2 de outubro de 2012

Avanço social não é sustentável


A cada divulgação de indicadores sócio-econômicos, comemoram-se avanços no Brasil. Tem sido assim a partir do controle da inflação, no final da primeira metade da década de 90. Com o estancamento da perda acelerada de poder aquisitivo da moeda, os maiores beneficiados foram, e têm sido, os de renda mais baixa. Há, ainda, toda uma rede de transferência de renda armada nos últimos 15 anos.
Com a recente divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) referente a 2011, confirmou-se a tendência de avanços em indicadores sociais. O contingente de miseráveis, por exemplo, continua a encolher: menos 5,5% entre esta e a pesquisa anterior do IBGE, de 2009. Em números absolutos, 465 mil pessoas foram resgatadas do estágio de pobreza absoluta (renda mensal de até R$ 70 por pessoa). Com base na Pnad de 2008, Lula comemorou que sua administração havia conseguido antecipar a meta estabelecida para 2015, incluída nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, da ONU, de redução da miséria pela metade.
Mas a mesma pesquisa Pnad/2011 traz alertas sérios sobre a grande possibilidade de, cedo ou tarde, este cenário de aperfeiçoamento social inverter os sinais. O atestado de que nem tudo são vitórias é dado pela Educação.
* De 2009 para 2011, caiu de 85,2% para 83,7% a proporção de jovens entre 15 e 17 anos de idade em sala de aula. Equivale a 1,72 milhão de adolescentes, em idade de cursar o ensino médio, sem estudar. O fato de 16,3% da juventude brasileira estarem fora dos bancos escolares prenuncia um desastre para um país necessitado de mão de obra mais qualificada, de gente para gerar mais renda e emprego.
* O analfabetismo persiste. Não só nos mais velhos — informação conhecida —, mas também nos mais jovens: de 7 a 14 anos, há 1,4 milhão de analfabetos. Inadmissível. O país não demonstra ganhar a batalha da educação no ensino médio e volta a se descuidar dos primeiros anos do ciclo fundamental. Uma tragédia.
* Artigo do economista Naercio Menezes Filho, publicado no jornal “Valor”, fecha o foco na relação entre escolaridade e trabalho, e confirma a fuga dos jovens das escolas. Ao examinar dois períodos (1995-2003 e 2003-2011), Menezes Filho detecta uma tendência mais forte ao trabalho do que ao estudo. Desestímulo à frequência escolar, por problemas específicos da Educação no país, e alta remuneração em atividades que exigem menos qualificação explicariam o dramático fenômeno.
A situação é de emergência nacional, pois está provado que a maior contribuição à redução das desigualdades vem da renda do trabalho. Mas como a atual geração tende a ter problemas de qualificação, por falhas na instrução básica, em algum momento os avanços sociais estancarão, pela dificuldade de entrada no mercado de trabalho, em postos de maior remuneração, dos atuais jovens. Os governos precisam agir o quanto antes.

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