5 de setembro de 2011

Bônus para professores




FERNANDO VELOSO



A experiência de Nova York mostrou que uma boa ideia pode não ter os efeitos positivos esperados


A notícia de que a cidade de Nova York decidiu suspender seu programa de bônus para professores teve grande repercussão no Brasil. Vários Estados e municípios implantaram, nos últimos anos, premiações para professores em função do desempenho dos alunos. Por isso, é importante entender as lições da experiência nova-iorquina.
O programa de bônus de Nova York foi uma iniciativa implantada em 2007 e de forma conjunta pela Secretaria municipal de Educação e o sindicato de professores. Seu formato foi de um projeto piloto, com duração prevista de três anos.
Foram identificadas 427 escolas públicas, das quais cerca de metade foi escolhida de forma aleatória para participar do programa (grupo de tratamento) e as demais não foram selecionadas, formando o grupo de controle.
Nas escolas participantes, professores e demais funcionários recebiam bônus caso fossem atingidas metas de desempenho, que dependiam principalmente das notas dos alunos em exames padronizados.
Desde o início, a decisão de aumentar a escala do programa estava condicionada aos resultados de sua avaliação, divulgados recentemente por pesquisadores da Rand Corporation e da Universidade de Vanderbilt (EUA).
Não foram comprovados efeitos positivos nas notas dos alunos ou nas metas de desempenho das escolas.
Também não foram constatadas diferenças nas práticas e nas atitudes dos professores entre as escolas dos grupos de tratamento e controle.
O que pode explicar tais resultados? Entrevistas realizadas com os professores fornecem informações relevantes para compreender melhor o que aconteceu.
Mais de um terço dos professores disse que não entendeu elementos fundamentais do programa, como as metas a serem cumpridas e os critérios de concessão do bônus.
As entrevistas também mostram que, embora tenham considerado válida a iniciativa de premiação, metade dos professores considerou o valor do bônus muito baixo.
Além disso, mais de 75% dos professores declararam que o sistema de responsabilização educacional de Nova York, que prevê o fechamento de escolas em função de baixo desempenho, fornece motivação igual ou superior ao bônus.
Portanto, o insucesso do programa de bônus da cidade americana pode estar associado a uma implantação inadequada de alguns elementos-chave, como transparência e valor da bonificação.
Outra lição é que o efeito de programas de premiação de professores depende dos incentivos já existentes. De fato, seus resultados têm sido melhores em países em desenvolvimento, nos quais o nível de responsabilização em geral é baixo.
Finalmente, a experiência de Nova York mostra que é preciso avaliar iniciativas inovadoras antes de replicá-las em larga escala.

Fernando Veloso, 44, é pesquisador do IBRE/FGV.
fernando.veloso@fgv.br

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