Artigo de Eloi S. Garcia enviado ao JC Email pelo autor.
O setor produtivo brasileiro ainda está engatinhando na cultura da inovação. Temos poucos exemplos de Universidades e Institutos de Pesquisa que atraem o empresariado nacional, em busca de pesquisa, processos e projetos inovadores e rentáveis para o mercado. Nosso sistema de inovação é frágil por sua estrutura empresarial e pela capacitação setorial, dominadas geralmente por empresas grandes, que fazem o desenvolvimento tecnológico fora do país. Sem empresas não há inovação.
Há muitas formas de considerar a inovação. Inovar não é somente utilizar a alta tecnologia. Às vezes uma nova interpretação de algo antigo ou o uso de um método velho de maneira inteligente são mais inovadores que um novo material ou uma tecnologia sofisticada. Inovar é também a capacidade de colocar um produto já conhecido, tornando-o de qualidade melhor e mais barato do que o original e aceito pelo comercio. Inovar é desenvolver novos produtos e processos a capacidade de chegar a um futuro planejado de maneira clara e produtiva. Inovar não é uma alternativa, é o caminho. Assim, o conceito de inovação deve ser ampliado, utilizando-se tanto para a inovação empresarial como a inovação social. Se mudar a cultura e desenvolver a criatividade surgirão caminhos alternativos para a evolução do setor.
A inovação, medida pela passagem da invenção de certo produto, sua inovação e utilização, tem sido cada dia mais rápida. A bateria de carro foi descoberta em 1780 e utilizada em 1859; a lâmpada foi descoberta em 1802 e passou a ser útil para a humanidade em 1873; o zíper (que usamos em nossas roupas) foi descoberto em 1891 e utilizado em 1923; Santos Dumont voou pela primeira vez no 14 bis em 1906 e em 1969, Armstrong pisou na lua; a penicilina foi descoberta em 1922 e sua utilização começou em 1941, durante a segunda guerra mundial; o transistor for descoberto em 1940, e passou a ser um bem para a humanidade em 1950; e agora, o coquetel para tratamento da AIDS que em poucos meses passou a ser útil para a sociedade. Este é o mundo em que vivemos, este é o planeta que temos que compreender.
O bom entendedor sabe que a inovação não é espontânea, não nasce do nada. Somos um país rico em cérebros, mas que não tem a cultura e a tradição de levar os descobrimentos ao mundo das empresas. Os temores e suspeitas nos levam a pensar de que criar uma empresa inovadora é muito difícil. Inovação também é risco. Mas algumas empresas de inovação interpretam a crise como uma oportunidade. Para que nosso País tenha uma economia sustentável e seja forte e internacionalizada, devemos alcançar uma balança tecnológica positiva baseada na inovação e no conhecimento e que seja capaz de atrair, reter talentos e gerar empregados de alto valor agregado.
A inovação requer uma estratégia política de Estado, e não de Governo. Esta política envolve a área de educação, a ciência e tecnologia, a indústria e o comércio, a relação público-privado, um forte planejamento que permita estabelecer as "regras do jogo" para os anos vindouros e fomente a produtividade. Esta estratégia da inovação deverá afetar numerosos elementos da sociedade entre os quais se podem citar: a percepção social da inovação, a valorização do êxito empresarial-tecnológico, a valorização do fracasso para não inibir as novas ideias e os mecanismos de defesa da propriedade intelectual. Sem estes pontos não haverá inovação.
Eloi S. Garcia, ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), é pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), assessor da Presidência do Inmetro, e membro da Academia Brasileira de Ciências.
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