28 de outubro de 2011

Escola: Ambiente seguro?

Correio Brasiliense
28 de outubro de 2011
A violência é, infelizmente, uma realidade dentro de escolas. Trabalho conjunto entre educadores e família, além de políticas públicas eficientes, pode ser solução


Cecilia Pinto Coelho
A tragédia que ocorreu em Realengo, no Rio de Janeiro, no início deste ano, trouxe à tona um problema antigo: a violência que atinge as escolas. Tanto em colégios públicos quanto em particulares são comuns situações de furtos, agressões, ameaças e bullying.
O estudo Revelando traumas, descobrindo segredos: violência e convivência nas escolas, coordenado pela socióloga Miriam Abramovay, mostra que 33,4% dos alunos entrevistados acreditam que os colegas humilham os outros e 29,3% afirmaram que alguns agridem fisicamente demais estudantes.
Quando perguntados sobre o comportamento da maioria dos amigos, quase metade (47,2%) considera que seus colegas zoam e debocham dos outros muito ou sempre. Participaram da pesquisa 9.937 alunos e 1.330 professores das quatorze regionais de ensino da rede pública do Distrito Federal.
De acordo com a promotora de Justiça de Defesa da Educação (Proeduc), Márcia Pereira da Rocha, os tipos de violência mais comuns são lesão corporal, posse de substância entorpecente, dano ao patrimônio, ameaças e furtos. "Creio que há um crescente de casos de violência. Mas o mais grave não é o número de ocorrências, mas a percepção que as pessoas têm de que a insegurança está em toda parte e de que elas estão vulneráveis", afirma a promotora.
Márcia aponta ainda possíveis soluções, que envolveriam tanto a participação da família quanto a implementação de políticas públicas eficientes. "É preciso trabalhar com a capacitação de seus profissionais, desde o porteiro até o professor", diz. "É importante porque pode impedir que várias ações tomem gravidade maior", completa.
Ela salienta que a família também é responsável pela educação e que deve trabalhar em conjunto com a escola para prevenir ocorrências violentas. "Quando a escola chama e quer a participação dos pais, ela tem que entender que, se negar, ela está fechando olhos para realidade que depois pode ficar muito mais grave."
Hostilidade
O estudante brasiliense Pedro Henrique Eller Gonzaga, 15 anos, está no 9º ano de um colégio particular. Já se acostumou a presenciar, pelo menos uma vez por semana, cena de empurra-empurra, que geralmente ocorre na hora do recreio ou quando o professor está ausente. No início do ano, se viu no meio da confusão.
"Foi bem rápido, mas se você não sair, você leva. Tem um aluno que incentiva os outros a bater e, quando a briga começa, ele vai embora. Se ele ficar, faz piadinha, faz fofoca", lembra o jovem. "Se você contar para educadores ou para a família, piora. O melhor é não deixar isso acontecer, evitar essas pessoas e ficar longe", avalia.
Para a professora da Universidade Estadual de Campinas Áurea Maria Guimarães, uma das soluções é que o aluno participe na elaboração e na avaliação do projeto pedagógico da escola. "Uma gestão democrática demora para ser construída, porque implica na participação de toda a sociedade, implica em condições de trabalho efetivas para que isto ocorra. Trata-se de oferecer aos estudantes a possibilidade de os alunos frequentarem a escola sem deixar de problematizar os conflitos, sem deixar de articular esses conflitos com a cultura vivida dos alunos, dos educadores, com o currículo", avalia Áurea que também é coordenadora do Laboratório de Estudos sobre Violência, Imaginário e Juventude (grupo Violar) do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Unicamp.
"O currículo é aqui entendido numa perspectiva muito mais ampla, ou seja, que não abre mão dos conteúdos, mas que também é concebido como um campo construído a partir das lutas sociais, das relações de poder que se disseminam por toda a sociedade", completa.
Soluções
Além dos problemas de convívio, há ocorrências mais corriqueiras, como os furtos, diante das quais muitas escolas tomam medidas preventivas. "Nós fazemos o controle de acesso das pessoas, por meio de roleta e por meio do cadastro de pessoas. Há também um sistema online no qual é possível ver se o menino está dentro escola. ", conta o diretor de um colégio particular, Reginaldo Loureiro. "Nossa preocupação maior é com segurança, atuamos como observadores, mas não temos poder de polícia, isso é responsabilidade do Estado", completa.
Em outro centro educacional em Taguatinga, além de medidas de identificação e de câmeras, há ações de prevenção de bullying. "Temos orientadores que atendem pais e alunos", comenta a diretora pedagógica da unidade, Solange Foizer. Nessa mesma escola, há também preocupação com primeiros socorros para os estudantes. "Nossa intenção é prevenir acidente, atender situação de emergência, estabilizar a pessoa, deixar boas condições e preparar a recepção para o socorro avançado", conta o instrutor Luciano Gallo, que se capacitou na instituição norte americana, National Safety Council (NSC).
Massacre na escola
O 7 de abril deste ano ficou marcado por um massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio. O atirador Wellington Menezes, ex-aluno do colégio, matou 12 crianças e feriu mais 10 estudantes.
Duas perguntas para ....
Áurea Maria Guimarães, coordenadora do Laboratório de Estudos sobre Violência, Imaginário e Juventude (grupo Violar) do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Unicamp.
Como os pais podem orientar os filhos em casos de violência?
Percorrendo as escolas por conta das minhas pesquisas, das orientações de estágio, acabo conhecendo situações nas quais percebo que a atuação das famílias influencia, mas não determina o comportamento das crianças e dos jovens que frequentam as escolas. A relação com os amigos, as relações virtuais, estas sim, são importantes para eles.
Alguns educadores se referem ao excesso de liberdade que os pais dão aos jovens. Isso pode gerar um comportamento de "pode tudo"?
Existem jovens que dispõem de recursos materiais, que recebem uma educação extremamente permissiva e que são formados segundo os valores narcísicos de seus pais. Outros jovens não respeitam ninguém porque já se sentem perdedores diante da "necessidade" de subir na vida. Se o código que a sociedade me ensina é ser um vencedor, não importando se os meios usados são lícitos ou ilícitos, por que tenho de respeitar a dignidade dos outros, dos pais, dos professores, das autoridades? Os jovens "fazem o que querem" ou estão capturados por uma subjetividade construída segundo os códigos vigentes? Por outro lado, conheço escolas, localizadas na periferia da cidade, onde as mães cuidam dos seus filhos, acompanham suas atividades, interferem quando é preciso, ajudam os professores quando a escola oferece essa possibilidade.

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