VISÃO DO CORREIO,29 de junho,2012
Brasília não foi reprovada. Mas recebeu dura advertência: precisa corrigir os rumos até 1º de fevereiro de 2013. O Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco, reunido esta semana em São Petersburgo, debateu e chancelou o relatório do Conselho de Monumentos e Sítios (Icomos) sobre o estado de conservação da capital. O diagnóstico não surpreende. São velhas e conhecidas as mazelas ali evidenciadas.
A privatização de espaços públicos de uso comum é um dos destaques. Grades em torno de blocos, puxadinhos que avançam por áreas verdes, construção de edifícios em locais não edificantes, ocupação acelerada das margens do Lago Paranoá comprometem os espaços abertos - atributo essencial do primeiro bem moderno tombado como patrimônio da humanidade.
Não só. A deprimente degradação da W3 mereceu referência especial. Uma das principais vias do Plano Piloto mais parece rua de favela "abandonada de Deus, dos homens e do poder público. Também a expansão da Vila Planalto foi motivo de repreensão. Situada em área nobre, a região administrativa que lembrava cidade do interior perde o caráter original. A especulação imobiliária - marca dos desmandos que mais descaracterizam a capital - avança ali com desenvolta celeridade.
O Setor Noroeste não escapou dos olhares vigilantes. Os técnicos da Unesco alertaram para o risco de estrangulamento da circulação. O novo bairro pode comprometer a ligação original entre o Plano Piloto e redondezas. O trânsito recebeu nota vermelha. O caos que se observa em eixos e avenidas exige plano de gestão capaz de minimizar o impacto sobre a área tombada.
A administração do patrimônio foi alvo de consideração. Para pôr fim à fragmentação de atribuições, a receita é transparência e clareza na definição do papel e das funções de cada órgão - parte de estrutura central de gestão. É fundamental acabar com o jogo do fato consumado. A análise dos impactos sobre o ambiente deve seguir a ordem lógica.
Não resta dúvida de que repreensão do organismo internacional tem determinação clara - manter o projeto de Lucio Costa. As características originais e as escalas têm de ser respeitadas. Há que correr. O tempo urge porque a deterioração se aprofunda. Daí a fixação de data para a guinada. Dentro de oito meses, o Governo do Distrito Federal deve submeter-se a nova prova.
É necessário aprovação no teste. Alegar herança maldita não garante avanços nem nota azul. Passou da hora de assumir o compromisso, arregaçar as mangas e pôr mãos à obra. Impõe-se não só começar o trabalho, mas dar-lhe o impulso necessário para que seja concluído no prazo estabelecido. Fevereiro bate à porta.
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