23 de novembro de 2012

Enem tem 3 públicas entre as 50 melhores



Escolas federais são as únicas na lista das 'tops'; no ano passado, seis colégios oficiais estavam no grupo de elite
Educador pondera que é preciso considerar o nível socioeconômico dos estudantes das redes privada e pública
FLÁVIA FOREQUEDE BRASÍLIA, Folha de S.Paulo, 23/11/2012

As escolas privadas são protagonistas na lista de melhores notas no Enem 2011, cujos resultados por colégios foram divulgados ontem.
Entre os 50 melhores, apenas três são escolas públicas -todas elas federais. No ano anterior, eram seis.
O Enem é uma prova aplicada a alunos que estão se formando no ensino médio. Por meio dessas provas, o Ministério da Educação tabula o desempenho por escola. No ensino médio, é a única avaliação que dá notas por escola.
O colégio Integrado Objetivo, de São Paulo, ficou com a primeira colocação.
Entre as 50% com maior desempenho na prova (o que corresponde a 5.038 colégios), somente 17,3% são da rede pública de ensino -e em geral são colégios de aplicação ou técnicos, que fazem seleção de estudantes.
A rede privada atende apenas 12,2% das matrículas no ensino médio.
Na cidade de São Paulo, o colégio público com melhor nota é a Escola Técnica Estadual de São Paulo, 9ª melhor na cidade e 74ª no país.
Segundo dados do Ministério da Educação, estudantes da rede privada tiraram em média 569,2 pontos. Entre os alunos da rede pública, a média foi de 474,2.
O ministro Aloizio Mercadante (Educação) disse que as melhores notas refletem práticas pedagógicas, mas reconheceu que não é o único motivo para a boa colocação.
"O melhor desempenho, por padrão, é de escolas que pré-selecionam os estudantes. (...) Cuidado para não comparar o que não é comparável", afirmou.
Segundo ele, o ministério vai convidar as melhores escolas para trocar experiências e, eventualmente, elaborar diretrizes para as demais.
Para isso, disse, o ministério também fará um ranking "só com as escolas 'porta aberta' [que não selecionam alunos]", com a intenção de convidá-las ao debate.
Especialista em avaliação, Francisco Soares (UFMG) argumenta que é preciso colocar luz sobre o nível socioeconômico dos alunos.
O Inep, responsável pelo Enem, destacou que a pequena quantidade de alunos por escola também interfere na posição. Entre as dez com melhor posição, sete têm menos de cem alunos concluintes do ensino médio.


Colégios apostam em unidades de elite e disparam no ranking
Muitas unidades surgiram depois de o Ministério da Educação passar a divulgar classificação por escola
Especialistas dizem que iniciativa prejudica a análise dos dados; para colégios, juntar bons alunos traz ganhos
FÁBIO TAKAHASHIANDRÉ MONTEIRODE SÃO PAULO
A lista de melhores colégios no Enem 2011 possui escolas privadas que criaram unidades só com os melhores alunos. E muitas só surgiram depois que o MEC passou a divulgar as notas por escola.
Educadores dizem que os colégios têm criado artifícios para melhorar no ranking e, assim, a análise fica prejudicada, pois os melhores colégios não estão disponíveis a qualquer estudante.
Já os colégios dizem que há ganho no ensino ao se juntar estudantes com grande desempenho escolar.
Entre as 20 melhores escolas do país, ao menos três privadas que foram criadas após o início do ranking dizem fazer seleção de alunos. São elas: Integrado Objetivo(SP), Elite do Vale do Aço (MG) e Motivo-Unidade 2 (PE) -estas duas começaram no início do ano passado.
"Quem faz isso [criar unidades para bons estudantes] não está preocupado em construir uma escola, que precisa contar com todos os perfis de alunos. Eles querem fazer um ranking mercadológico, então criam isso para dizer 'Olha, fomos bem'", afirmou Madalena Guasco Peixoto, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP.
"É a pressão da divulgação do resultado do Enem sobre as escolas, principalmente as privadas. Elas então disputam mercado, adotam estratégias para se destacar", disse Ocimar Munhoz Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP.
ELITE INTELECTUAL
Responsável pela rede Objetivo (cuja unidade Integrada foi a melhor do país), João Carlos Di Genio diz que há entrevistas com candidatos para selecionar o que pode formar uma "elite intelectual". Afirma ainda que não há prova.
"Investimos principalmente na parcela que vai de 3% a 5% da população, que tem capacidade privilegiada de aprendizado, para que ela não deixe o Brasil", disse.
"Observando a concorrência, vimos que colégios que estavam nos primeiros lugares faziam seleção", afirmou Eduardo Belo, do Motivo (19º). O ensino da unidade top, diz Belo, é o mesma que a da outra (1.116ª).

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