24/02 às 08h50 - Atualizada em 24/02
Jornal do Brasil
Eloi S. Garcia
Não resta dúvida sobre o papel crucial que a ciência
no desenvolvimento do novo modelo produtivo tem para o nosso país. O Estado e o
setor privado têm um papel impulsor da ciência mediante um compromisso sério e
de continuidade, que estão voltados para a nossa produção atual e futura. E é
precisamente em tempo de crise que se deve permanecer ativo em relação à
importância da ciência no desenvolvimento.
Necessitamos de uma ciência vibrante e vigorosa,
sustentada por um financiamento suficiente, estável e dividido de forma
equilibrada pelos grupos de pesquisa produtivos. Não podemos dizer aos
brasileiros que a ciência é fundamental para sair da crise e colocar recursos
financeiros insuficientes para desenvolvê-la. A ciência, junto com a tecnologia
e inovação, não pode esperar por tempos melhores. Este momento é crucial para
se dar um passo firme para investir nestas áreas. Temos que continuar plantando
sementes para uma futura frutificação da ciência de que o país necessita.
Como entusiasta desta linha de pensamento não perco a
confiança. Peço às autoridades que não permitam que, por falta de
recursos e empregos, os cientistas formados na pós-graduação, com tanto
sacrifício, emigrem para outros países por falta de oportunidades. Temos
pesquisadores formados nos melhores cursos, a maioria entre 30 e 45 anos.
Vários possuem treinamento no exterior, e outros querem vir do exterior para
reincorporar-se no sistema científico nacional.
Nos tempos atuais é necessidade absoluta não perdermos
os investimentos que temos feito na educação para a produtividade e
responsabilidade. Isto irá sensibilizar a população e transformar uma cultura
que tão pouco desenvolveu a pesquisa durante séculos. Falamos da educação para
o conhecimento e produção como valor de mudança nos mercados. A ciência é
imprescindível para que o país possa ser competitivo. Devemos investir na
pesquisa que produz conhecimentos que a priori não são utilizáveis, mas que são
a base de futuros desenvolvimentos.
A pesquisa deve ter a liberdade de pensamento de que
necessitam a curiosidade e o desejo de aprofundar o conhecimento. Sem ela, não
é possível mudar os limites do saber previamente estabelecido. Essa é a
essência e a particularidade da ciência. Sem a pesquisa não teriam sido
desenvolvidos tantos produtos que revolucionaram a humanidade. Não
podemos interpretar de modo errado em como a pesquisa pode socorrer na mudança
do modelo produtivo.
O foco maior da ciência nunca foi a criação de
patentes que beneficiem o setor privado. É claro que este é um papel
importante, mas não é o objetivo imediato. Para a inovação precisamos potenciar
a pesquisa no setor privado. Inovar é criar pontes e destruir barreiras entre a
ciência, inovação e setor produtivo. Inovar é fornecer um apoio
sustentável à ciência que permita continuar a formação de novos cientistas e
buscar cada vez mais o conhecimento, base para a inovação no setor produtivo.
* Eloi S. Garcia,
ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz, é membro da Academia Brasileira de
Ciência e pesquisador do Instituto Oswaldo e do Instituto Nacional de
Metrologia, Qualidade de Tecnologia.
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