Porém, isso não significa que ele cultive posições utópicas a respeito das possibilidades criadas pelo desenvolvimento das novas tecnologias. Para o pesquisador da chamada Cibercultura, a Internet dá aos cidadãos do mundo toda a chance de ampliarem sua participação nos campos político, econômico, social e cultural.
Mas ele próprio alerta que o fator técnico não será preponderante para que tais perspectivas se tornem realidade. Antes, é preciso que as pessoas mudem de atitude, umas em relação às outras. Precisamos aprender a trabalhar juntos , defende.
A imprensa internacional convencionou referir-se a Lévy como o filósofo francês . Esquecem-se de que ele nasceu na Tunísia, antiga colônia francesa na África, no ano de 1956. De origem judaica, o pesquisador trabalha desde 2002 no Canadá, país onde são falados dois idiomas oficiais, o inglês e o francês. Considerado uma figura pop no meio acadêmico, ele viaja o mundo todo ministrando palestras e aulas.
Pelas suas contas, já esteve no Brasil umas duas dúzias de vezes, pelo menos. Na semana que passou, ele teve a oportunidade de conhecer de perto as terras brancas de Bauru. Lévy foi a estrela maior do 3º Simpósio Internacional de Linguagens Educativas - Educação, Mídia e Cultura, promovido pela Universidade do Sagrado Coração (USC).
Quem acredita que a palavra estrela não seja a mais adequada para nos referirmos a um pesquisador acadêmico ficaria espantado ao ver a quantidade de pessoas que pediram para ser fotografadas ao lado do filósofo - inclusive jornalistas que estiveram na entrevista coletiva que ele concedeu à imprensa local, no Quality Suites Garden. Sou apenas um professor , defendeu-se Lévy, após a investida de mais um fã .
Durante a conversa com os jornalistas, o professor Lévy foi, de fato, apenas um professor. Fugiu de temas polêmicos e de assuntos relacionados à política global. Foi seco ao responder uma questão deste repórter, a respeito das tentativas do Irã de dominar a tecnologia nuclear.
O país do Oriente Médio tem sido criticado pelas potências da Europa e da América do Norte (a maioria delas, detentoras de milhares de ogivas nucleares), a ponto de ser considerado por alguns uma ameaça à paz mundial (se é que isso algum dia existiu). Esse assunto está fora de minhas competências. Não sou político. Sou apenas um professor , disse.
Nesse sentido, a postura de Lévy em nada lembrou a de seus engajados compatriotas, caso de Jean-Paul Sartre, defensor da ideia de que os intelectuais deveriam desempenhar um papel ativo na sociedade. Se não falou sobre ameaças de guerra ou de armas de destruição em massa, o pesquisador não poupou saliva ao se debruçar sobre as novas tecnologias da comunicação. Na opinião dele, nunca existiu tanto conhecimento online quanto nos dias atuais.
Quando digo online , refiro-me a conhecimentos disponíveis a todos aqueles que são capazes de ler e escrever, pois quem não tem acesso ao básico em educação não será capaz de acessar esses conteúdos , pensa. Ao falar sobre as possibilidades criadas pelas novas tecnologias, Lévy lembra que elas se manifestam inclusive no plano econômico.
Hoje em dia, qualquer jovem empreendedor pode iniciar um negócio pela Internet com pouco ou quase nenhum dinheiro , lembra. Mas, apenas para voltar à polêmica do Irã, será que aqueles que dominam a tecnologia de ponta estariam dispostos a compartilhar seu conhecimento com os pobres mortais ?
Eu não tenho as soluções para as mazelas do planeta. Possuo apenas métodos, e eles são baseados no princípio do Vamos trabalhar juntos . Vocês não deveriam falar em primeiro ou terceiro Mundo, pois, na essência, todos os países apresentam os mesmos problemas de desenvolvimento humano. Por isso, o melhor seria que colaborássemos uns com os outros, já que enfrentamos os mesmos dramas , disse.
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