17 de janeiro de 2012

Educação e inovação



17 de janeiro de 2012
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As projeções sobre o crescimento da população brasileira, com base nas estatísticas do IBGE, informam que, em 2040, portanto daqui a apenas 29 anos, o Brasil terá 56,7 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Como o total de habitantes do país deverá chegar a 240 milhões, praticamente um quarto da população será da terceira idade. A implicação dessa projeção está ligada ao fato de que o mundo não conhece país que primeiro envelheceu para depois enriquecer. Todos os países desenvolvidos enriqueceram antes do envelhecimento de sua população, razão pela qual é recomendável, ao Brasil, fixar a meta de enriquecer nas próximas três décadas, a fim de chegar a 2040 como um país desenvolvido.
A expressão país desenvolvido significa um estágio de bem-estar social em que não existam pessoas pobres e extremamente pobres, além do acesso de todos a água tratada, esgoto sanitário, habitação digna, alimentação adequada e com taxa zero de analfabetos. Por esses parâmetros, o Brasil ainda é um país pobre e atrasado, ainda que seja rico de recursos naturais. A renda per capita brasileira deve chegar a 11 mil dólares em 2012 e, para ingressar no clube dos países desenvolvidos, essa renda deve, no mínimo, dobrar.
Caso o crescimento populacional brasileiro siga na faixa de 1%, a duplicação da renda per capita em 2030 depende do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) à taxa média de 5% ao ano. Assim, o grande desafio é como fazer o PIB crescer continuamente 5% ao ano. Para conseguir esse desempenho, a taxa de investimento público e privado teria de chegar a 25% do PIB, meta difícil de alcançar já que, atualmente, o investimento total mal chega aos 20% do PIB. Quem investe em infraestrutura física e na formação de capital fixo (máquinas, equipamentos e instrumentos de produção) são as empresas e o governo, e o problema maior está no baixo nível de investimento do setor público.
O país está diante de um dilema (um tradeoff, como dizem os economistas): ou o governo sacrifica gastos correntes e eleva o porcentual do orçamento fiscal destinado a investimentos ou continua concedendo generosos aumentos salariais aos funcionários públicos e privilegiando gastos com custeio (inclusive os sociais), contentando-se, assim, com menor taxa de crescimento do PIB. Qualquer que seja a escolha a ser feita pela nação, é urgente dar prioridade à educação e à inovação. Em relação à educação, há consenso quanto ao tratamento prioritário que lhe deve ser dado. Mas em relação à inovação, o país demorou para acordar e, apesar dos avanços dos últimos anos, ainda está engatinhando. O número de patentes que o Brasil registra aqui e no exterior é pífio.
Por inovação pode ser entendida a geração de novos produtos, novos processos e novos métodos de produção e de gestão. Um exemplo de como isso pode ser feito em tempo relativamente curto é o caso do Japão, que, depois da Segunda Guerra Mundial, passou a copiar os produtos disponíveis no mercado mundial e a introduzir modificações e melhorias. A partir dessa estratégia, o Japão esmerou-se em criar produtos e processos novos, cujo resultado foi o crescimento acelerado do PIB do país e o aumento rápido do bem-estar social de sua população. Ocorre que, para consecução de metas ousadas em criação e inovação, os gastos com pesquisa e desenvolvimento (P&D) devem ser aumentados para se equivalerem ao que é aplicado por nações adiantadas.
Enquanto países como Japão e Coreia do Sul investem perto de 3,5% de seu PIB em P&D, o Brasil patina na casa do 1%. O caso mais exemplar é o dos Estados Unidos (EUA) que, com PIB per capita equivalente a cinco vezes o do Brasil, aplica 1,8% de seu PIB em P&D. Isso explica por que razão os EUA conseguiram dominar o mundo em matéria de criação, inovação, desenvolvimento de novas tecnologias e novos processos produtivos e gerenciais, tornando-se o maior fornecedor mundial de patentes. O Brasil não precisa reinventar nada, mas apenas imitar o que os países adiantados fazem nessa área, a fim de sair da condição de mero importador das criações e inovações feitas no exterior.
Os três principais agentes de criação e inovação são as empresas, o governo e as universidades. No Brasil, o governo e as universidades estão distantes dos níveis de gastos com P&D verificados nos países desenvolvidos, logo, não é por esse caminho que o país vai conseguir superar o atraso. O maior crescimento tanto dos gastos com P&D quanto da criação e inovação deve vir das empresas. O desafio que se impõe ao país é criar, nas organizações privadas, a cultura de aplicação de recursos em P&D, mesmo sabendo que os resultados, muitas vezes, só virão em longo prazo.

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