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RIO - A professora da Science Po, Laurance Tubiana, é fundadora do Instituto de Relações Internacionais e Desenvolvimento Sustentável (IDDRI), com sede em Paris, e participou dos Diálogos da Rio+20. Ela achou o formato de discussão com a sociedade civil inovador e acredita que ele será modelo para outras conferências da ONU. Laurence diz que a vinda do presidente francês François Hollande à cúpula foi um importante passo para a Europa, e defendeu que ele terá um diálogo mais facilitado com os países em desenvolvimento.
O que a senhora achou das discussões da Rio+20?
Eu gostei principalmente da ideia de o Brasil dar início aos Diálogos da Sociedade Civil. É muito inovador. Foi uma iniciativa piloto, e deveríamos usar este método para o futuro. Não foi um debate público forçado, foi muito real, e muitas pessoas estavam envolvidas. Se isto foi feito em alguns meses, imagine se tivesse mais preparação e mais experiência. Acho que se encontrou uma maneira inovadora de expressar novas posições para os governos.
Mas eles não tiveram força efetiva nas negociações, certo?
Neste momento, eles não tiveram poder nenhum nas negociações. Mas imagine que estes diálogos fossem sistematicamente organizados e que mapeassem as prioridades e escolhas dos grupos, isto daria uma ganho mais inovador, mais progressivo para as decisões dos governos. Seria a legitimação de diferentes posições. Isto daria uma percepção diferente, e a proposta poderia ser submetida antes aos governos. Estou animada com esta possibilidade.
O que a vinda do presidente francês François Hollande representou para a Rio+20?
A vinda de Hollande foi um importante sinal, principalmente porque havia poucos chefes da Europa. Ele quis fazer diferença, e foi importante para ele, já que foi sua primeira grande aparição mundial. Hollande veio para o G20 estes dias, mas se ele queria sentir sua força, o ambiente das Nações Unidas é o lugar certo. Ele está convencido de que o único caminho para a França, a Europa e até o mundo é a necessidade de se reformar o sistema para combater a desigualdade. Esta foi a sua defesa nas campanhas. Para fazer isso, a questão da sustentabilidade tem que estar agregada, porque não podemos ter este modelo de desperdício.
Qual a diferença entre as políticas ambientais de Nicolas Sarkozy e de Hollande? Ao que parece, Hollande está a frente nas questões ambientais.
Sim, com certeza. Sarkozy defendia que a discussão do meio ambiente deveria se dar no G20, e Hollande pensa que o espaço para isso é o das Nações Unidas. Este é um ponto importante, porque no âmbito das ONU há também os países menos desenvolvidos. Segundo, ele realmente acredita que o capitalismo não tem satisfeito às demandas da população. Sarkozy achava que o capitalismo conseguia dar conta.
Qual foi a repercussão da Rio+20 na França? A mídia francesa deu pouco espaço ao tema.
O problema foi que tivemos eleições muito intensas nos últimos meses. Além disso, a mídia, depois de Copenhague e por causa da postura do Sarkozy, se esqueceu um pouco do meio ambiente. Mas devemos retomar esta discussão, porque é um tema de interesse dos franceses.
Hollande tem uma defesa do combate à desigualdade social diferente da visão europeia na Rio+20?
A França colocou as questões sociais muito na frente agora, é uma novidade. Porque realmente não se pode desconectar desenvolvimento sustentável de discussões sociais. Espero que ele tenha um diálogo melhor com os países em desenvolvimento do que a Europa tem tido. Ele pode atingir mais as pessoas porque ele trará este ponto da igualdade como central.
Com relação ao texto final, qual foi sua percepção sobre temas centrais, como as metas de desenvolvimento?
Mesmo que o texto esteja muito baseado nos princípios de 1992, e de não ter havido grande progresso, é boa a ideia de termos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), uma agenda com metas para o tema, que seja universal, mesmo que haja uma forma de tratamento diferenciado entre os países. Isto significa que tanto países em desenvolvimento como os desenvolvidos precisam estar atentos a seus modelos de crescimento. Em 2015, quando as metas de desenvolvimento do milênio forem alcançadas, veremos que ainda não chegamos lá, que precisamos de mais tempo para eliminar a pobreza.
A discussão da pobreza, de fato, está à contento no documento?
A discussão da pobreza é bem central ultimamente e tem que estar presente. Mas obviamente o problema é como se combate a pobreza. É uma nova maneira de entender bem estar. Precisa-se entender que o foco não deve ser em satisfazer os padrões de consumo de 1% da população, mas sim, tirar 8% da pobreza. A questão da igualdade não está tão forte no texto, mas ele será muito central para o futuro próximo, e acho que a discussão sobre pobreza deveria estar presente em todos os fóruns.
E com relação a outros temas, como o fortalecimento do Pnuma e a regulamentação de oceanos?
A discussão sobre oceanos foi realmente uma pena, precisamos de uma regulação forte para eles e ainda não a temos. Com relação ao Pnuma, achei positivo que ele seja fortalecido. Há tanto debate se ele deve ser agência ou não, acho que o mais importante é que houve movimento, e deveríamos focar em melhorar a função do Pnuma. Esta é a minha opinião, e não a do governo francês. Houve certo avanço na governança internacional para o meio ambiente, porque agora não há a participação de alguns países, é universal. A discussão sobre economia verde ainda é muito fraca. O que é realmente é uma pena é que a grande parte dos temas, como biodiversidade, segurança alimentar, clima, estão extremamente vagos e não há um comprometimento comum entre os países. Os países farão o que quiserem.
Qual era sua expectativa anterior?
No começo, mesmo com a condição não muito saudável com a crise mundial e com todos na defensiva, pensei que a gravidade da situação gerasse um choque e as pessoas acordassem e dissessem que deveriam mudar o sistema. A crise poderia guiar o sistema para outra direção. Pensei que isto pudesse acontecer. Agora acho que isto ainda pode acontecer no futuro. Mas aqui não foi o momento em que as pessoas perceberam que há a crise e que deveria ser um momento de mudança. Eu tinha sim esta esperança.
O que a senhora achou das discussões da Rio+20?
Eu gostei principalmente da ideia de o Brasil dar início aos Diálogos da Sociedade Civil. É muito inovador. Foi uma iniciativa piloto, e deveríamos usar este método para o futuro. Não foi um debate público forçado, foi muito real, e muitas pessoas estavam envolvidas. Se isto foi feito em alguns meses, imagine se tivesse mais preparação e mais experiência. Acho que se encontrou uma maneira inovadora de expressar novas posições para os governos.
Mas eles não tiveram força efetiva nas negociações, certo?
Neste momento, eles não tiveram poder nenhum nas negociações. Mas imagine que estes diálogos fossem sistematicamente organizados e que mapeassem as prioridades e escolhas dos grupos, isto daria uma ganho mais inovador, mais progressivo para as decisões dos governos. Seria a legitimação de diferentes posições. Isto daria uma percepção diferente, e a proposta poderia ser submetida antes aos governos. Estou animada com esta possibilidade.
O que a vinda do presidente francês François Hollande representou para a Rio+20?
A vinda de Hollande foi um importante sinal, principalmente porque havia poucos chefes da Europa. Ele quis fazer diferença, e foi importante para ele, já que foi sua primeira grande aparição mundial. Hollande veio para o G20 estes dias, mas se ele queria sentir sua força, o ambiente das Nações Unidas é o lugar certo. Ele está convencido de que o único caminho para a França, a Europa e até o mundo é a necessidade de se reformar o sistema para combater a desigualdade. Esta foi a sua defesa nas campanhas. Para fazer isso, a questão da sustentabilidade tem que estar agregada, porque não podemos ter este modelo de desperdício.
Qual a diferença entre as políticas ambientais de Nicolas Sarkozy e de Hollande? Ao que parece, Hollande está a frente nas questões ambientais.
Sim, com certeza. Sarkozy defendia que a discussão do meio ambiente deveria se dar no G20, e Hollande pensa que o espaço para isso é o das Nações Unidas. Este é um ponto importante, porque no âmbito das ONU há também os países menos desenvolvidos. Segundo, ele realmente acredita que o capitalismo não tem satisfeito às demandas da população. Sarkozy achava que o capitalismo conseguia dar conta.
Qual foi a repercussão da Rio+20 na França? A mídia francesa deu pouco espaço ao tema.
O problema foi que tivemos eleições muito intensas nos últimos meses. Além disso, a mídia, depois de Copenhague e por causa da postura do Sarkozy, se esqueceu um pouco do meio ambiente. Mas devemos retomar esta discussão, porque é um tema de interesse dos franceses.
Hollande tem uma defesa do combate à desigualdade social diferente da visão europeia na Rio+20?
A França colocou as questões sociais muito na frente agora, é uma novidade. Porque realmente não se pode desconectar desenvolvimento sustentável de discussões sociais. Espero que ele tenha um diálogo melhor com os países em desenvolvimento do que a Europa tem tido. Ele pode atingir mais as pessoas porque ele trará este ponto da igualdade como central.
Com relação ao texto final, qual foi sua percepção sobre temas centrais, como as metas de desenvolvimento?
Mesmo que o texto esteja muito baseado nos princípios de 1992, e de não ter havido grande progresso, é boa a ideia de termos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), uma agenda com metas para o tema, que seja universal, mesmo que haja uma forma de tratamento diferenciado entre os países. Isto significa que tanto países em desenvolvimento como os desenvolvidos precisam estar atentos a seus modelos de crescimento. Em 2015, quando as metas de desenvolvimento do milênio forem alcançadas, veremos que ainda não chegamos lá, que precisamos de mais tempo para eliminar a pobreza.
A discussão da pobreza, de fato, está à contento no documento?
A discussão da pobreza é bem central ultimamente e tem que estar presente. Mas obviamente o problema é como se combate a pobreza. É uma nova maneira de entender bem estar. Precisa-se entender que o foco não deve ser em satisfazer os padrões de consumo de 1% da população, mas sim, tirar 8% da pobreza. A questão da igualdade não está tão forte no texto, mas ele será muito central para o futuro próximo, e acho que a discussão sobre pobreza deveria estar presente em todos os fóruns.
E com relação a outros temas, como o fortalecimento do Pnuma e a regulamentação de oceanos?
A discussão sobre oceanos foi realmente uma pena, precisamos de uma regulação forte para eles e ainda não a temos. Com relação ao Pnuma, achei positivo que ele seja fortalecido. Há tanto debate se ele deve ser agência ou não, acho que o mais importante é que houve movimento, e deveríamos focar em melhorar a função do Pnuma. Esta é a minha opinião, e não a do governo francês. Houve certo avanço na governança internacional para o meio ambiente, porque agora não há a participação de alguns países, é universal. A discussão sobre economia verde ainda é muito fraca. O que é realmente é uma pena é que a grande parte dos temas, como biodiversidade, segurança alimentar, clima, estão extremamente vagos e não há um comprometimento comum entre os países. Os países farão o que quiserem.
Qual era sua expectativa anterior?
No começo, mesmo com a condição não muito saudável com a crise mundial e com todos na defensiva, pensei que a gravidade da situação gerasse um choque e as pessoas acordassem e dissessem que deveriam mudar o sistema. A crise poderia guiar o sistema para outra direção. Pensei que isto pudesse acontecer. Agora acho que isto ainda pode acontecer no futuro. Mas aqui não foi o momento em que as pessoas perceberam que há a crise e que deveria ser um momento de mudança. Eu tinha sim esta esperança.
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