Um olhar sobre o Rio
Merval Pereira
Ele atribui o fato de ainda termos uma “reflexão regional reduzida” em relação às demais regiões brasileiras ao caráter nacional do pensamento local, abrindo mão das questões regionais.
“Os cariocas “mais provincianos” pensam o Brasil, e os “mais cosmopolitas” pensam o mundo”, ironiza Osório.
Isso faz com que, segundo ele, mesmo após 50 anos da mudança da capital, “até hoje tenhamos uma rarefeita reflexão regional e, por conseguinte, incorremos em importantes equívocos no desenho de prioridades e estratégias”.
Essa ausência de uma cultura e olhar regional tem nos levado a erros de diagnóstico e de estratégias, segundo ele. Especificamente na área de Economia, por exemplo, ao contrário de São Paulo e Minas Gerais, que possuem em seus Programas de Mestrado e Doutorado, na USP, UNICAMP e CEDEPLAR/MG, linhas de pesquisa na área regional, os Programas de Mestrado e Doutorado em Economia na região Metropolitana do Rio de Janeiro não apresentam nenhuma linha de pesquisa permanente na área de Economia Regional.
Mauro Osório destaca que ao analisarmos as taxas de homicídio por 100 mil habitantes do Mapa de Violência de 2010, vemos que, no ano de 2007, enquanto o estado de São Paulo apresentava 15 homicídios por 100 mil habitantes, o Estado do Rio de Janeiro apresentava 40,1 homicídios por 100 mil habitantes.
“Acredito que a partir de 2007 ocorreram importantes rupturas. Na área de Segurança Pública, acabaram-se as nomeações politiqueiras e ocorreu a colocação de um correto profissional chefiando a Segurança Pública do estado. Isso, associado ao início da implantação das UPPs, que terá que ser universalizada, começou a gerar uma mudança de percepção da população carioca, principalmente nas áreas carentes, sobre as forças policiais”.
Essa mudança, no entanto, é muito recente, lembra. “Em 2006, quando da vinda da Força Nacional para o Rio de Janeiro, visando preparar a cidade para o Panamericano de 2007, os policiais de outros estados, mesmo de regiões violentas como Pernambuco, declararam na imprensa, à época, estarem estupefatos com a rejeição da população em áreas carentes às Forças Policiais, e com o nível de armamento que verificavam em territórios paralelos, como o Alemão”.
O professor Mauro Osório tem a tese de que o Rio de Janeiro, a partir das cassações que atingiram pesadamente a cidade, da UDN à esquerda, e a assunção da liderança no Rio por Chagas Freitas, através da legenda da oposição, passou crescentemente por um processo específico de desestruturação, e por isso ele destaca as mudanças que vemos no momento, na área de Segurança Pública como de fundamental importância.
“É interessante procurar olhar onde obtiveram votos todos os anteriores secretários de Segurança ou chefes da Polícia Civil, que assumiram esses cargos a partir dos anos 80 e saíram candidatos”, comenta Osório, insinuando que a maior parte desses votos, em vários casos, vem de áreas dominadas pelo tráfico ou pela milícia.
O caso mais evidente de conivência de autoridades policiais com a marginalidade que deveriam combater é a prisão de Álvaro Lins, ex-chefe da Polícia Civil eleito deputado estadual.
Outra especificidade, segundo Mauro Osório, é que, de acordo com os dados do Mapa da Violência de 2010, analisando as taxas de homicídios por 100 mil habitantes para os estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Bahia e Pernambuco, e suas capitais, o Rio é a única região em que a taxa de homicídios por 100 mil habitantes, no total do estado, é maior do que na capital.
“Isto se deve não a uma maior violência no interior, mas, sim, a uma maior precarização das cidades periféricas da Região Metropolitana”.
Um estudo de violência feito pelo IPEA no início dessa década apontou que, entre os 11 municípios mais violentos do país, 4 eram da periferia do Rio de Janeiro, 3 de Pernambuco, 3 do Espírito Santo e 1 de São Paulo, que era Diadema, que já apresentou significativa melhoria desde então.
Para o professor Mauro Osório hoje o secretário José Mariano Beltrame, tem reforçado a necessidade de termos ações estratégicas no Estado do Rio. “Acho que essa é uma preocupação que deve se generalizar para todas as áreas. Não obteremos sucesso na cidade do Rio sem construirmos uma institucionalidade, política e instrumentos para nossa metrópole”, assinala.
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