14 de agosto de 2011

Redes virtuais saem à rua para provar "ativismo real"



Jovens criam projetos de inclusão e cobram transparência do poder público

Comunidade conseguiu R$ 60 mil para ônibus que vai percorrer o interior do Brasil só divulgando tecnologia

REYNALDO TUROLLO JR.
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Aos que previam que a era digital isolaria indivíduos fisicamente, eles respondem com encontros quase diários regados a cerveja e petiscos para discutir tecnologia.
Eles fazem parte de um número crescente de pessoas com perfis variados que se autointitulam hackers -não confundir com invasores de sites- e que alugam prédios, fundam clubes e até compram ônibus para levar até a periferia a tecnologia como ferramenta de ação política.
O que os move é a curiosidade e o desejo por governos mais transparentes. O dinheiro vem do financiamento colaborativo, uma nova versão do velho rateio.
No porão de um castelinho dos anos 1930 na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, 15 jovens fundaram o primeiro "hackerspace" do Brasil, o Garoa Hacker Clube.
"É um espaço onde os hackers mandam, para ter autonomia de criação", explica o engenheiro Rodrigo Rodrigues da Silva, 25, o Pitanga.
Um exemplo do que eles fazem ali é o trabalho de Felipe Sanches, 27, o Juca, que desenvolve softwares livres.
Eles explicam que nada têm a ver com a invasões de sites. No Brasil, a maior onda de ataques ocorreu em junho quando nem o e-mail da presidente Dilma foi poupado.
Os "hackers ativistas" questionam essas ações, negam participar delas e dizem que isso não é "hacking", por não trazer nada de novo -princípio fundamental que os une.

TRANSPARÊNCIA
Nos cômodos acima do Garoa está a Casa da Cultura Digital, que agrupa ONGs, empresas e indivíduos. Por dia, chegam a passar pela casa mais de 50 pessoas.
Muitas são da Transparência Hacker, comunidade que cria ferramentas para divulgar dados já tornados públicos pelo governo -e que tirariam o sono de um leigo que tentasse entendê-los por meio dos sites oficiais.
O grupo também colaborou com a implantação do sistema que abre para o público os contratos e os gastos da Câmara paulistana.
Em julho, essa turma arrecadou, por meio do Catarse, site de financiamento colaborativo, R$ 60 mil para o projeto do Ônibus Hacker.
Foram 500 doações para o projeto que vai rodar o país mostrando o que é possível fazer com a tecnologia.
Em São Miguel Paulista (zona leste), o engenheiro Leandro Teixeira, 35, o Latex, está criando outro "hackerspace". Em Campinas (a 93 km de SP), a fundação do Laboratório Hacker de Campinas também está adiantada.

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