25 de janeiro de 2012

Crack: 90% aprovam internação involuntária



Datafolha mostra que, para maioria, viciados em crack devem ser internados para tratamento mesmo que não queiram
Conselho Federal de Psicologia é contra a medida, mas alguns a defendem para casos agudos de vício
VAGUINALDO MARINHEIRO
DE SÃO PAULO
É quase uma unanimidade: 9 em cada 10 brasileiros acham que os viciados em crack devem ser internados para tratamento mesmo que não queiram. É o que mostra pesquisa nacional do Datafolha feita na semana passada.
Questionados se um adulto dependente de crack deveria ser internado para tratar seu vício mesmo contra a vontade, 90% dos entrevistados disseram que sim.
A concordância é praticamente a mesma entre homens e mulheres e em todas as faixas etárias. Cai um pouco entre os moradores do Sul (86%), os que têm ensino superior (84%) ou renda acima de dez mínimos (79%).
A chamada internação involuntária (feita à revelia do paciente/viciado) é prevista na lei 10.216, de 2001, que trata de doentes mentais.
Ela exige a recomendação de um médico e que seja comunicado o Ministério Público em até 72 horas, para que se evitem abusos.
O tema voltou a criar polêmica com o lançamento, em dezembro, do plano federal de combate ao crack e com a ação da PM na cracolândia, iniciada no dia 3 pelo governo do Estado de São Paulo.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, defendeu a internação involuntária dos craqueiros. Ganhou o apoio de alguns psiquiatras e o repúdio de psicólogos.
O psiquiatra Marcelo Ribeiro, professor na Unifesp e um dos organizadores do livro "O Tratamento do Usuário do Crack", diz que a internação involuntária deve ser considerada para os que estão numa fase aguda do vício, quando o drogado perde a capacidade de escolher se deixa ou não o consumo do crack, e é o primeiro passo para que o viciado recupere a condição de analisar a própria vida.
"[A medida] Deve durar de duas a quatro semanas. Aí ela recebe alta e é encaminhada para um tratamento de longa duração, que será conduzido se o viciado concordar."
Já o Conselho Federal de Psicologia é contra.
O presidente do órgão, Humberto Verona, diz que a internação involuntária não pode ser vista como sinônimo de tratamento.
"O que querem fazer é apenas uma limpeza das ruas. Essas internações são, muitas vezes, pura privação da liberdade ou uma forma de aplacar a culpa das famílias dos viciados", afirma.
Para Verona, a maioria da população apoia a medida por ter a ilusão de que, feita a internação, o problema do drogado está resolvido.
DIREITOS
Outro argumento dos que discordam da internação sem o consentimento dos doentes é que os direitos deles estariam sendo violados.
Cid Vieira de Souza Filho, da Comissão de Estudos sobre Educação e Prevenção de Drogas e Afins da OAB-SP rebate. Para ele, o que se vê nas cracolândias são pessoas que atentam contra a própria vida e a dos outros.
"Nesses casos, o Estado deve agir de forma enérgica para garantir a vida."
Apesar de divergências, todos concordam num ponto: a adesão voluntária a um tratamento de longo prazo é essencial para que o viciado ao menos retome uma vida familiar e profissional.
O Datafolha ouviu 2.575 pessoas em 159 cidades. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

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