12 de fevereiro de 2012

Livro explora reação às novas tecnologias


12 de fevereiro de 2012
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NELSON DE SÁ

Em "O BlackBerry de Hamlet", William Powers propõe busca por "um equilíbrio entre vidas digitais e não digitais"
Historiador e jornalista, autor recorre a Sócrates e a Shakespeare para abordar transições para períodos mais modernos

Na peça de Shakespeare, quando o fantasma do pai pede que se lembre dele, Hamlet promete apagar todos os registros "da tábua da minha mente" para se concentrar na memória do pai -e na vingança de sua morte.
A tábua, "table" no original, é "O BlackBerry de Hamlet", título do livro de William Powers que sai no Brasil um ano e meio após entrar para os mais vendidos do "New York Times", nos EUA.
Powers, formado em literatura e história pela Universidade Harvard, busca saídas para limpar a mente do excesso de informação que a tecnologia trouxe com computadores e internet, hoje.
Mas nega ser um ludita -como é descrito o movimento que reagiu às máquinas nas fábricas têxteis inglesas, no século 19. "Não, não", diz, em entrevista por telefone.
No livro, ele explora historicamente como foram as primeiras reações a várias revoluções tecnológicas e como é possível fazer a transição sem que o homem seja sufocado pela nova tecnologia.
No caso de Hamlet, em meio ao excesso de informação trazido pela invenção da imprensa, Shakespeare recorre a um equipamento recém-lançado e que era febre em Londres na virada do século 16: uma prancheta com novo papel que permitia apagar o que fosse escrito.
O título surgiu quando Powers visitou uma exposição de tábuas da época, na Folger Shakespeare Library, em Washington. Daí o enunciado irônico, comparando-as a um aparelho BlackBerry ou iPhone.
"O BlackBerry de Hamlet faz paralelo com o nosso tempo. Era uma invenção que as pessoas amavam e na qual eram viciadas, durante uma revolução tecnológica."
Mas não era uma invenção que trazia mais informação, pelo contrário.
"Usava uma tecnologia, a escrita à mão, que as pessoas pensavam que morreria na era da imprensa. E que se tornou mais útil, num tempo em que as pessoas se sentiam oprimidas por todos aqueles impressos empilhados ao seu redor. Elas podiam escrever algo temporariamente e fazer com que desaparecesse."
EQUILÍBRIO
A mesma contradição entre abraçar o excesso de informação e sobreviver a ele é explorada em passagens de outros autores clássicos.
Abrindo o livro, é exposta no diálogo "Fedro", de Platão. O texto mostra "o amor de Sócrates pela cidade e pela comunicação oral" em contraste com Fedro, que "entende, mas precisa de alguma distância da conectividade", ou seja, da cidade, "para fazer algo de útil com ela".
Mostra também como "Sócrates é cético com a novíssima tecnologia que chegou, a palavra escrita", descreve
Powers, em contraste com o próprio autor, Platão, "que, é claro, decidiu usar a tecnologia que Sócrates condena para registrar o diálogo".
O que Powers sugere, diante da revolução de hoje, é buscar "um equilíbrio entre as nossas vidas digitais e não digitais", para poder "trazer as nossas próprias conclusões e conexões" ao ambiente digital. Não propõe um aparelho, mas simplesmente "desconectar-se", resguardar alguma vida sem acesso digital, o fim de semana, talvez.
Mas ele próprio já está de volta ao turbilhão tecnológico. Com o livro, Powers havia se afastado da cobertura de mídia e cultura, à qual se dedicou por duas décadas, no "Washington Post" e depois no "National Journal".
Agora se uniu a Deb Roy, professor e diretor do grupo de Máquina Cognitivas do MIT (Massachusetts Institute of Technology), em uma "startup" que vai "identificar padrões e extrair significados da conversação de mídia social" durante a campanha presidencial americana.
"É uma tentativa de ir mais fundo, como eu escrevo no livro, de levar a tecnologia para lugares mais profundos", descreve Powers.
O BLACKBERRY DE HAMLET
AUTOR William Powers
EDITORA Alaúde
TRADUÇÃO Daniel Abrão
QUANTO R$ 34,90 (232 págs.)
Leia a íntegra da entrevista
folha.com/no1046403

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