Folha de S.Paulo, 27/10/2012
Estatísticas de homicídios disparam em São Paulo, no mês de setembro, e precisam ser mais bem explicadas pelas autoridades do Estado
Setembro não trouxe notícias alvissareiras para São Paulo em matéria de estatísticas de segurança pública. Dados oficiais relativos ao mês passado indicaram uma elevação de 27% nos registros de homicídios dolosos no Estado, em relação ao mesmo mês de 2011.
Na capital, que tem um quarto da população paulista, o quadro é mais crítico. O aumento dos homicídios verificado em setembro foi de 96%, na comparação com esse mês do ano passado.
Nem tudo, porém, piorou. Apurou-se, por exemplo, significativa queda nos roubos de carga (23%). E caiu também a incidência de "outros roubos" (11%), quesito que exclui cargas e veículos.
Tais progressos, no entanto, não alteram a tendência de recrudescimento da violência em 2012. Se no Estado a piora tende a ser mais discreta, o mesmo não se aplica à capital. Com efeito, nos primeiros nove meses do ano, as ocorrências de homicídio cresceram 8% em âmbito estadual; já na cidade de São Paulo, constatou-se um salto de 22%. Bem menos que a cifra isolada de setembro (96%), mas ainda assim inquietante.
Os números demandam atenção. A drástica queda dos assassinatos na última década colocou São Paulo numa posição de destaque em plano nacional. A taxa de homicídios por grupo de 100 mil habitantes, que era de 35,27, em 1999, despencou para 10,8 em 2008.
Nos últimos quatro anos as ocorrências vêm se mantendo, com pequenas variações, no mesmo patamar. Por um lado, trata-se de uma conquista. As estatísticas indicam uma consolidação da queda dos assassinatos num patamar que, se ainda é alto para padrões de nações desenvolvidas, representa menos da metade da média nacional.
Pode-se, porém, observar com apreensão as dificuldades do governo do Estado em obter novas reduções, sinal de que os esforços na área precisam ser revigorados.
Tal impressão é acentuada pelo fato de os números da capital revelarem-se piores que os do Estado, num quadro de aparente acirramento do confronto, nela, entre a Polícia Militar e membros da principal facção criminosa, que atua no Estado todo.
Esse conflito, que já matou 70 policiais militares da ativa neste ano, tem sido minimizado pelas autoridades, que alertam para as "lendas" que se estariam criando em torno do crime organizado.
Entende-se que o governador Geraldo Alckmin e o secretário de Segurança, Antonio Ferreira Pinto, não queiram alarmar a população. Contudo, quando suas explicações soam fantasiosas, ou admitem interpretação como tolerância com abusos policiais, só fazem aumentar a sensação de insegurança.
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