8 de agosto de 2011

Quando o transporte para um curso superior é o avião



08 de agosto de 2011
Educação e Ciências | O Globo | O País | BR





Número de brasileiros estudando em universidades e faculdades fora cresceu 14% em um ano

Marcelle Ribeiro marcelle@sp.oglobo.com.br

SÃO PAULO. Cada vez mais brasileiros estão pegando um voo internacional para ir à universidade. Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que o número de brasileiros de nível superior estudando fora cresceu 14% em apenas um ano. Segundo o relatório "Education at a glance" de 2010, foram 27.571 em 2008, contra 24.157 em 2007. Em 2000, esse número era de 11 mil. Os países para os quais o Brasil mais manda universitários são Estados Unidos, França, Portugal, Espanha e Alemanha, segundo a OCDE.
O número de estudantes que têm conseguido bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação, aumentou 23% nos últimos cinco anos. Ano passado, 4.900 brasileiros foram fazer graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado ou estágio no exterior, com bolsas de US$870 a US$2.300, além de auxílio-instalação e seguro-saúde. Eles foram principalmente para Estados Unidos, França e Portugal. Em 2006, eram 3.965 bolsistas.
Capes terá mais 75 mil bolsas
Já o número de bolsas para o exterior concedidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério de Ciência e Tecnologia, caiu nos últimos anos: em 2010, foram 437; no ano anterior, eram 579.
A divulgação, em julho, de que a Capes e o CNPq concederão 75 mil bolsas de estudo no exterior deve aumentar ainda mais a presença de brasileiros em centros de excelência em pesquisa e ensino do mundo.
Mas hoje muitos não esperam bolsas para realizar o sonho de estudar fora. Após fazer graduação em Ciências da Computação na Universidade Federal da Bahia (UFBA), o baiano Bruno Guimarães Sousa, de 24 anos, inscreveu-se para cursar mestrado em universidades do Canadá. Enquanto esperava o resultado da seleção, começou a fazer mestrado numa faculdade privada da Bahia. Porém, meses depois, foi aprovado para um mestrado em Ciência da Computação na Universidade de Western Ontario.
- A vantagem de estudar fora é pôr em prática o estudo do inglês também. A Unifacs (universidade privada da Bahia onde cursava mestrado) é boa, mas não tem reconhecimento internacional. Estou indo para uma universidade que é reconhecida - diz Bruno, que arcará com o custo total de US$8.500 pelos estudos no Canadá.
Há quem consiga bolsas concedidas pela universidade estrangeira escolhida. Foi o caso do carioca André Penna, de 22 anos, que desde 2010 faz graduação em Administração na Universidade Lindenwood, nos EUA. Ele espera que a experiência lhe renda boas oportunidades profissionais.
- A minha faculdade é maravilhosa, tem estrutura que não se encontra no Brasil. Todas as salas têm computador, tem mais de dez laboratórios de informática e uma grande estrutura de esportes. Pretendo voltar com um currículo bom para trabalhar, acho que vai fazer diferença no Brasil - diz André.
Robert Pascal Gerbauld Catalão, de 29 anos, já se formou em Educação Física na Universidade do Estado do Rio (Uerj) e fará uma segunda graduação, em Negócios, na Alemanha. Após visitar várias universidades no país, ficou impressionado com o alto investimento para pesquisas na Alemanha.
- Estruturalmente, as universidades na Alemanha são melhores do que as do Brasil. Na Uerj, muitas vezes faltavam portas nos banheiros e giz nas salas. Não há bandejão, que é uma grande ajuda para os alunos com pouco dinheiro, e as bolsas de graduandos são escassas e magras - diz Robert.
Há várias razões para esse interesse em ir para o exterior.
- Um dos fatores é a confiança que o brasileiro tem na economia. Você tem mais condição de planejar a longo prazo. A economia está estável, estamos com um dólar bem mais acessível - diz Maura Leão, presidente da Associação Brasileira de Organizadores de Viagens Educacionais e Culturais (Belta).
Para Lia Faria, diretora da Faculdade de Educação da Uerj, a busca de estudos no exterior ajuda os alunos na hora de procurarem emprego:
- O mundo de hoje é plural. O próprio mercado de trabalho é mais competitivo e acaba levando as pessoas a buscar garantir um diferencial em relação aos que permanecem no país. Quem não tem curso no exterior fica em desvantagem.
Ao conceder bolsas de estudos no exterior, o governo espera que os alunos retornem, trazendo o conhecimento adquirido. Mas nem sempre isso ocorre. O CNPq estima que 3% dos 437 beneficiados por bolsas em 2010 não voltaram. Assim, ficam obrigados a devolver o dinheiro que receberam do governo.
Em alguns casos, o governo tem que entrar na Justiça para reaver o investimento. Há pesquisadores que devem cerca de R$300 mil ao CNPq. Na Capes, entre 2002 e o primeiro semestre de 2009, foram identificadas irregularidades em 44 bolsas. São casos de estudantes que não retornaram, não ficaram tempo suficiente no Brasil ou não concluíram o curso.

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