Baixo desempenho e idade têm impacto no ensino médio
Pesquisas revelam os principais fatores que prejudicam alunos no ensino médio do Brasil: o baixo desempenho no ensino fundamental e a idade maior do que a esperada para a série (defasagem idade-série). Os dados foram apresentados ontem, na capital paulista, pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e pela Fundação para Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Contabilidade e Economia (Fundace) de Ribeirão Preto. Segundo o levantamento, 30% dos estudantes com as piores notas no nível fundamental sequer se matriculam no ensino médio. Entre os alunos com os melhores desempenhos, o índice de evasão cai para 3%. Hoje, os números serão analisados e comentados por especialistas em educação durante o seminário Como aumentar a audiência no ensino médio?, promovido pelo Instituto Unibanco.
A pesquisa, feita com jovens de escolas públicas e particulares de seis regiões metropolitanas do país, incluindo a Grande Belo Horizonte, mostra ainda que, chegar tarde ao ensino médio, tem um impacto extremamente negativo no futuro escolar dos estudantes.
De cada 100 alunos que se matriculam no nível médio acima da idade recomendada (14 ou 15 anos), 16 abandonam a escola antes de completar os estudos. Já entre os sem defasagem idade-série, apenas nove desistem. O levantamento ainda revela que os atrasados tendem a abandonar a escola no meio do ano letivo, deixando a sala de aula sem concluir a série que estão cursando. Isso faz com que o tempo necessário para que eles terminem os estudos seja ainda mais longo.
A belo-horizontina Nayara Peçanha, de 18 anos, é prova concreta do impacto do atraso escolar no ritmo de estudos. Depois de uma reprovação no 7º ano do ensino fundamental, ela conta que sua trajetória nunca mais foi a mesma. Fiquei desmotivada para repetir o ano. Para piorar, comecei a trabalhar e tive dificuldades de conciliar com os estudos. Num momento de desespero, joguei tudo para o alto , conta Nayara, cheia de arrependimento.
Hoje, matriculada no 1º ano do ensino médio na Escola Estadual Professor Francisco Brant, no Bairro Caiçara, ela tenta recuperar o tempo perdido. Sei que essa parada na escola me prejudicou muito, mas estou animada novamente com os estudos e vou lutar pelo meu sonho: cursar uma faculdade de medicina.
Os dados da pesquisa reacendem a polêmica sobre a reprovação escolar. Combater a repetência é uma estratégia necessária para evitar a evasão. Mas isso não significa aprovar um aluno a qualquer custo. Ele precisa aprender, ou seja, não pode deixar de adquirir as habilidades mínimas para a idade e a série em que está matriculado , explica o pesquisador da Fundace, Amaury Gremaud. A superintendente executiva do Instituto Unibanco, Wanda Engel, ainda reforça: O antídoto para a reprovação não é a progressão automática. Essa prática já se mostrou ineficaz e é culturamente rejeitada pelos professores , diz Wanda.
A doutora em educação defende que a distorção idade-série seja combatida no ensino fundamental, com investimentos na qualidade da educação básica.
Outra conclusão importante da pesquisa é que conseguir terminar o ensino médio nos três anos regulamentares não é tarefa fácil nem mesmo para os que ingressam nesse nível de ensino na idade correta. Apenas 45% dos alunos nessa situação completam os estudos no tempo previsto. Por último, o estudo ainda ajuda a derrubar mitos sobre a evasão na escola: o principal deles é o fato de os jovens abandonarem os estudos para trabalhar. Para o pesquisador da Fundação Getulio Vargas, André Portela Souza, a explicação para esse fenômeno é simples: Se o mercado de trabalho valoriza a educação e a formação do profissional, o jovem fica na escola. Nesse caso, ele vê nos estudos uma expectativa de melhoria de salário. Outra hipótese é que o aquecimento da economia melhore a renda familiar e o fato de os pais ganharem mais tem impacto positivo na frequência escolar dos filhos , conclui.
A repórter viajou a convite do Instituto Unibanco.
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