28 de fevereiro de 2012

No exterior, ensino a distância vive período excitante e nebuloso


Todas as grandes grifes internacionais do ensino superior já trabalham com EaD

27 de fevereiro de 2012 | 23h 45

Sergio Pompeu - Estadão.edu
No exterior, a educação a distância vive um período ao mesmo tempo excitante e nebuloso. Todas as grandes grifes internacionais do ensino superior, como Harvard, MIT, Yale, Columbia, Stanford, Oxford e Cambridge, trabalham com EaD. Mas nem sempre o conteúdo tem o formato de cursos que oferecem diploma (há muitas palestras e cursos livres) e rankings como o da revista americana US News and World Report costumam destacar instituições dedicadas apenas ao online, como a Walden University.
Filiada à rede Laureate (que controla instituições como a Anhembi Morumbi aqui), Walden tem 48,5 mil alunos de graduação e pós de 140 países, em 65 cursos e 330 especializações. Investidor e consultor da Filadélfia, Kevin Miles está fazendo o doutorado em Administração de Empresas da Walden. Diz que tanto o governo quanto grandes empresas reconhecem a qualidade do ensino da instituição, mas admite que há reservas no meio acadêmico.
“Na minha classe há funcionários do governo e de grandes corporações, como Intel e HP”, conta Miles. “Embora alguns acadêmicos afirmem que o diploma de uma universidade convencional vale mais, escolhi Walden por indicação do reitor de uma das escolas de negócios top dos Estados Unidos - graduado em Harvard.”
No mercado online, por sinal, a questão não é nem saber se os grandes players serão universidades só de EaD ou convencionais. Editoras, empresas de mídia e telefonia despontam como concorrentes.
“Pode acontecer com as escolas o mesmo que ocorreu com os fabricantes de celular. Acostumados a competir entre si, não previram que a concorrência viria do iPhone e do Blackberry”, diz o brasileiro Newton Campos, diretor de Admissões da escola espanhola de negócios IE, cujo International Executive foi considerado o melhor MBA a distância do mundo pela revista The Economist. Por causa do quadro descrito por Campos, uma empresa como a Nokia viu seu valor de mercado despencar de US$ 150 bilhões para US$ 20 bilhões. “Um banco pode reunir especialistas e criar um excelente MBA em Finanças. E quem não iria querer fazer um MBA de uma consultoria como a McKinsey?”
No mercado existe espaço até para “guerrilheiros” como o matemático americano Salman Khan. Formado no MIT, Khan, que começou a publicar aulas na web para ensinar seus sobrinhos, já tem um acervo de 2.700 vídeos sobre assuntos variados. Embora sua academia seja mais voltada para o ensino básico, nada impede que outros sigam a trilha, mais voltados para o ensino superior.
Um deles é Sebastian Thrun, especialista em Ciência da Computação que no mês passado abriu mão do cargo de professor titular de Stanford depois do sucesso de seu curso online sobre inteligência artificial, assistido por mais 160 mil alunos. Thrun criou a startup Udacity, para oferecer cursos online a baixo custo. Entre eles um concebido para ensinar pessoas sem experiência em programação a criar um mecanismo de busca, como o Google, para o qual a Udacity espera atrair 500 mil interessados.
Portais
Não faltam canais para revelar novos Khans e Thruns, como os portais iTunesU, da Apple, YouTube EDU, Fora.TV e Udemy. A questão é: como sustentar o negócio? Nem todos, como Khan, podem contar com o dinheiro de Bill Gates. “Há várias experiências interessantes, mas ninguém ainda tem ‘o modelo’”, diz Campos.
Entre essas experiências, Campos cita a Alison, um catálogo de cursos gratuitos online que tira sua receita de banners publicitários. E a Academic Earth, outra queridinha de Gates, que oferece 350 cursos e mais de 5 mil palestras de professores top da nata de universidades americanas sobre assuntos variados, da economia verde à Teoria de Jogos. Bancada inicialmente por professores-investidores, a Academic Earth foi vendida no ano passado para a Ampush Media, empresa de marketing que anunciou a intenção de criar uma rede social a partir do site como meio de alavancar receita.
A EaD não enfrenta, porém, só o desafio da economia. Um ponto em comum em experiências fracassadas foi a dificuldade de mudar o professor. Num vídeo publicado no mês passado, sobre suas previsões para o que será a educação em 2060, o próprio Khan chamou a atenção para a importância do novo professor, mais tutor e menos “dono” do conhecimento.
“Em seminários, todos os representantes de grandes escolas reclamam da dificuldade de atrair o professor para a EaD”, diz Campos. “O bom é que daqui a cinco, dez anos, muitos desses jovens que hoje reclamam do professor que proíbe o uso do iPhone na classe estarão dando aula. Vão mudar tudo.”

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