11 de novembro de 2011

Quem é elitista? JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL, USP



A população paga para que os estudantes da USP se tornem profissionais competentes, e não para que façam greve ou depredem patrimônio público
O episódio na USP está circundado de aspirações injustificáveis.
Os mesmos alunos que se dizem preocupados com a igualdade pleiteiam, apenas para si, o direito de fumar maconha sem que sejam importunados.
Não cabe, nesta oportunidade, discutir o mérito de o porte de maconha para uso próprio ser crime; cumpre, entretanto, refletir sobre a pretensão de receber tratamento privilegiado relativamente àquele dispensado ao jovem que se encontra fora dos muros da universidade.
Não condiz com quem se apresenta defensor da igualdade exigir regalias. Ademais, a universidade, sobretudo a pública, é local destinado ao estudo e à pesquisa, não ao uso de drogas, lícitas ou ilícitas.
Feita assembleia, que votou pela não invasão da reitoria, a decisão foi desrespeitada, sendo que, após várias prorrogações de prazo para saída pacífica, a polícia interveio para desocupar o prédio público.
Durante a infundada invasão, os jovens -alguns nem tanto- ostentaram roupas de grife e automóveis novos. Nesse interregno, seus pais não compareceram para levá-los para casa. Quando da condução à delegacia, alguns pais surgiram para apoiar a atitude dos filhos, alardeando tratar-se de presos políticos.
Aí, novamente, a pretensão de privilégios. Será político o pleito de criar um território livre? Será político o pleito de ter liberdades não conferidas aos demais pagadores de impostos, inclusive os jovens que sofrem descontos em seus salários para que o estudo dos invasores seja custeado pelo Estado?
Ao ser questionado sobre a reintegração, o ministro da Educação afirmou que a USP não é a cracolândia. Seriam as pessoas que frequentam a região da cracolândia cidadãs de segunda classe?
A maior parte dos atuais governantes lutou contra a ditadura e, ao que parece, ao terem vencido, deixaram supostos revolucionários órfãos. Frases legitimamente pronunciadas durante a conquista da liberdade findam sendo utilizadas por quem ainda procura uma causa.
A manifestação do pensamento é direito constitucional, tanto que o Supremo Tribunal Federal liberou a Marcha da Maconha. Todos estão legitimados a postular a revisão da lei; entretanto, não é democrático o encastelamento.
A população paga para que os estudantes da Universidade de São Paulo estudem e se tornem profissionais competentes, melhorando as condições do país.
O povo não paga para que tenham benefícios pessoais, nem para que depredem o patrimônio público ou façam greve. Aliás, os alunos haveriam de exigir aula, não paralisar a universidade.
Igualdade, na visão liberal, implica tratar todos de forma equânime. Sob a perspectiva social, enseja tratar com maior tolerância os menos favorecidos.
Sob esse viés, que deveria ser o adotado pelos que se apresentam como não elitistas, os alunos da USP haveriam de ser tratados com maior rigor, sendo-lhes exigidas maiores notas, maior frequência e menor tempo para término dos cursos.
O Brasil precisa, definitivamente, abandonar o dogma "para os amigos, tudo; para os inimigos, a lei". É papel do educador ensinar essa lição.
JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL, advogada, é professora livre-docente de direito penal na Universidade de São Paulo. Foi presidente do Conselho Estadual de Entorpecentes de São Paulo.

3 comentários:

  1. "pleiteiam, apenas para si, o direito de fumar maconha sem que sejam importunados." - Parei de ler aí. Até agora, não vi nenhuma evidência desta falácia, que a Sra. cita como fato. Além é claro, do ruído preconceituoso e reducionista da sociedade paulistana, ecoado pelos veículos de mídia grandes e pequenos. Se o debate realmente se reduzisse à liberdade ou não de portar drogas, acredito que seria mesmo muito mais simples defender uma posição sensata: Os que querem portar drogas, que o vão pleitear sem utilizar da imagem e instrumentos da Universidade para tal. Felizmente, o debate não é tão simples, como a Sra. parece ignorar, surpreendentemente. Infelizmente, este reducionismo do qual este infeliz artigo é exemplo contamina todos os debates de importância na atual sociedade paulistana.

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    1. Vc não deveria parar de ler aí, mas é a partir daí é que vc entenderia o ponto de vista da professora. Não pode os estudantes depredarem uma faculdade pública seja qual for a alegação! É simplesmente injustificado essa baderna, já que é o meu dinheiro é que está em jogos pra esses caras quebrar tudo.

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    2. Vivemos em um Estado Democrático de Direito, infeliz mente não vou participar deste debate academico em virtude do debatedor coo na maioria das vezes, não se identifica ou se esconde no Anônimo... atitude de pouca coragem ou quem deve, TEME...
      A UNIVERSIDADE É PÚBLICA. ENGANA -SE QUEM PENSA DE SEJA DE "ALGUNS"...

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