24 de setembro de 2011

'América Latina pode ter sua Bangalore', defende autor :Andres Openheimer



24 de setembro de 2011
Educação e Ciências | Folha de S. Paulo | Mercado | BR







cifras & letras ENTREVISTA EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA Para jornalista, século 21 é marcado pelos produtos do conhecimento MARIA PAULA AUTRAN COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O jornalista argentino Andrés Oppenheimer foi a países como China, Índia e Israel para investigar a influência dos sistemas educacionais no progresso local em ciência e tecnologia.
Em "Basta de Histórias!" (Objetiva), recém-lançado no Brasil, ele diz que no século 21 os países precisam investir na educação e na economia do conhecimento. Veja alguns trechos da entrevista.
Conhecimento
O século 21 é o da economia do conhecimento, pois seus produtos se valorizam mais que as matérias-primas. Somente 3% do preço de um café brasileiro no Starbucks dos EUA volta ao produtor; 97% vão para quem fez o processamento, a engenharia genética etc., produtos da economia do conhecimento. Se queremos estar nesse grupo, temos de investir em educação, ciência e tecnologia.
Patentes
Os países mais ricos são os que produzem patentes de produtos da economia do conhecimento. Hoje, uma empresa como o Google vale mais que o PIB da Bolívia.
Educação
Uma das principais diferenças que encontrei nos países em que estive é que na América Latina não temos uma cultura familiar de educação. Os asiáticos têm. Eles investem todo o seu tempo e dinheiro na educação de seus filhos. Nós, não.
Engenheiros
Na Índia, criou-se uma massa de engenheiros sem se preocupar se conseguiriam trabalho. E a oferta veio, das companhias internacionais. Nós não produzimos tantos porque temos medo de que vão dirigir um táxi, mas não percebemos que, se criamos uma massa, as empresas virão contratá-los. Na América Latina é possível criar uma Bangalore, como na Índia, mas é preciso formar mais engenheiros e menos psicólogos.
Fuga de cérebros
O que vi na Índia, na China e em Cingapura é que o conceito de fuga de cérebros é datado. Está claro que, quando você manda seus melhores cérebros ao exterior, de alguma forma todos vão contribuir para o país de origem. O que antes era um fenômeno negativo, hoje é positivo, a "circulação de cérebros".
Exemplo
Como nasceu Bangalore? Os indianos foram estudar engenharia nos EUA, conseguiram trabalho no vale do Silício e depois formaram suas próprias empresas e se deram conta de que podiam contratar um engenheiro em seu país por muito menos que na Califórnia. Foram a Bangalore, investiram e começou o que hoje é um dos principais motores da Índia.
Brics
Creio que o Brasil tem grandes chances de competir com sucesso com as outras potências emergentes, desde que assuma suas pendências, com humildade. No livro, pergunto a Bill Gates, qual o segredo para que alguns países avancem e outros não e ele diz: "a humildade".
Paranoia
Na China, na Índia e em todos esses países eles olham sempre ao redor com uma espécie de paranoia, que outros países estão melhor. Seria bom para o Brasil perceber que registra só cem patentes por ano nos EUA. Ter paranoia construtiva de que não há nenhuma universidade brasileira entre as melhores.
BASTA DE HISTÓRIAS!
Andrés Oppenheimer EDITORA Objetiva QUANTO R$ 49,90 (392 págs.) TRADUÇÃO Joana Angélica |

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