Folha de S.Paulo, 27/11/2012
SÃO PAULO - Embora as informações ainda estejam meio nebulosas, tudo indica que as universidades públicas paulistas irão propor um sistema de cotas sociais e raciais não muito diferente do modelo federal, que assegura 50% das vagas para os beneficiários do programa.
Pessoalmente, não gosto da ideia de levantar a carta racial -podemos obter mais ou menos o mesmo efeito lidando só com as mais objetivas categorias de renda- e tenho dúvidas quanto ao tamanho do naco a ser reservado, mas não acredito que adotar cotas signifique necessariamente a morte da meritocracia.
Universidades desempenham um duplo papel em suas relações com a população. Elas se tornaram a principal mola de ascensão social do mundo moderno e também têm a missão de formar os quadros que estarão à disposição da sociedade em todas as áreas, da medicina ao magistério.
Esses objetivos não convergem naturalmente. Para fazer justiça em relação ao primeiro, é necessário favorecer os mais pobres, cujo rendimento acadêmico tende a ser pior. Já para atender ao segundo, é preciso recrutar sempre os intelectualmente mais preparados, ignorando sua origem.
Nenhum dos dois lados pode reclamar direitos naturais a uma vaga na universidade. Para começar, a missão precípua dessas instituições é cultivar o conhecimento, não acabar com a pobreza. Além disso, não podemos nos esquecer de que o tal do mérito é, em larga medida, fruto da loteria genética, ou seja, encerra algo de aleatório, exatamente como a pobreza. Gostemos ou não, estamos, em última instância, lidando com uma espécie de sorteio cósmico.
O dilema não tem solução pacífica. A menos que se decida fechar os olhos para uma das metas, só o que se pode fazer é caminhar sobre uma corda bamba, evitando que os ganhos em um dos lados comprometam o equilíbrio da balança. Acho improvável que a resposta a esse problema complexo seja um linear 50%.
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