21 de novembro de 2010
Educação e Ciências | O Globo | BR
"Hoje, professor só cresce se sair de sala de aula"
BERNARDETE GATTI
Superintendente de Educação e Pesquisa da Fundação Carlos Chagas, Bernardete Gatti coordenou estudo que mostrou que boa parte dos alunos que seguem o magistério teve os piores desempenhos escolares. Ela diz ainda que o número de alunos de licenciaturas não cresceu no mesmo ritmo que o de vagas na área.
Qual o perfil de quem entra na carreira de magistério no país?
BERNARDETE GATTI: O aluno de licenciatura geralmente é o primeiro integrante da família a chegar à faculdade. A maioria, 68%, estudou em escolas públicas, com péssimo desempenho no Enem. Por um estudo de 2009, concluímos que 49% dos alunos de licenciatura vêm de famílias com renda mensal abaixo de cinco salários mínimos; e 50% têm pais que estudaram só até a 4ª série do fundamental. Isso mostra que quem se torna professor na educação básica é, em boa parte, quem teve background cultural e escolar baixo. Além disso, hoje em torno de 60% dos cursos de licenciatura são privados, o que também reflete o fato de que quem ingressa neles é porque não conseguiu entrar em faculdade pública, onde o acesso é mais difícil.
Em outra pesquisa, vocês analisaram o perfil dos cursos de licenciatura. Eles tentam compensar esse baixo desempenho escolar de quem ingressa nessas faculdades?
BERNARDETE: Nossa, mas eles nem pensam nisso. Não conseguem compensar, não. O currículo é muito comprometido. Não aprofunda as disciplinas e em muitos casos não leva a uma profissionalização adequada.
O MEC diz que houve aumento de matrículas nas licenciaturas de cursos presenciais e à distância, e que o Reuni também levou a um aumento de oferta de vagas na área.
BERNARDETE: O número de vagas federais que aumentou com o Reuni não é suficiente para atender ao déficit que temos. Além disso, mesmo que o número de cursos e vagas tenha crescido, o número de alunos não cresceu na mesma proporção, e por vezes diminuiu (por exemplo, em 2006, os cursos de Pedagogia cresceram 17% em faculdades integradas, mas o número de alunos neles caiu 24%).
Além de aumento de salário, a solução passa por quais ações?
BERNARDETE: Não é só aumentar salário. Precisa haver um plano de carreira melhor definido, e hoje cerca de 80% dos estados não o têm. É preciso um plano de carreira que aumente o salário não só por tempo de serviço ou por mudança de função; que aumente o salário de quem continua dando aula e tenha feito cursos, por exemplo. Hoje, o professor só cresce se sair de sala de aula.
Qual o perfil de quem entra na carreira de magistério no país?
BERNARDETE GATTI: O aluno de licenciatura geralmente é o primeiro integrante da família a chegar à faculdade. A maioria, 68%, estudou em escolas públicas, com péssimo desempenho no Enem. Por um estudo de 2009, concluímos que 49% dos alunos de licenciatura vêm de famílias com renda mensal abaixo de cinco salários mínimos; e 50% têm pais que estudaram só até a 4ª série do fundamental. Isso mostra que quem se torna professor na educação básica é, em boa parte, quem teve background cultural e escolar baixo. Além disso, hoje em torno de 60% dos cursos de licenciatura são privados, o que também reflete o fato de que quem ingressa neles é porque não conseguiu entrar em faculdade pública, onde o acesso é mais difícil.
Em outra pesquisa, vocês analisaram o perfil dos cursos de licenciatura. Eles tentam compensar esse baixo desempenho escolar de quem ingressa nessas faculdades?
BERNARDETE: Nossa, mas eles nem pensam nisso. Não conseguem compensar, não. O currículo é muito comprometido. Não aprofunda as disciplinas e em muitos casos não leva a uma profissionalização adequada.
O MEC diz que houve aumento de matrículas nas licenciaturas de cursos presenciais e à distância, e que o Reuni também levou a um aumento de oferta de vagas na área.
BERNARDETE: O número de vagas federais que aumentou com o Reuni não é suficiente para atender ao déficit que temos. Além disso, mesmo que o número de cursos e vagas tenha crescido, o número de alunos não cresceu na mesma proporção, e por vezes diminuiu (por exemplo, em 2006, os cursos de Pedagogia cresceram 17% em faculdades integradas, mas o número de alunos neles caiu 24%).
Além de aumento de salário, a solução passa por quais ações?
BERNARDETE: Não é só aumentar salário. Precisa haver um plano de carreira melhor definido, e hoje cerca de 80% dos estados não o têm. É preciso um plano de carreira que aumente o salário não só por tempo de serviço ou por mudança de função; que aumente o salário de quem continua dando aula e tenha feito cursos, por exemplo. Hoje, o professor só cresce se sair de sala de aula.
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