7 de setembro de 2011

O desafio da competitividade brasileira


07 de setembro de 2011
Educação no Brasil | O Estado de S. Paulo | Economia | BR

Carlos Arruda 

O Fórum Econômico Mundial (FEM) divulga hoje o Global Competitiveness Report, o Relatório Global de Competitividade que relata as condições de competitividade de 142 países. No ranking geral, o Brasil ganhou cinco posições, passando a ser a 53.ª economia mais competitiva do mundo. A princípio, essa é uma boa notícia e revela um certo avanço, mas a comemoração deve ter bom senso. Temos de analisar por que ainda estamos nessa posição, mesmo sendo a 7.ª economia do mundo.
No ranking o Brasil está atrás de Estônia e Hungria e de países com sérios problemas econômicos como Portugal, Espanha, Irlanda e Itália. Explicar tal fato é um desafio tanto para os analistas do FEM quanto para os da Fundação Dom Cabral, responsável por coletar e analisar os dados do Brasil. A resposta pode estar nas diferenças do que entendemos por competitividade. Enquanto temos a tendência de entendê-la como um fator diretamente relacionado ao tamanho de nossa economia, o ranking do Fórum Econômico Mundial considera uma extensa lista de variáveis, que inclui estrutura regulatória, sistema tributário, eficiência das ações do governo, investimentos e qualidade da educação, saúde, infraestrutura, disponibilidade e qualidade de tecnologias de informação e de comunicação, performance do setor empresarial, questões relacionadas à corrupção, sonegação de impostos, governança pública e privada, valores e segurança pessoal e patrimonial.
Assim, nessa rigorosa análise do FEM, encontramos o Brasil, o país da promissora e sétima maior economia do mundo, no 53.º lugar entre os 142 países pesquisados. Analisar esse paradoxo é importante para entender nossos desafios. O Global Competitiveness Report revela que os nossos pontos fortes são resultado de políticas que soubemos estabelecer ao longo dos anos. Por outro lado, o documento mostra que os pontos fracos são exatamente aqueles que já sabemos há décadas. O Brasil vem demonstrando capacidade de incluir na economia milhões de novos brasileiros que antes viviam em condições miseráveis. O esforço coletivo de criar um ambiente empresarial sofisticado com qualidade e desempenho acima da média faz com que o País tenha empresas reconhecidas em todo o mundo e que seja um ambiente atrativo para novos investimentos estrangeiros. O Brasil está também entre os 10 principais países do mundo na geração de conhecimento científico de relevância internacional. Apesar de não termos nenhuma universidade classificada entre as 200 melhores do mundo, nossos professores e pesquisadores se destacam na publicação científica especializada.
Mas, para aproveitar melhor esses pontos positivos, precisamos resolver problemas históricos. Nosso marco regulatório e nosso sistema tributário estão defasados; nossos investimentos em infraestrutura, educação básica e saúde não têm sido suficientes; e a ineficiência e o desrespeito no uso do dinheiro público têm sido uma marca histórica que ainda não superamos. De 2009 até hoje, o relatório nos mostra, por exemplo, uma preocupante queda nos índices de educação básica e saúde. Em 2009 nossa posição nesse quesito era a 79.ª; em 2010 caímos para a 87.ª; e em 2011 mantivemos a mesma colocação. A análise de infraestrutura deste ano tem resultados muito parecidos com os do último relatório: estávamos em 62.º lugar em 2010 e hoje ocupamos o 64.º, posição nada confortável para um país que pretende crescer ainda mais.
O Brasil do passado nos persegue com problemas básicos e pode atrapalhar nossos planos de futuro. Superar essas deficiências vai exigir um comprometimento de todas as esferas do governo e também da sociedade. Sim, é importante comemorar o ganho de cinco posições no ranking de competitividade internacional, mas também é hora de uma análise lúcida pelo bem do futuro do País. Ainda temos grandes desafios históricos e de base a superar e temos de nos concentrar neles, se quisermos que todo nosso potencial competitivo se torne uma realidade condizente com nossa posição de 7.ª economia do mundo.
É COORDENADOR DO NÚCLEO DE INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE DA FUNDAÇÃO DOM CABRAL

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