Físico, diretor-geral da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec) e pró-reitor de Extensão do Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo)
Um tema recorrente em nossa política de desenvolvimento é o entendimento do papel que exerce a universidade na geração das inovações de que nossa indústria manufatureira necessita para ser competitiva e, assim, ser um player efetivo no comércio mundial. Ciclicamente ouve-se falar em transformar a ciência, de padrão internacional, criada em nossas universidades,em inovações tecnológicas agregando valor a produtos e processos. Há até os que afirmam que essa não transformação de ciência em tecnologia seria uma deficiência das nossas indústrias e dos empresários, que teriam falta de cultura e aversão ao risco.
Será mesmo que esse processo tão linear, e aparentemente tão simples e óbvio, seja o que nos falta para nos tornarmos uma economia competitiva? Afinal, o próprio CNPq foi criado há 60 anos com a motivação de desenvolvermos uma ciência nuclear e transferi-la para a indústria, mas ainda estamos buscando fazê-lo. É assim também em todas as áreas de excelência da nossa ciência.
Mas, afinal, o que há de errado com esse conceito alimentado pelo nosso senso comum? É que essa linearidade é inexistente. Ao contrário, o processo de geração de inovações e sua agregação a produtos e processos provém de outra motivação: a solicitação, o desejo dos consumidores e usuários do produto.
Do mercado, enfim.
A própria etimologia da palavra inovação (in novatio) significa agregar algo novo em, ou seja, melhorar e adicionar valor ao que já existe. É o que os consumidores exigem e terá êxito aquele que souber atendê-los.
Atender à demanda dos consumidores é o norte para qualquer empresa que quer inovar.
Assim acontece em pelo menos 99% das patentes, comomostra o gráfico de Guenrich Altshuller, economista russo que estudou mais de 200 mil patentes e criou um método para analisá-las denominado Triz.
Claro que por vezesumconcorrente se adianta na agregação de inovações. Então o início para uma empresa pode ser a engenharia reversa das melhorias incorporadas.
E a ciência acadêmica, onde fica? Sim, ela pode ser necessária quando a tecnologia já está na fronteira, ou próxima desta - como no caso da Petrobras. Mas isso é apenas 1% das patentes, como já vimos. Apostar exclusivamente nessa estreitíssima faixa é se condenar a jamais alcançá-la.
Mas a academia tem um papel muito importante na inovação: formar recursos humanos da mais alta qualificação, com domínio das fontes de conhecimento e uma visão crítica do que ela própria ensina. Esse profissional será um inovador na indústria em que for trabalhar. Sim, porque é a indústria que faz a inovação para atender à demanda dos usuários e clientes.
O sucesso da Coreia, China e Índia se baseia nessa realidade.
A resposta dos consumidores pode ser aquilatada pelo sucesso das exportações, liderado por manufaturados.
Enquanto em 2011 estamos no mesmo 28º lugar que tínhamos em 1985, a Índia saltou para o 16º, a Coreia para o 6º e a China para a ponta, superando a Alemanha. Nenhum desses emergentes lançou um produto que já não existisse nos desenvolvidos. Mas fez tudo melhor, atendendo à demanda, seguindo os passos e a lição de um gênio da inovação: Steve Jobs, que, sem descobrir nenhum produto novo, fez da Apple a maior empresa do mundo levando a inovação ao paroxismo em produtos que já existiam. E isso sem sequer ter completado o curso de graduação. ■
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A academia tem um papel muito importante na inovação: formar recursos humanos da mais alta qualificação, com domínio das fontes de conhecimento e uma visão crítica do que ela própria ensina
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