4 de setembro de 2011

'Educador não é mais um detentor e sim condutor'


04 de setembro de 2011
Educação no Brasil | O Estado de S. Paulo | Vida | BR

ENTREVISTA
Rosa Maria Farah, psicóloga

Assim como a calculadora sofreu resistência até ser admitida pelos professores de matemática, é compreensível que o tablet também conquiste seu espaço com o tempo, afirma Rosa Maria Farah. Para a psicóloga, no entanto, o uso da ferramenta só será eficaz se houver uma aplicação pedagógica bem estruturada, com a participação ativa dos alunos - uma realidade ainda distante da maior parte das escolas brasileiras. "Acredito que, na grande maioria dos casos, ainda vai ser na base do ensaio e erro", diz ela nesta entrevista ao Estado.
O uso da tecnologia na escola é um caminho sem volta?
A tecnologia é o canal do presente, já é uma forma de contato e de acesso mais atrativa que qualquer outra. Por isso, nem que seja pela simples seleção natural, isso vai acabar acontecendo.
E como a senhora avalia as experiências?
Existe uma certa desorientação das escolas. Os educadores se dão conta de que o alunado tem essa preferência, mas falta uma direção mais clara. Porque, quando se fala em educação a distância, o uso da tecnologia já está resolvido. O desafio é o uso dentro da própria escola, em aulas presenciais.
Já existe um modelo a ser seguido?
Ainda não existe um corpo conceitual adequado e consistente que ensine os educadores a usar o tablet, isso em termos de teorias pedagógicas e de ensino. Há alguns grupos empenhados de forma mais acadêmica, mas ainda é insuficiente para atender o grande número de escolas. Acredito que, na grande maioria dos casos, ainda vai ser na base do ensaio e erro. E a escola vai precisar contar com a ajuda dos próprios estudantes. Vai ter de entender o que ele tem a dizer sobre seu próprio aprendizado. O educador não é mais um detentor, é um condutor.
A tendência é que se troque o livro pelo tablet?
Nesse aspecto, só muda o suporte. Eu percebo esse temor da troca como se as pessoas fossem deixar de ler. Acontece o inverso. Sempre se questionou o custo do livro. Então, esse canal favorece o acesso e, acredito eu, o livro vai continuar existindo como um objeto quase que de luxo e esse temor vai se dissipar.
E a questão da dispersão? O aluno vai se distrair mais?
Só se a aula estiver muito chata. E isso já é um desafio do professor. Quem garante que, mesmo sem o tablet, o aluno não esteja devaneando enquanto o professor fala?
Para o professor, não resta outra saída que não se adaptar?
O professor precisa mudar algumas de suas concepções. Não dá mais, por exemplo, para avaliar a repetição de um conteúdo porque o aluno tem isso fácil, no bolso. Isso é impactante porque, pelo menos desde a Grécia Antiga, eram os mestres transmitindo o conhecimento. A mudança de séculos acontece agora. Era um mundo congelado.
No que vai melhorar?
Antes, tínhamos uma troca vertical, hoje aumenta a horizontalidade, até entre os próprios alunos. Se bem utilizado, o equipamento não substitui o afeto. Ao contrário, vai liberar mais tempo para essa troca.
Há escolas que dizem que vão resistir...
Toda evolução acontece de forma semelhante. Sempre existem os que se lançam e os movimentos de resistência. A transformação não é global e não é ruim que aconteça dessa forma. Isso exige que quem está avançando pense melhor em seus argumentos, seja menos afoito. Quando eu estudava, surgiram as calculadoras e proibiram o uso porque achavam que a gente não ia aprender matemática. É uma questão de transição. O tablet não é uma calculadora inocente, mas o processo psíquico é o mesmo.
QUEM É
Psicóloga, é professora da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e coordenadora do Núcleo de Pesquisas de Psicologia em Informática (NPPI).

Um comentário:

  1. Desconhece que tablet ao mesmo tempo pode abrir redes sociais, buscador, conteúdos, ou seja: o aluno sempre estará conectado com outros atrativos além do conteúdo da aula, responsabilizar o professor por cada equipamento nas mãos ágeis de cada aluno é fácil!, nem mesmo o patrão consegue controlar seus funcionários que usem seus computadores somente para assuntos de trabalho, ou que estes não se relacionem, discurso parece carente de compreensão de realidade humana em ambientes virtuais, tablet é bom substituto de um livro sim, mas o espaço da pessoa e o equipamento não pode ser totalmente preenchido com presença absoluta do professor em seu assunto, e dispersão dos alunos é comum..., nem sequer menciona troca de arquivo via bluetooth, ordenar alunos à busca de assuntos em pesquisas via buscador digital, já é realidade em várias escolas municipais da rede do Rio de Janeiro (Ctrl+c, Ctrl+v), mas resta uma pergunta: Será que este conteúdo rápido e indistinto de um controle maior dos meios acadêmicos e do rigor científico não seria desvirtuado?, um buscador não discerne tal fato, um professor media sim, mas não pode evitar erros de avanços tecnológicos virtuais com uma certa carga de ingenuidade, tudo é complexo, como também discutir este assunto digital em escola de forma tão simplista, comento este tema pois já faço uso de todos os meios em rede pública de 1º segmento a mais de 5 anos..., concordo plenamente que o tablet é o material futuro do aluno, mas como este o usará, não é responsabilidade única de professor, tem muitos recursos mesmo e a dispersão sempre houve, sempre continuará, só mudará o meio desta...

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