27 de outubro de 2011

Wanda Engel: O voluntariado e os desafios da educação


27 de outubro de 2011
Educação no Brasil | Correio Braziliense | Opinião | BR




»WANDA ENGEL
Superintendente-executiva do Instituto Unibanco

Dando sequência às propostas advindas do Ano Internacional do Voluntariado (AIV), ocorrido em 2001, a ONU lançou este ano o AIV%2b10, com vista a identificar e consolidar os avanços do tema nesta década. No Brasil, temos muito a comemorar. Apesar de existir desde os primórdios de nossa história, o trabalho voluntário esteve, durante muito tempo, fortemente associado à religião ou à assistência, sendo comumente considerado "coisa de beata, de dondoca ou de gringo".
Sem dúvida, já na década anterior, o voluntariado vinha mudando seu significado social ao incorporar-se às ideias de cidadania e responsabilidade social tanto individual quanto corporativa. À noção de mérito, parte essencial de toda ação voluntária, vinha-se associando o desejo de investir tempo, dinheiro ou expertise, para efetivamente promover uma transformação mais consistente das condições de vida dos grupos mais vulneráveis. Ou seja, nas últimas décadas se consolida a vontade de contribuir, de forma mais relevante, para a construção de uma sociedade mais justa.
Nesse sentido, coloca-se a questão de como tornar uma contribuição voluntária mais efetiva no enfrentamento dos desafios da sociedade brasileira. Partindo-se da premissa de que nosso maior problema ainda é o alto nível de desigualdade da população e que o mais importante fator de desigualdade é o diferencial de educação, tanto em termos de nível de escolaridade quanto de qualidade da oferta, parece lógico que o mais efetivo campo de atuação do voluntariado deva ser a escola.
Se quiséssemos focalizar ainda mais nossa análise, teríamos de identificar, dentro do campo da educação, qual o mais urgente desafio a ser enfrentado. A resposta seria o ensino médio. Apesar de ter ainda de equacionar a questão da qualidade, o ensino fundamental já conseguiu praticamente universalizar sua oferta. Já o ensino médio enfrenta problemas de toda ordem: cobertura (apenas 50% dos jovens entre 15 e 17 anos lá se encontram), permanência e conclusão (de 10 alunos que se matriculam na primeira série, apenas cinco concluem o curso). Como o diploma desse nível é indispensável para a entrada no moderno mercado de trabalho, estamos perdendo a maior parte das novas gerações para o desemprego e contribuindo para a reprodução da pobreza. Como quebrar esse ciclo? Investindo no acesso, na permanência e na conclusão dos estudos básicos.
Mas por que os jovens desistem? Segundo pesquisa da FGV, a principal causa é o desinteresse, que pode estar ligado à baixa qualidade da escola, mas também a certa miopia que impede o jovem de perceber o impacto do abandono escolar em seu futuro. Normalmente, esse jovem, primeira geração de uma família pobre a galgar esse nível de ensino, não conta com referências em relação a um caminho educação-trabalho mais exitoso. A existência de mentores voluntários que, por meio de conversas mais pontuais ou de um verdadeiro trabalho de mentoria, pudessem defender a ideia de que "estudar vale a pena", poderia fazer uma real diferença na decisão de o jovem permanecer e concluir seus estudos.
Os programas Estudar Vale a Pena e Mentoria Jovem, desenvolvidos por voluntários do Itaú-Unibanco, caminham nesse sentido. No primeiro, um grupo de três voluntários atua em uma turma de ensino médio público e, por meio de jogos e conversas, busca convencer os jovens da importância de terminar o ensino básico. No segundo, voluntários atuam como mentores de jovens alunos, compartilhando sua experiência educacional e profissional, além de orientá-los a estabelecer um projeto de vida, na busca de melhores perspectivas de futuro.
Um caso marcante ocorreu com um jovem que solicitou ao voluntário um presente especial. Tratava-se da gravata, símbolo para ele de um invejável emprego formal. De posse de seu "objeto de desejo", fez uma contundente promessa: pode ter a certeza de que eu ainda vou usar isso um dia!
Ambas as experiências têm demonstrado efetivo impacto na diminuição do abandono. A grande satisfação dos voluntários, além do prazer inerente ao próprio ato de ajudar outro ser humano, deve-se à consciência de estar dando uma efetiva contribuição no enfrentamento de um problema crucial que afeta não só o futuro de nossa juventude como também o desenvolvimento sustentável do país.

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