25 de junho de 2012

Isaac Roitman, professor emérito da UnB


 
 
Ele apontou a rede de familiares, amigos e colegas da academia, com quem conviveu por cinquenta anos, como o grande legado de sua carreira.

De terno e gravata, que em raríssimas ocasiões adota, Isaac Roitman subiu a rampa do prédio da reitoria para a cerimônia que coroaria sua trajetória de quarenta anos como professor e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB). Com pulso firme sobre a bengala que, como ele próprio diz, com humor, se tornou uma de suas maiores aliadas após os 70 anos de idade, cumpriu o trajeto ao lado da esposa, dos quatro filhos, dos cinco netos e de outros familiares.

Na sala de arquitetura suspensa reservada à homenagem, foi saudado por mais de uma centena de espectadores, entre professores pioneiros, eméritos e novatos, diretores de institutos e faculdades, ex-alunos, cientistas renomados e autoridades de fora da Universidade, em uma das cerimônias condecorativas mais cheias da história da instituição. O senador e ex-reitor Cristovam Buarque, de quem Isaac Roitman foi decano de pesquisa e pós-graduação, assistiu a cerimônia sentado em um dos degraus do auditório, porque as 80 cadeiras disponíveis estavam ocupadas.

A rede familiar, de amigos, admiradores e pessoas com as quais Isaac Roitman trocou experiências em mais de cinquenta anos de profissão é o grande legado da carreira apontado em seu discurso, realizado após receber a titulação das mãos do professor José Geraldo de Sousa Junior, reitor da UnB. Em quinze páginas, Isaac Roitman agradeceu e prestou reverência a pelo menos 120 nomes, entre os quais o de Celina Roitman ocupou lugar de destaque. "Eu costumava me apaixonar pelas minhas professoras e tive a sorte de casar com uma delas. Ter uma professora com as virtudes da Celina por quase 50 anos é como ter ganhado na megasena. Ela não se aposentou dessa missão e continua a minha eterna professora, corrigindo, criticando, porém, felizmente, sem o hábito de me colocar de castigo. E eu continuo apaixonado por ela", elogiou.

Professor da UnB desde 1972, onde chegou para implantar o Laboratório de Microbiologia, e aposentado há 17 anos, Isaac Roitman enumerou em cinco pontos as razões da alegria despertada pela honraria. "A primeira é ter o privilégio de ter aqui, nesta cerimônia, a presença de meus netos: Sofia, Uriel, Gabriela, Isadora e Léo. Se eu recebesse o título dez anos atrás eles não teriam essa lembrança do vovô Kaki, como me chamam", afirmou, mencionando também os filhos Luciano, Pedro, Iris e Marcelo, três deles graduados pela UnB, um deles professor da instituição. "A vivência com meus netos permite que eu seja uma espécie de quimera: metade adulto, metade criança. Espero ao longo dos próximos anos ser menos adulto e mais criança".

A segunda vantagem mencionada foi a de receber a distinção no ano do Jubileu da UnB. "Não é um ano qualquer. É um ano de celebrações e reflexões", disse. "A terceira é o privilégio de receber essa hornaria das mãos do atual reitor, um defensor da igualdade, da justiça e do diálogo, um verdadeiro democrata", continuou. "Temos aqui um rebelde com causa, tanto no seu campo de atuação, como nas causas que têm como condição a solidariedade e o comprometimento com a cidadania", retribuiu José Geraldo. Isaac Roitman foi tema da carta do reitor enviada semanalmente aos professores.

Admiração - A quarta vantagem apontada por Isaac Roitman para descrever a alegria com a homenagem foi a participação de um ex-aluno na cerimônia, Sidarta Ribeiro, um dos neurocientistas mais reconhecidos no mundo. Coube ao pesquisador saudar o homenageado. Em discurso que arrancou lágrimas de parte da plateia, o neurocientista relembrou, com riqueza de detalhes, a trajetória de Isaac Roitman. "O professor Roitman, de quem sou discípulo, provoca admiração tanto pela trajetória acadêmica quanto pela qualidade humana", afirmou, ao assumir o microfone.

Sidarta destacou o trabalho do pesquisador com micro-organismos e como gestor acadêmico e científico. "O professor Roitman, nosso querido Isaac, é um dos mais importantes cientistas brasileiros na área de Fisiologia de Micro-organismos. Sua pesquisa com meios quimicamente definidos para cultivo in vitro de protozoários tripanosomatídeos teve um efeito revolucionário neste campo de investigação", disse.

O ex-aluno recorreu aos números para traduzir a carreira do professor. "Ao longo de sua carreira, Isaac publicou 65 artigos, 5 livros, 6 capítulos de livros e 33 artigos em jornais e revistas de divulgação científica. Orientou na UnB 20 dissertações de mestrado e nove de doutorado e implantou na década de 80, em seu laboratório, um arrojado programa de iniciação científica para estudantes do ensino médio, do qual tive a sorte de ser o primeiro aluno, aos 16 anos. Esse programa foi o embrião do que viria a ser, por iniciativa do professor Roitman, o Programa de Iniciação Científica Júnior do CNPq".

Os resultados das pesquisas de Isaac Roitman foram expressos também pelo próprio professor em seu discurso. Com vaidade incomum e muito bom humor, ele contou como os resultados de suas pesquisas abriram novos caminhos de investigação científica. "A vida acadêmica proporciona episódios pitorescos. Em 1991 dois ex-estudantes descreveram uma espécie nova de um tripanosomatídeo isolado de um inseto. Para homenagear o ex-professor deram o nome à nova espécie de Crithidia roitmani. Após alguns meses a posição taxônomica da nova espécie descrita foi questionada e, segundo alguns pesquisadores, o gênero correto seria Herpetomonas e não Crithidia. Eu protestei dizendo que estava me sentindo com dupla personalidade", contou, arrancando gargalhadas da plateia. "Finalmente a polêmica foi decidida e a nova espécie recebeu o nome de Herpetomonas roitmani".

Sidarta Ribeiro enalteceu o bom humor marcante de Isaac Roitman, ao revelar a existência do Prêmio Roitman, outorgado anualmente nas reuniões da Sociedade de Protozoologia, ao pesquisador estrangeiro de maior desempenho etílico. "Nunca vou me esquecer da surpresa que tive quando, ao ser entrevistado para o programa de doutorado da Universidade Rockefeller, o eminetene paralitologista doutor George Cross, perguntou se eu conhecia o Prêmio Roitman. Eu disse que sim e George Cross, até então sisudo, exultou num enorme sorriso: I won it!", contou.

O ex-aluno também narrou as lembranças da infância, quando conviveu com os filhos de Isaac Roitman. "Lembro de sua vasta biblioteca, da paixão pelo xadrez, da direção serena ao volante do Opala vermelho e do rádio sempre sintonizado em música clássica", contou. Algumas das canções favoritas foram reproduzidas por alunos da UnB que, no início da cerimônia, prestaram homenagem a Isaac Roitman sob a direção da professora e flautista Beatriz Magalhães Castro.

Aprovada pelo Conselho Universitário, instância máxima da UnB, a outorga de professor emérito se soma a outros títulos nobres que Isaac Roitman acumula. Ele é membro titular da Academia Brasileira de Ciências, professor emérito da Universidade de Mogi das Cruzes, membro honorário do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras e comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico do Ministério da Ciência e Tecnologia. Exerceu também atividades em várias sociedades científicas e agências de fomento e hoje é membro do Grupo de Trabalho sobre Educação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). E segue trabalhando, sem nunca ter parado, mesmo depois da aposentadoria. "Aposentar, segundo o dicionário tem o significado de uma pessoa que deixou de trabalhar por falta de saúde ou por ter atingido determinado limite de idade. Fiel a minha rebeldia, não dei bola para essa definição nem darei".

Confira mais depoimentos de quem acompanhou a cerimônia:http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=6753.
(Agência UnB)

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