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Nesta semana em que Vladimir Herzog faria 75 anos, participei de uma homenagem a ele no Midrash Centro Cultural. A data coincide com uma nova tentativa da família de fazer cumprir uma sentença de 1978, quando o juiz Márcio José de Moraes determinou a apuração das circunstâncias em que o jornalista foi torturado até a morte nas dependências do II Exército em SP, há 37 anos. Como a ordem judicial nunca foi cumprida, prevalece a versão mentirosa de que o então diretor da TV Cultura tinha se suicidado.
A recente recusa do Itamaraty a atender ao pedido da OEA para reabrir o caso repercutiu tão mal que a ministra Maria do Rosário se reuniu com a viúva Clarice e o filho Ivo Herzog, para explicar a inexplicável atitude do Brasil. O resultado foi uma nota conjunta em que o governo reconhece "a luta histórica empreendida" pelos Herzogs, mas nem se refere à exigência principal, que é um novo atestado de óbito desmentindo o falso suicídio.
Acompanho esse caso desde que Clarice me ligou no dia 25 de outubro de 75 dizendo: "Mataram o Vlado." Na véspera, policiais tinham ido ao seu local de trabalho, convidando-o a comparecer ao quartel do Exército para prestar esclarecimentos. Ele podia ter fugido, mas não quis. "Não tenho nada a esconder. Vou e saio logo." Chegou no dia seguinte às 8 da manhã e às 3 da tarde estava morto, após uma sessão de tortura. Outros jornalistas também presos ouviram seus últimos gritos.
Uma reação cautelosa que não desse pretexto à repressão começou já no enterro, com o rabino Henry Sobel negando-se a sepultar o judeu Vlado no lugar destinado aos suicidas. Como diria mais tarde, "foi minha maneira de denunciar a farsa". Depois veio o culto ecumênico celebrado em conjunto pelo rabino, por D. Evaristo Arns, D. Hélder Câmara e pelo reverendo James Wright. A polícia montou 385 barreiras para impedir o acesso à Catedral da Sé, e mesmo assim cerca de 3 mil pessoas compareceram à histórica cerimônia, uma das mais dramáticas já realizadas em SP.
Quando Clarice quis recorrer à Justiça, não foi fácil encontrar advogado, e tive a honra de participar dessa procura. Por interferência de Guguta Brandão, prima de Heleno Fragoso, fomos a ele, um respeitado criminalista, que aceitou o caso e indicou para a área cível o jovem Sergio Bermudes. Três anos depois, graças a Bermudes, que moveu a ação, e ao juiz federal Márcio, que deu a corajosa sentença, ambos com 32 anos, aconteceu o que parecia impossível: a União era considerada responsável pela prisão, tortura e morte de Vladimir Herzog. Foi a partir do choque causado pela morte do jornalista - com a revolta que espalhou - que a imprensa tomou coragem de avançar até o horizonte do possível. Ele pode ser considerado um mártir da abertura. Naqueles tempos difíceis de viver, Vlado soube viver, trabalhar e morrer com dignidade.
A recente recusa do Itamaraty a atender ao pedido da OEA para reabrir o caso repercutiu tão mal que a ministra Maria do Rosário se reuniu com a viúva Clarice e o filho Ivo Herzog, para explicar a inexplicável atitude do Brasil. O resultado foi uma nota conjunta em que o governo reconhece "a luta histórica empreendida" pelos Herzogs, mas nem se refere à exigência principal, que é um novo atestado de óbito desmentindo o falso suicídio.
Acompanho esse caso desde que Clarice me ligou no dia 25 de outubro de 75 dizendo: "Mataram o Vlado." Na véspera, policiais tinham ido ao seu local de trabalho, convidando-o a comparecer ao quartel do Exército para prestar esclarecimentos. Ele podia ter fugido, mas não quis. "Não tenho nada a esconder. Vou e saio logo." Chegou no dia seguinte às 8 da manhã e às 3 da tarde estava morto, após uma sessão de tortura. Outros jornalistas também presos ouviram seus últimos gritos.
Uma reação cautelosa que não desse pretexto à repressão começou já no enterro, com o rabino Henry Sobel negando-se a sepultar o judeu Vlado no lugar destinado aos suicidas. Como diria mais tarde, "foi minha maneira de denunciar a farsa". Depois veio o culto ecumênico celebrado em conjunto pelo rabino, por D. Evaristo Arns, D. Hélder Câmara e pelo reverendo James Wright. A polícia montou 385 barreiras para impedir o acesso à Catedral da Sé, e mesmo assim cerca de 3 mil pessoas compareceram à histórica cerimônia, uma das mais dramáticas já realizadas em SP.
Quando Clarice quis recorrer à Justiça, não foi fácil encontrar advogado, e tive a honra de participar dessa procura. Por interferência de Guguta Brandão, prima de Heleno Fragoso, fomos a ele, um respeitado criminalista, que aceitou o caso e indicou para a área cível o jovem Sergio Bermudes. Três anos depois, graças a Bermudes, que moveu a ação, e ao juiz federal Márcio, que deu a corajosa sentença, ambos com 32 anos, aconteceu o que parecia impossível: a União era considerada responsável pela prisão, tortura e morte de Vladimir Herzog. Foi a partir do choque causado pela morte do jornalista - com a revolta que espalhou - que a imprensa tomou coragem de avançar até o horizonte do possível. Ele pode ser considerado um mártir da abertura. Naqueles tempos difíceis de viver, Vlado soube viver, trabalhar e morrer com dignidade.
O Globo
30/06/2012
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