24 de janeiro de 2012
Jornal do Commercio PE | PE
Chacinas, assaltos a bancos, explosão de caixas eletrônicos, roubos de carros, furtos em ônibus, invasões de prédios, grades e cadeados nas escolas e o temor visível nas ruas, onde as casas e prédios são protegidos como fortalezas e automóveis passam blindados contra o perigo armado nos semáforos. A população da capital pernambucana tem convivido com um cotidiano estressante, indigno de uma das mais importantes metrópoles do Nordeste. Mesmo assim, apesar do susto do cidadão não ser mais novidade, e sim, infelizmente, rotina, foi com preocupação que recebemos a notícia de que o Recife ocupa uma posição nada lisonjeira no ranking de violência planetária: estamos em 32º lugar, numa lista que traz 14 cidades brasileiras entre as 50 maiores taxas de homicídios no mundo. Estamos piores do que Fortaleza, Macapá, Curitiba, Goiânia e Belo Horizonte. Das 50, 40 se encontram na América Latina, o que reflete uma realidade social que contradiz, em parte, o desenvolvimento econômico obtido pelas nações da região.
Os números assustadores saltaram da frieza estatística em pesquisa realizada pela ONG mexicana Conselho Cidadão para a Segurança Pública e Justiça Penal. Maceió é a terceira do ranking, liderando os homicídios no País, com 135 mortes para cada 100 mil habitantes. A capital alagoana perde apenas para Ciudad Juarez, no México, com 147 por 100 mil, e San Pedro Sula, em Honduras, com 158 por 100 mil. O índice recifense chega a 48 homicídios para cada 100 mil pessoas, comparável aos de Cuiabá, João Pessoa, São Luís e Manaus. Um pouco atrás de Maceió aparecem as capitais do Pará, do Espírito Santo e da Bahia. Belém apresenta uma taxa de 78 mortes por 100 mil e ocupa o décimo lugar do ranking mexicano. Vitória está em décimo sétimo (67/100 mil) e Salvador, em vigésimo segundo (56/100 mil).
Por incrível que pareça, o resultado da pesquisa foi considerado positivo pelo secretário de Defesa Social de Pernambuco, Wilson Damázio, para quem a nona posição nacional deve ser vista como avanço para uma cidade que já foi a campeã brasileira da violência. Entre 2000 e 2010, o Estado saiu da primeira posição para a quarta no ranking nacional, reduzindo a taxa de 54 para 38 por 100 mil, segundo pesquisa do Instituto Sangari divulgada no último mês de dezembro. Nesta lista, o Recife aparece como a quarta capital mais violenta, com 57 mortes por 100 mil. Damázio explica que a alimentação dos dados leva em conta os falecimentos ocorridos aqui, mesmo que os crimes tenham sido perpetrados em outros lugares. E isso termina empurrando a estatística de homicídios para cima. Seja como for, os cadáveres contabilizados expõem os limites do Pacto pela Vida, programa integrado do governo estadual que merece todos os elogios, mas carece de resultados que se traduzam em tranquilidade para a população.
O quadro de violência no Recife ainda é inaceitável. E ilustra um cenário de conflito urbano que fez com que o Brasil dobrasse, entre 1980 e 2010, o índice de homicídios, produzindo mais vítimas do que muitas guerras em curso no planeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário