Simulação aponta que índice será atingido se USP, Unesp e Unicamp aprovarem benefício a aluno da escola pública
Proposta está em discussão entre reitores paulistas; nas universidades federais, regra já foi aprovada
Se as cotas forem mesmo adotadas pela USP, Unicamp e Unesp em 2016, a participação dos alunos das escolas públicas entre os aprovados nessas universidades e nas federais deverá crescer 45%, considerando a situação atual.
Hoje, esses alunos representam 35% dos calouros das universidades públicas em São Paulo, aponta levantamento feito pela Folha.
Daqui a quatro anos, o percentual terá de ser de ao menos 50% -o que representa aumento de 45% em relação à proporção atual-, segundo lei que abrange as federais e o projeto em discussão entre as estaduais paulistas.
A reportagem fez a estimativa com base nos dados do vestibular para ingresso neste ano de todas as universidades públicas do Estado -apenas a UFSCar não respondeu.
Ou seja, foi simulado o panorama de 2016 com base nos dados oficiais de 2012.
O efeito colateral do benefício às escolas públicas será enfrentado pelos alunos que estão na rede privada.
Neste ano, quase 17 mil deles foram aprovados nas seleções de universidades públicas. Se já existissem as cotas, eles poderiam disputar menos de 13 mil postos.
Tanto a regra federal quanto a discussão de USP, Unesp e Unicamp visam diminuir o que entendem ser distorção do sistema, pois o ensino médio público representa perto de 85% das matrículas, mas menos de 40% dos aprovados nessas instituições.
As federais (Unifesp, UFABC e UFSCar) já estão dentro de lei aprovada neste ano, que dá até 2016 para que 50% dos seus alunos sejam provenientes de escolas públicas.
As estaduais estudam modelo semelhante, mas que prevê um curso preparatório de dois anos para os alunos antes de eles entraram nas vagas reservadas.
MEDICINA DA USP
A mudança seria maior nos cursos mais disputados. Em medicina na USP, 80% dos matriculados no vestibular foram da rede privada. Se estivesse vigente a cota, 98 dos 252 matriculadas da rede particular estariam fora da lista.
"Sou contrário às cotas. A obrigação do governo é oferecer ensino público de qualidade, para que os alunos possam disputar as vagas em igualdade de condições", diz o vice-presidente do sindicato das escolas privadas, José Augusto de Mattos Lourenço, Favorável às cotas, o diretor do cursinho popular da Unesp de Franca Fabio Rodrigues Vieira diz: "Alunos de escola pública têm muita dificuldade [para passar no vestibular]. Vemos aqui: a gente tem de passar a matéria de novo para os alunos, muitas coisas eles nunca viram".
Ideal seria melhorar o ensino público, diz diretor
DE SÃO PAULOAs cotas podem prejudicar universidades e até a escola pública, afirma Mauro Aguiar, diretor do colégio Bandeirantes e membro do Conselho Estadual da Educação.Mauro Aguiar - Um problema que pode ocorrer é as universidades terem de baixar a exigência, para que não seja alta a evasão dos alunos da rede pública. Seria uma tragédia, muita da pesquisa está nas universidades.
A ideia do "college" [curso preparatório] é interessante. Mas só funcionará se os professores universitários estiverem engajados no ensino. Hoje, eles não querem nem dar aula na graduação, imagina nesse curso.
Folha - Que impacto pode haver para as escolas públicas?
O ideal seria melhorar o ensino médio público todo. O perigo da cota é você só melhorar estatísticas, dizer que tem mais escola pública na universidade, usando para isso gente ultrapreparada de escolas técnicas.
Pode diminuir a pressão por melhoria onde estão 85% dos alunos.
E para as escolas privadas?
Ficará mais difícil entrar nas universidades. Os colégios de ponta serão mais valorizados. O ensino superior privado ganhará, pois poderá abrir escolas de ponta para atender a essa elite.
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