4 de setembro de 2011

Esse professor é carrasco ou mamata? : site polémico


04 de setembro de 2011
Educação no Brasil | O Globo | Rio | BR



Site polêmico classifica docentes de várias universidades e mostra se matérias são fáceis ou difíceis de passar

Leonardo Cazes leonardo.cazes@oglobo.com.br

O papo de corredor das universidades cariocas se transportou para a internet. Em apenas um mês de funcionamento, o site "Carrasco Mamata" (carrascomamata.com.br) já atingiu a marca de quase 30 mil usuários, graças a um poderoso boca a boca virtual e a um tema irresistível para qualquer estudante: classificar os professores como "carrasco" ou "mamata". Cerca de 32 mil docentes já foram cadastrados por universitários de mais de 200 instituições públicas e privadas, a maioria do Rio.
A ideia foi de três amigos de colégio: Rafael Dahis, estudante de Engenharia da Computação na UFRJ; Igor Blumberg, que faz Engenharia da Computação na PUC-Rio; e Felipe Frajhof, aluno de Engenharia de Controle e Automação da PUC-Rio. Inspirados pelo site americano "Rate my Professor" (Dê nota a meu professor, numa tradução livre), o trio levou só um mês entre a concepção e a inauguração da página. Sem enrolação, eles procuram resumir em uma pergunta o que todo mundo quer saber: essa matéria vai ser fácil ou difícil?
- Queríamos deixar o site com uma cara bem carioca, mais simples que o americano. Pedir para dar estrelinhas ou notas ficaria meio quadrado. Então, preferimos ser objetivos e responder o que todos se perguntam antes de pegar uma matéria na faculdade - conta Dahis, que não considera o nome pejorativo. - Apenas utilizamos as gírias que definem quão rigoroso um professor é nas suas avaliações.
Sucesso da página sobrecarregou Facebook
O sucesso repentino foi tão grande que até gerou um problema com o Facebook. Cada vez que uma pessoa começava a utilizar o serviço, uma mensagem era postada em seu mural na rede social. Só que foram tantas, e em tão pouco tempo, que a "equipe" de Mark Zuckerberg (criador da rede social) desativou o serviço. Nada que tenha impedido o site de continuar ganhando colaboradores.
Um deles foi Marcelo Abramovitch, estudante do 7º período de direito da PUC-Rio. Neste semestre, na dúvida entre dois professores de uma disciplina fora de sua área, consultou a página e escolheu o mais "mamata":
- Antes da inscrição, dei uma olhada geral para ver o que estava me esperando.
Mas se a brincadeira é sucesso absoluto entre os alunos, os docentes não têm posição fechada. O professor Salacier Nasser, do Departamento de Matemática Aplicada da Universidade Federal Fluminense (UFF), foi votado até agora como a maior "mamata", com 59 votos a favor e só dois contra. Com quase 40 anos de experiência como educador, ele demonstra tranquilidade em relação ao "título" e garante que o mérito é todo dos alunos.
- A brincadeira é interessante na medida em que cabe ao aluno querer o melhor em qualidade e quantidade de conteúdo especifico. Porém "mamata" não significa facilidade para eles, pois são muito cobrados e exigidos nas avaliações - diz Nasser.
Diretora da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Adufrj), a professora Maria Malta também não vê problemas na proposta. Ela está, inclusive, cadastrada no site: dois votos para mamata e um voto para carrasco.
- É saudável, divertido e válido porque eles usam a identificação deles com os professores para construir uma opinião coletiva.
Sindicato de professores critica iniciativa
Para Rafael Dahis, um dos criadores do site, ser considerado "carrasco" ou "mamata" não significa ser melhor ou pior.
- A votação sobre cada um no site pode até ser exagerada, mas costuma refletir a realidade. Agora, o que é melhor? Não dá para dizer, é uma discussão que não termina nunca - afirma.
Já o presidente do Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro (Sinpro-Rio), que reúne profissionais de instituições privadas da educação básica e superior, é contra. Wanderley Quêdo acredita que a honra das pessoas pode ser ofendida.
- O que significa ser mamata? Sou ruim? Negligente? Isso é um ferimento de honra e afeta o professor. Porque, como o voto é anônimo, abre espaço para manipulação ou brincadeiras que podem não ter resultado positivo. Há espaços mais adequados para a avaliação dos profissionais dentro das faculdades. Os alunos, de modo geral, comentam isso nos corredores. Quando se coloca num site, pode destruir a imagem de um profissional - critica Quêdo.
Os rapazes garantem que nenhum professor na faculdade reclamou da iniciativa e até ouviram comentários sobre brincadeiras em sala de aula devido às classificações no site.
Agora, o trio trabalha em melhorias no site a fim de prepará-lo para quando as inscrições em disciplinas estiverem abertas de novo, no próximo semestre letivo. O objetivo é incorporar funcionalidades.
- Temos essa característica sazonal. Mas quisemos colocar no ar logo para bombar e depois aumentar o número de recursos - diz Felipe.

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