26 de março de 2010

Valor Econômico | Brasil | SP
Meta ambiciosa depende de verbas adicionais, diz Haddad

Ruy Baron/Valor

Fernando Haddad: "Em 2004, investimos 3,9% do PIB em educação, hoje estamos em 4,7% nessa relação"
De São Paulo

Ao término da 1ª Conferência Nacional de Educação (Conae), no fim da semana que vem, caberá ao ministro da Educação, Fernando Haddad, organizar as deliberações dos participantes do encontro e encaminhá-las para aprovação no Congresso Nacional, que terá pelo menos seis meses para transformar em lei as metas apresentadas como diretrizes do Plano Nacional de Educação 2011-2020. Além disso, o MEC será responsável pelas negociações com os parlamentares, em pleno período eleitoral, para que não haja atrasos.

Na entrevista a seguir, Haddad fala que sua principal expectativa sobre a Conae é a criação de um Sistema Nacional de Educação nos moldes do Sistema Único de Saúde (SUS). O modelo prevê União, Estados e municípios atuando de forma integrada na aplicação de políticas públicas educacionais. O ministro também revela que o Brasil pode adotar metas ambiciosas com relação ao aumento dos investimentos na educação pública, mas é preciso que os delegados da Conae indiquem fontes de recursos adicionais. Haddad também conta que o MEC vai priorizar a destinação de recursos federais para creches, ensino profissionalizante e convênios com municípios com planejamento acompanhado pela pasta - o chamado PAR.

Valor: O que o MEC espera da Conae?

Fernando Haddad: A conferência deve centrar atenções na proposta de um sistema nacional articulado. A educação não tem um SUS [Sistema Único de Saúde], um modelo colaborativo bem resolvido que preserve a autonomia dos entes federados e congregue esforços em proveito da qualidade. Temos vantagens para avançar nisso: criamos um sistema nacional de avaliação, que contempla meta por escola, rede e unidade federativa; no que diz respeito à formação de professores, garantimos o direito de acesso à universidade pública e de financiamento com quitação automática pelo mero exercício profissional; e o Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica]. Além disso, tem a questão do financiamento. Em 2004, investimos 3,9% do PIB em educação, hoje estamos em 4,7% nessa relação. O país parece ter despertado para essa agenda. Esse aumento não é um esforço só da União, mas foi a parte que mais avançou e ajudou a aliviar a tensão federativa, com distribuição de recursos federais pelo Fundeb pelos convênios do PAR [Plano de Ações Articuladas].

Valor: A Conae deve aprovar uma proposta de ampliação do investimento público em educação para 10% do PIB até 2014, meta que vira lei se aprovada. Como o MEC vai trabalhar para trazer mais dinheiro para o setor?

Haddad: De 2004 a 2008 o investimento público direto em educação avançou 0,2% do PIB ao ano. Essa gradualidade tem a vantagem de conseguir planejar o investimento sem desperdício de recursos. Estamos num momento de acelerar esse ritmo até atingir patamar mínimo de 6% do PIB, uma recomendação da Unesco [Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura].

Valor: 10% do PIB até 2014 é factível?

Haddad: Quando o aumento do investimento na educação foi vetado no PNE atual, o governo Fernando Henrique sustentou a tese de que o dispositivo contrariaria a Lei de Responsabilidade Fiscal. Agora, fazer constar meta de investimento em proporção do PIB é constitucional, é um dever. A meta que for estabelecida pela Conae e aprovada pelo Congresso Nacional terá de ser perseguida, mas trata-se de uma meta, algo que se persegue, pode-se responder no futuro por não tê-la atingido.

Valor: Uma das dificuldades para incrementar as verbas para a educação é a definição de fontes de recursos, saber de onde vai sair o dinheiro. Como lidar com isso?

Haddad: Defendemos que a Conae estabeleça diretrizes para que o futuro contemple metas quantitativas e qualitativas. A conferência tem de indicar inclusive as fontes de recursos adicionais, não só estabelecer metas quantitativas, erro cometido com a formulação do plano que está em vigor hoje.

Valor: Algum aceno sobre como o governo vai utilizar os R$ 9 bilhões excedentes da DRU em 2010? Alguma área terá prioridade?

Haddad: Os programas Pró-Infância, Brasil Profissionalizado e Plano de Ações Articuladas. (LM)

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