'Água na Oca' é uma mostra para se mergulhar de corpo inteiro
SÃO PAULO - O êxito de uma exposição pode será tanto maior quanto mais seus idealizadores conseguirem fazer com que o público mergulhe nos temas nela enfocados. O verbo 'mergulhar', aliás, cai como luva para a mostra 'Água na Oca', aberta nesta sexta-feira no Parque do Ibirapuera, no Pavilhão Lucas Nogueira Garcez - ou Oca, como é conhecido popularmente o recinto criado pelo mestre Oscar Niemeyer.
A exposição tem curadoria geral de Marcello Dantas e curadoria científica de Mario Domingos e Gustavo Accacio. Dantas, vale lembrar, vem de experiências bem-sucedidas em outras mostras de grande apelo popular, como "Bossa na Oca" e "Roberto Carlos - 50 Anos de Música", realizadas no mesmo endereço em 2008 e 2010, respectivamente. Se a tecnologia surge como fator comum entre as três, a multiplicidade de abordagens é outro recurso que se repete.
- Procuro usar em cada exposição, independentemente do tema, uma linguagem de imersão total. Para que o público, além de ver, também possa vivenciar seu conteúdo. E sair dela com uma memória emotiva do passeio - explica Marcello.
Uma dica de roteiro a ser feito pelos 8 mil metros da mostra - realizada pelo Instituto Sangari, em parceria com o Museu de História Natural de Nova York - é começar a visita pelo subsolo, onde a água é tratada de forma lúdica por 14 artistas. Nas várias instalações, ora o líquido é representado por outros elementos ora entra em cena como substância essencial da criação.
No primeiro caso está "Zero hidrográfico", em que a dupla formada por Gisela Motta e Leandro Lima se vale de lâmpadas fluorescentes e juntas mecânicas para recriar os movimentos mar. Há ainda "Água" - de Rejane Cantoni, Raquel Kogan e Leonardo Crescenti -, em que placas espelhadas reproduzem um leito de rio no qual os visitantes podem deitar, nadar de braçada e se divertir com o resultado do reflexo dessa ação no teto. No segundo enquadram-se cinco instalações do inglês William Pye, que usa metal, vidro e outros elementos como plataforma para obter os mais surpreendentes efeitos da água.
No térreo, fica o setor batizado como "Mundo d'água", que reproduz ambientes de mares, lagos e rio, além de mostrar as relações entre a água, a vida e o planeta. Neste andar fica também a "Casa d'água", uma instalação criada pelo próprio Marcello Dantas representando uma residência inundada, cena cada vez mais comum nas épocas de cheia em cidades de São Paulo, Santa Catarina e outras regiões do país. Ele evita, porém, atribuir apenas às agressões ao planeta a culpa por essas catástrofes submersas.
- Algumas localidades do país têm uma fragilidade histórica em relação às inundações - justifica.
É assim, como se não tivesse grandes pretensões, que a mostra pretende passar ao público "avisos" sobre a importância da água, e da necessidade de se racionalizar seu uso para a sobrevivência do homem. A mensagem deve ecoar forte, por exemplo, entre os 120 mil estudantes esperados nas visitas monitoradas.
O grande final do trajeto é "A última fronteira", no segundo andar, onde uma brincadeira entre dois garotos, projetada na abóboda da Oca, vira pretexto para que os visitantes façam uma viagem imaginária ao fundo do mar. Uma moeda usada pela dupla na disputa de um cara-ou-coroa rola para as águas e engolida por golfinho, baleia e outros bichos, até chegar às profundezas, onde vivem os seres abissais.
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