Desde 1998, o agente literário, empresário e intelectual americano John Brockman vem compilando opiniões de alguns dos cientistas mais conceituados do mundo, publicadas em livros. Cada ano tem um tema diferente. Em 2010 foi discutido "Como a internet está mudando nosso modo de pensar". Neste ano, a pergunta foi "Qual o conceito ou a ideia científica que pode nos aprimorar?" As 151 respostas, vindas de especialistas como Freeman Dyson, Daniel Kahneman e Steven Pinker, acabam de ser publicadas nos EUA em "This Will Make You Smarter"("Isto vai deixar você mais esperto"), livro que já avança na lista dos mais vendidos do país.
Brockman acredita que os cientistas (naturais e sociais) são os que ponderam as questões mais essenciais do nosso tempo. E não falamos apenas de aquecimento global ou do destino do Universo. Questões de natureza pessoal, ou mesmo corporativas, fazem parte da discussão: como viver melhor, o que é moralidade, como lidar com ideias contrárias às suas, como crescer trabalhando em grupos etc.
Inspirado no famoso ensaio "As Duas Culturas e a Revolução Científica", de 1959, do físico e escritor inglês Charles Percy Snow, Brockman propõe uma "Terceira Cultura", em que cientistas-humanistas são os principais criadores de cultura e de revoluções culturais.
Segundo ele, a fertilização plural de ideias vindas de áreas diferentes levará não só a soluções para os principais problemas que afligem a humanidade, da energia à fome, como também definirá nosso futuro.
Neste ano, dentre as muitas ideias provocadoras e instigantes, um tema fala mais alto do que os outros. Mesmo que tenhamos muito o que celebrar com relação aos nossos avanços científicos e intelectuais, temos razões de sobra para permanecermos humildes, especialmente ao confrontarmos a vastidão do que não sabemos sobre o Universo e sobre nós mesmos.
Como escreveu o neurocientista David Eagleman, da Faculdade Baylor de Medicina: "Considere as inúmeras decisões políticas, as asserções dogmáticas e as declarações factuais que ouvimos todos os dias e imagine se todas tivessem um mínimo de humildade intelectual".
Na minha contribuição, abordo um tema que explorei em meu livro "Criação Imperfeita" (Ed. Record, 2010): como o progresso na astrobiologia e na cosmologia estão nos fazendo repensar a lição central do copernicanismo, a de que, quanto mais aprendemos sobre o Universo, menos importantes ficamos.
Ao contrário, quanto mais percebemos que a complexificação gradual da matéria ao longo da história cósmica -das partículas elementares à matéria viva- é produto de imperfeições, acidentes e assimetrias sem qualquer grande plano por trás dela, mais entendemos que somos um fenômeno único no Cosmos, criaturas raras, capazes de se questionar sobre o futuro.
Mesmo que outra inteligência exista em algum canto da galáxia, as distâncias interestelares agem como uma barreira que, ao menos pelas próximas gerações, é intransponível. A conscientização de nossa solidão cósmica e da raridade de nossa casa planetária nos leva (ou deveria levar) a uma nova relação com a vida. Está na hora de começarmos a celebrar nossa existência.
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