21 de janeiro de 2012

Avançando aos poucos A taxa de homicí­dios cai no Rio de Janeiro e em São Paulo – mas continua alta no Nordeste

REDAÇÃO ÉPOCA

Muitos brasileiros têm a impressão de que já viveram num país mais seguro, com violência controlada. Eles têm razão. Em 1980, a taxa de mortes por homicídio no país era de 11,7 por 1.000 habitantes. O índice atual é de 26,7 por 1.000. São 49.900 vidas perdidas por ano. Mas há sinais de melhora nessa situação. A partir de 2003, os homicídios entraram numa queda anual de 1,4% no país inteiro. Capitais que já foram campeãs nessa forma de violência apresentam quedas espetaculares. Na cidade de São Paulo, a queda foi de 78,4% e no Rio de Janeiro de 53,7%.

Reunidos no Mapa da Violência 2012, coordenado por Julio Jacob Waiselfisz, uma das principais autoridades no assunto, os dados apontam novidades de relevo e desmentem lendas que pareciam ter valor científico. O levantamento mostra que os homicídios mudaram de lugar. Se houve uma queda imensa no Sudeste, ocorreu um salto chocante no Nordeste. O aumento foi de 371,1% em Salvador e 295% em São Luís. Em oitavo lugar na lista das mais violentas há dez anos, Maceió encontra-se agora em primeiro lugar. Pelos números atuais, São Paulo tem o mais baixo índice entre as capitais do país. Era o quarto mais alto, há dez anos. O Rio de Janeiro era o sexto colocado entre os lugares mais violentos. Agora é o 23º. Estudos mostram que as metrópoles do mundo inteiro conseguem reverter a escalada da violência depois que a situação social melhora e a polícia aprende a lidar com os criminosos locais. Rio de Janeiro e São Paulo, felizmente, parecem ter entrado na descendente dessa curva sinistra.

Esse raciocínio faz sentido quando se examina o caso do Nordeste. Lá, como no país inteiro, a situação social melhorou. A polícia, no entanto, não aprendeu a lidar com os criminosos que vieram de outras partes do país. Sempre em busca de clientes para seus produtos, quase sempre ligados ao narcotráfico, o crime organizado acompanha os movimentos da renda disponível e ganha musculatura onde não há forte resistência da polícia.

Enquanto isso, após anos de muitas derrotas, o Sudeste mostrou notáveis progressos na área. No Rio de Janeiro, o esforço incluiu uma medida crucial, a construção das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que libertaram territórios aprisionados pelo crime. Alguns estudiosos da violência estão convencidos de que a queda acentuada nos homicídios de São Paulo deve-se a dois fatores combinados. O primeiro, positivo, é que a polícia aperfeiçoou seu trabalho – e, investindo cada vez mais em investigações baseadas em métodos de infiltração, escuta telefônica e outras ações de inteligência, conseguiu vitórias importantes. O outro fator é preocupante. A queda na taxa de homicídios – que não foi acompanhada pela redução de outros crimes relacionados – pode estar relacionada a um estado conhecido como “paz mafiosa,” em que os próprios criminosos se organizam para impedir crimes prejudiciais a seus negócios.

Se as vitórias obtidas no Sudeste merecem comemoração, a alta de homicídios no Nordeste precisa tornar-se prioridade estadual e federal. Apesar da melhoria recente, o Sudeste paga um alto preço porque esperou tempo demais para confrontar o crime organizado. Não há motivo para repetir o erro.

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