7 de fevereiro de 2012

A violência não é um problema novo para a Bahia:Paula Miraglia


Paula Miraglia
Antropóloga analisa segurança pública, justiça e cidadania

Em meio à greve dos policiais militares, população vê escalada da violência em um Estado que já enfrenta problemas de insegurança


06/02/2012 15:18



O saldo da greve da Polícia Militar na Bahia até esta segunda-feira incluía mais de 90 assassinatos, saques, a presença do Exército, da Força Nacional e da Polícia Federal, além de 11 mandados de prisão contra os líderes grevistas. Hoje, forças militares cercaram a Assembleia Legislativa com o intuito por fim ao movimento. Mas longe de uma solução, o clima no momento é de confronto.
A greve da PM baiana não é um caso isolado. Recentemente, as polícias do Ceará, Pará e Maranhão também entraram em greve, manifestando a insatisfação da categoria com suas condições de trabalho.
Movimentos grevistas envolvendo corporações são delicados e controversos. Mas como serviços essenciais podem fazer valer suas reivindicações, em muitos casos legítimas, como melhores condições de trabalho, plano de carreira e salário compatíveis com a sua função? Há um histórico de situações similares onde prevaleceu o conflito. Basta lembrar o caso dos Bombeiros no Rio ou da greve da Polícia Civil em São Paulo.
Infelizmente, as reivindicações dos PMs da Bahia acabaram abafadas pelo clima de motim. Ao usar armas e viaturas – seus instrumentos de trabalho – para ameaçar a população em geral, os policiais conseguiram perder a legitimidade de suas demandas de imediato.
O quadro, agravado pela intervenção militar e o cenário de confronto, carrega tensão e medo. No entanto, é preciso notar que se a ausência de policiais nas ruas provocou um aumento de crimes em geral, incluindo o número de mortes, não é de hoje que a Bahia é vítima de uma epidemia de assassinatos.
O Mapa da Violência 2012 mostra que, junto com Alagoas e Pará, a Bahia está entre os Estados que tiveram maior aumento da taxa de homicídios na última década. Em Salvador, a taxa de morte por homicídio cresceu 330% no período. Seguindo o padrão do resto do País, as vítimas preferenciais são jovens, negros, das classes mais pobres.
A crise atual certamente deixou mais evidente a fragilidade do aparato de segurança pública estatal. Mas é preocupante que seja necessário um episódio como a greve para dar notoriedade nacional a uma situação tão extrema. A verdade é que não é de hoje que a Bahia carece de um plano para prevenir e combater o número cruel de mortes no Estado.

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