Novidade na escola : uso de tablets em sala de aula
JC e-mail 4427, de 31 de Janeiro de 2012.
Editorial do Correio Braziliense de hoje (31).
Neste início de ano letivo, uma controvérsia agita o ambiente escolar: o uso de tablets em sala de aula. As instituições de ensino brasileiras, notadamente as particulares, reproduziram uma tendência nos países desenvolvidos e incluíram os equipamentos eletrônicos na lista de material didático. Há uma extensa lista de argumentos favoráveis ao uso dos aparelhos: os estudantes estariam dispensados de carregar pesadas mochilas com livros; haveria uma economia de papel na produção dos livros didáticos; as aulas se tornariam mais dinâmicas, com ampliação das possibilidades na aprendizagem. Uma questão, entretanto, permanece em aberto: os alunos aprenderão melhor com a novidade tecnológica?
Um dos impactos mais impressionantes proporcionados pelo avanço da tecnologia reside no acesso à informação. Qualquer internauta hoje tem ao alcance dos olhos uma quantidade incomparável de dados em relação a um cidadão comum de 150 anos atrás. A armadilha do mundo digital se revela, porém, no momento em que se analisa os supostos benefícios sociais trazidos pela nova realidade. É antiga a discussão sobre os riscos da internet, refúgio de toda ordem de criminosos e prática de delitos, da pirataria à pedofilia.
A popularização dos telefones celulares não necessariamente significa que a humanidade se expresse melhor. A humanidade tampouco aprendeu a fotografar melhor graças às máquinas digitais. É legítimo perguntar, pois, se um aparelho que utilize simultaneamente textos, sons e imagens representará o passaporte para a aquisição de conhecimento mais qualificado.
No universo infinito da rede mundial de computadores, constitui tarefa fácil acompanhar o debate sobre as características da geração digital. Vários autores acreditam que ela é mais antenada, faz conexões em diferentes níveis sobre determinado assunto, adquire conhecimento de forma multimídia. Outra corrente, no entanto, alerta para a superficialidade típica da geração que conhece tudo de computadores, mas estranha o hábito milenar de se concentrar na leitura. Especialistas alertam até mesmo para o fim do pensamento abstrato e da habilidade de atenção, características fundamentais a quem pretende evoluir nos estudos formais.
Outro aspecto merece reflexão: o uso de tablets nas escolas está disseminado em países com altos índices de leitura e investimentos maciços no ensino tradicional. Ainda é uma incógnita o impacto desse instrumento em realidades como a brasileira, com históricos problemas de acesso à educação e enormes desigualdades no ensino. Os tablets, no fim das contas, poderão apenas aprofundar os contrastes nos bancos escolares nacionais.
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