27 de fevereiro de 2012

Juventude britânica enfrenta falta de perspectivas


Por LANDON THOMAS Jr.

LONDRES - Há quase dois anos Nicki Edwards procura emprego - qualquer emprego.
Ela tem 19 anos, é articulada e segura. Mas, como muitos jovens do Reino Unido, ela não teve condições financeiras de continuar na universidade, e assim ficou impossível encontrar trabalho. E os distúrbios de jovens, em meados de 2011 em Londres, fecharam ainda mais portas para gente como ela.
"Se você não está trabalhando, em treinamento ou na faculdade, você bem que poderia ser um ladrão -os empregadores simplesmente não levam você a sério", disse Edwards.
"Em algum momento você diz: 'Estou encalhada e nunca vou encontrar emprego'."
Talvez a consequência mais debilitante da crise econômica na zona do euro e da sua cruzada pela austeridade tenha sido a disparada no desemprego juvenil.
Na Espanha, o desemprego entre pessoas de 16 a 24 anos se aproxima dos 50%. Essa taxa é de 48% na Grécia, e de 30% em Portugal e na Itália. Aqui no Reino Unido, ela fica em 23,3%.
A falta de oportunidades está alimentando uma crescente sensação de alienação e raiva entre os jovens de toda a Europa -um estado de ânimo que ameaça envenenar as aspirações de uma geração, e que já alimentou vários protestos violentos de Londres a Atenas.
Especialistas dizem que a maioria dos que saíram às ruas em Londres no ano passado eram jovens que não tinham empregos, não estavam na escola e não participavam de programas de treinamento profissional.
Classificados pelas estatísticas sob a sigla Neet (de "fora da educação, treinamento ou emprego", em inglês), eles somam cerca de 1,3 milhão de pessoas, ou um quinto dos jovens de 16 a 24 anos.
Embora o desemprego juvenil seja há muito tempo um problema crônico por aqui, especialistas dizem que o compromisso do governo britânico em conter gastos sociais parece agravar a situação.
A escassez de programas de treinamento profissional, argumentam eles, contribui para o grande número de jovens permanentemente desempregados no Reino Unido.
"Está patentemente errado que os jovens tenham um começo de vida tão ruim, quando há tanta coisa a mais que poderiam fazer", disse a economista Hilary Steedman, da London School of Economics. "Só porque eles não foram para a universidade não significa que não queiram trabalhar."
Muitos jovens daqui passam meses se candidatando a empregos para os quais não têm treinamento adequado.
Em muitos casos, os meses viram anos, e as pessoas continuam recebendo assistência governamental indefinidamente.
No ano fiscal mais recente, o governo pagou £ 4,2 bilhões (US$ 6,6 bilhões) em benefícios para essa faixa etária, e pelo menos uma parte dessa quantia seria mais bem gasta em treinamento profissional, argumentam alguns especialistas.
Steedman disse que menos de 10% dos empregadores britânicos ofereceram estágios para aprendizes em 2010, enquanto na Alemanha, Áustria e Suíça pelo menos um quarto dos patrões abriram essa oportunidade.
Edwards estudou dois anos no Greenford College, em Londres, mas saiu em março passado por não poder mais pagar.
Apesar da sua incapacidade de achar emprego, ela continua tentando quase diariamente, e engolindo a vergonha que sente por precisar aceitar os benefícios governamentais.
"Não quero ser paga pelo governo", disse Edwards, que vive na zona oeste de Londres. "Mas o que eu vou fazer? As pessoas não arrumam empregos."
Martin disse que os países europeus que apoiam programas para aprendizes -Alemanha, Áustria e Holanda- também têm conseguido sustentar uma atividade industrial e exportações robustas.
Em economias de outros países, a cooperação entre empregadores, governos e sindicatos não é tão forte.
"Na Inglaterra, por exemplo, muitos empregadores preferem sair à caça de mão de obra qualificada", disse o economista John Martin, da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, em Paris.
Nada disso é novidade para Stefan Radanovic, 19, que afirma já ter se candidatado a centenas de empregos nas áreas de vendas e atendimento ao consumidor.
"Eu não as culpo", disse, referindo-se às empresas que ignoraram seu currículo. "Elas não simplesmente não querem treinar a gente."

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