depois de bater sua moto contra um ônibus da empresa Brasileiro, que fazia a linha Tropical/São Francisco.
A semelhança entre os dois acidentes pode ser percebida nos relatos das testemunhas. No primeiro, envolvendo Raimundo de Sousa, as informações eram de que o motociclista teria feito a conversão que dá acesso ao antigo clube Jaguarema antes do local sinalizado, enquanto o acidente que vitimou Ulisses Coelho teria sido ocasionado por uma ultrapassem indevida, avançando a preferencial, que seria do ônibus.
Mesmo graves, acidentes não intimidam motociclistas
Internados com fraturas nos membros inferiores, motoqueiros dizem que voltarão a conduzir seus veículos por falta de opção de transporte
A perna teve uma fratura exposta, depois de um carro bater, enquanto ele se preparava para estacionar sua motocicleta. "A canela partiu", disse o vendedor, de 21 anos, Leonardo Nunes. Embora grave, o acidente ainda não foi o suficiente para fazer com que ele buscasse outro meio de locomoção.
Leonardo mora no Sol e Mar e, desde segunda-feira, dia 19, é um dos vários pacientes da Santa Casa de Misericórdia internado vítima de acidente automobilístico com motocicleta. Para ele, é o veículo mais barato e, tão logo se recupere, retornará às ruas e avenidas de moto. "Não dá para andar de carro porque está caro e enquanto isso vou com a moto mesmo", disse.
Outra agravante que poderia influenciar o vendedor a deixar a motocicleta é que seu pai sofreu um grave acidente e precisou ficar alguns meses com nove parafusos na perna. "A culpa não foi minha e isso acontece muito. Mais ainda porque muitos motoristas de carros não sabem respeitar os motoqueiros", queixou-se.
O mesmo discurso é feito pelo soldador Nílson Conceição Nascimento, de 40 anos, e morador da Cidade Olímpica. Desde sábado ele está na Santa Casa para tratar de uma fratura também na tíbia. O acidente aconteceu quando retornava do trabalho. Um bêbado entrou na sua frente da motocicleta, tornando a colisão inevitável. "Ele apareceu do nada, meio cambaleante e agora eu estou aqui", contou.
Sobre a utilização da moto após a recuperação, Nílson Nascimento disse que é a única forma de continuar indo e voltando ao trabalho. "Se não for assim eu não trabalho, porque não tem como depender só de ônibus", complementou.
Mais
Os flagrantes feitos por O Estado durante a romaria dos motoqueiros, evento realizado no dia 17 e que não é reconhecido pela Arquidiocese de São Luís, serviu para mostrar quão irresponsáveis são alguns motociclistas quando estão sobre suas motos.
SÃO LUÍS - Mais da metade dos leitos do setor de ortopedia dos principais hospitais públicos de São Luís estão ocupadas por vítimas de acidentes de trânsito envolvendo motocicletas. O diretor médico do Hospital Municipal Clementino Moura (Socorrão II) e chefe do setor de ortopedia da Santa Casa de Misericórdia de São Luís, Newton Gripp, afirmou que os traumas mais comuns são na tíbia e no fêmur. O tempo de recuperação pode ser de até um ano.
Em nenhum mês deste ano houve redução no número de motocicletas emplacadas no Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Com mais motos nas ruas e avenidas da cidade e a imprudência que uma boa parte dos condutores insiste em cometer, os hospitais vão ficando cada vez mais lotados com vítimas de acidentes.
O ortopedista Newton Gripp, diretor médico do Socorrão II e do Socorrão de Presidente Dutra, afirmou que pelo menos 60% dos leitos da ortopedia daquela unidade estão ocupados por acidentados de motos. As fraturas mais comuns, disse o médico, são nos membros inferiores. "Tíbia e fêmur, ambos os ossos da perna, são disparado o maior registro de ocorrência", contou.
Na Santa Casa de Misericórdia de São Luís o percentual é um pouco menor em razão da gravidade dos pacientes que ali chegam a procura de atendimento. "Na Santa Casa, o número de internações e cirurgias chegam a aproximadamente 40%, mas ainda assim é um percentual alto", frisou.
Um paciente, dois atendimentos - Um dos casos do qual Newton Gripp lembrou com certa ironia foi o de um homem internado e operado duas vezes, ambas em decorrência de acidente com motocicleta.
Gripp explicou ser normal o retorno de pacientes com deslocamento da platina, por insistirem em fazer esforço físico antes do tempo normal - como caminhar e andar de moto novamente.
Há pouco menos de um ano, dois acidentes fizeram o mesmo paciente buscar atendimento hospitalar. "Quando eu cheguei para atendê-lo, fui reconhecido e ao perguntar se a placa havia deslocado, ele ainda fez piada e me disse que voltou porque sofreu outro acidente. A diferença é que foi na outra perna", lembrou o médico.
Vinte e cinco pessoas já morreram este ano em acidentes com motocicletas
De janeiro a agosto deste ano, 25 pessoas morreram vítimas de acidentes com motocicletas em São Luís. O registro é do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e revela que o saldo deve superar todo o ano de 2010, quando 27 pessoas morreram após colisões. Junho foi o mês mais violento para motoqueiros, com o saldo de seis mortes.
Imprudência, imperícia e condições adversas de trafegabilidade causadas pelo inverno rigoroso ou estado de conservação das vias são os responsáveis pelo aumento de acidentes com óbitos na capital, segundo o chefe da coordenação de educação para o trânsito do Detran, Roberval Lopes.
A média mensal de motociclistas mortos esteve em 2,2 no ano de 2010 e este ano já é de 3,1. Caso seja mantida até o fim do ano, podem ser contabilizadas 37 mortes em 2011.
Com exceção de fevereiro e abril, todos os demais meses deste ano foram mais violentos para os motociclistas do que o ano passado. O destaque foi o mês de junho, quando seis pessoas morreram.
Medidas - Roberval Lopes afirmou que, entre as principais medidas adotadas pelo Detran para reduzir os registros de mortos, está sendo feito um levantamento das ruas e avenidas mais perigosas, bem como ações voltadas para essas áreas.
Um estudo intitulado Mapa da Violência, elaborado pelo Instituto Sangari, analisou de 1998 a 2008 e apontou o aumento do número de acidentes envolvendo motos em 700%. Segundo a análise, a única categoria que concentra mortalidade na faixa jovem é a dos motociclistas, com taxas extremamente elevadas dos 19 aos 22 anos. O mesmo estudo mostra também que, enquanto a frota de motocicletas aumentou 369% nesse período, as mortes aumentaram mais de cinco vezes e atribui a este incremento da frota a incidência dos óbitos.
Luiz Almeida, de 40 anos, é motorista de caminhão e sofreu um acidente semelhante ao que matou um amigo. Com fratura em uma das mãos e a suspeita de luxação no joelho esquerdo, ele minimizou a colisão entre sua moto e um animal na estrada. "Eu acho que tive até um pouco de sorte, porque um amigo sofreu um acidente parecido como o meu e morreu", disse.
Mortes - No dia 26 de junho, o motociclista Raimundo Coelho de Sousa, de 47 anos, morreu depois de ser atingido por um ônibus na Avenida Santos Dumont. Segundo informações de testemunhas, Raimundo Coelho seguia com sua filha na garupa quando tentou entrar em uma rua que dá acesso ao antigo Clube Recreativo Jaguarema e bateu contra um ônibus que fazia a linha Tropical/Santos Dumont. Ele e a filha foram levados ao Socorrão II, mas Raimundo Coelho morreu na mesma noite.
Sete dias mais tarde, no dia 2 deste mês, Ulisses João Carvalho Coelho, de 27 anos, quebrou o pescoço depois de bater sua moto contra um ônibus da empresa Brasileiro, que fazia a linha Tropical/São Francisco.
A semelhança entre os dois acidentes pode ser percebida nos relatos das testemunhas. No primeiro, envolvendo Raimundo de Sousa, as informações eram de que o motociclista teria feito a conversão que dá acesso ao antigo clube Jaguarema antes do local sinalizado, enquanto o acidente que vitimou Ulisses Coelho teria sido ocasionado por uma ultrapassem indevida, avançando a preferencial, que seria do ônibus.
Mesmo graves, acidentes não intimidam motociclistas
Internados com fraturas nos membros inferiores, motoqueiros dizem que voltarão a conduzir seus veículos por falta de opção de transporte
A perna teve uma fratura exposta, depois de um carro bater, enquanto ele se preparava para estacionar sua motocicleta. "A canela partiu", disse o vendedor, de 21 anos, Leonardo Nunes. Embora grave, o acidente ainda não foi o suficiente para fazer com que ele buscasse outro meio de locomoção.
Leonardo mora no Sol e Mar e, desde segunda-feira, dia 19, é um dos vários pacientes da Santa Casa de Misericórdia internado vítima de acidente automobilístico com motocicleta. Para ele, é o veículo mais barato e, tão logo se recupere, retornará às ruas e avenidas de moto. "Não dá para andar de carro porque está caro e enquanto isso vou com a moto mesmo", disse.
Outra agravante que poderia influenciar o vendedor a deixar a motocicleta é que seu pai sofreu um grave acidente e precisou ficar alguns meses com nove parafusos na perna. "A culpa não foi minha e isso acontece muito. Mais ainda porque muitos motoristas de carros não sabem respeitar os motoqueiros", queixou-se.
O mesmo discurso é feito pelo soldador Nílson Conceição Nascimento, de 40 anos, e morador da Cidade Olímpica. Desde sábado ele está na Santa Casa para tratar de uma fratura também na tíbia. O acidente aconteceu quando retornava do trabalho. Um bêbado entrou na sua frente da motocicleta, tornando a colisão inevitável. "Ele apareceu do nada, meio cambaleante e agora eu estou aqui", contou.
Sobre a utilização da moto após a recuperação, Nílson Nascimento disse que é a única forma de continuar indo e voltando ao trabalho. "Se não for assim eu não trabalho, porque não tem como depender só de ônibus", complementou.
Mais
Os flagrantes feitos por O Estado durante a romaria dos motoqueiros, evento realizado no dia 17 e que não é reconhecido pela Arquidiocese de São Luís, serviu para mostrar quão irresponsáveis são alguns motociclistas quando estão sobre suas motos.
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