5 de setembro de 2011

UNB: Passaporte para os alunos de escolas públicas?


05 de setembro de 2011
Educação no Brasil | Correio Braziliense | Eu, estudante | BR

Segundo a diretora técnica de graduação da UnB, Denise Imbroisi, a proporção de alunos deas duas redes de ensino na universidade é semelhante. Mas o número não é revelado pela UnB. O desequilíbrio, segundo a decana, acontece dependendo do curso. Ela explica que, normalmente, nos cursos que possuem maior demanda, há predominância de alunos que vieram de escolas particulares. Geronilson da Silva Santos, aluno do 3º ano do Setor Leste, dá maiores detalhes. "Não temos a mesma quantidade de simulados que os alunos da rede privada. Isso acaba afetando diretamente o nosso desempenho", critica.
Críticas
O coordenador do curso de graduação de pedagogia da UnB, Cleiton Contigio, defende que o Programa de Avaliação Seriada (PAS) peca por não oferecer as mesmas oportunidades aos alunos das escolas pública e privadas. Segundo o acadêmico, a prova é elaborada com base em um conteúdo que foge aos "saberes essenciais" do ensino médio. Ou seja, a avaliação se atém a detalhes que, segundo ele, não possuem grande relevância, mas acabam por beneficiar o aluno da rede particular. "Eles têm uma carga horária muito maior do que os alunos da rede pública e, por isso, uma oportunidade maior de explorar melhor o conteúdo."
Segundo Contigio, existe também uma grave deficiência por parte dos professores em geral ao ministrarem as aulas de maneira interdisciplinar". A prova do PAS exige que o aluno consiga resolver o problema utilizando conhecimentos de diferentes áreas. Isso tem de ser trabalhado em sala de aula. Mas, infelizmente, nossos profissionais ainda estão muito presos ao vestibular tradicional", constata.
Outro ponto delicado do PAS é a iniciação muitas vezes precoce do estudante no mundo adulto. "Um desempenho pífio nas primeiras provas pode ser perfeitamente contornável. Mas o aluno acaba jogando fora a oportunidade por se sentir já derrotado." Para Contigio, nesse momento o apoio da família e dos professores é fundamental para que o aluno não se sinta desmotivado.
Ferramenta elitista
Prestes a completar 15 anos, o PAS consagra-se ainda como um instrumento elitista para a admissão de estudantes na UnB. Basta conversar com alguns alunos da rede pública de ensino para perceber como a competição é vista como injusta pelos jovens. Para Letícia Christie Fernandes, aluna do terceiro ano do Setor Leste, a carga horária reduzida prejudica a qualidade do ensino. "Temos apenas três aulas de matemática por semana enquanto a rede particular tem pelo menos cinco". A opinião da jovem é corroborada pela da colega Yohana Caroline de Lima, também do terceiro ano. "A gente vê os colégios aplicando simulados todos os fins de semana. A gente não tem isso. É uma pena", lamenta.
Segundo Alice Menezes, coordenadora do Setor Leste, o maior problema que os professores enfrentam na preparação de seus alunos é trabalhar o conteúdo de forma interdisciplinar. "É assim que o PAS cobra o conteúdo. Mas nossos professores ainda estão muito ligados ao vestibular tradicional." A coordenadora acredita, também, que apenas uma reformulação profunda na rede de ensino poderia deixar os alunos da rede pública mais preparados. "Não adianta colocar nossos profissionais em um curso de 20 horas. Temos realmente que investir em formação para podermos colher bons resultados. Senão, chegar a ser desanimador, tanto para o professor quanto para o aluno".
O professor de biologia Jamir Batista ilustra bem essa situação. Com 38 anos de sala de aula, o acadêmico diz que não sentiu muita diferença no empenho dos alunos com a criação do PAS. "Infelizmente, são tão poucas vagas e nossa condição é tão limitada que até os alunos acabam se desestimulando". Mesmo assim, o professor não é contra o programa: "Podia ser melhor, mas melhor com o PAS do que sem ele".
Basta, no entanto, cruzar a cidade para ver o avesso dessa realidade. Conversando com alunos do Colégio Mackenzie, localizado em um dos bairros mais nobres de Brasília, fica claro que a aprovação do PAS não é um sonho distante. Gabriela Castro Freire, 17, aluna do terceiro ano, diz que complementa seus estudos com aulas no período da tarde. "Se eu não passar de primeira, vou fazer cursinho. Meus pais me apoiam nesse sentido", garante. Sentado ao seu lado, o colega André Lara Rezende concorda e lembra que o PAS também é muito restrito, por selecionar alunos apenas para a UnB. "Nesse aspecto, eu prefiro o Enem, que permite a entrada em várias universidades federais por todo o país."

Fala, estudante!
O PAS fez você estudar mais durante o ensino médio?
Juliana Silva de Deus, 17 anos, 3º ano, Setor Leste
"Até que sim. Eu me preparei para o PAS fazendo os deveres de casa e estudando as matérias em que tenho mais dificuldade. Minha família também acompanha de perto. Minha mãe cobra bastante que eu estude."
Geronilson da Silva Santos, 17 anos, 3º ano, Setor Leste
"Sim. O PAS ajudou muito, pois o programa traz outras abordagens. São assuntos que a gente não estudaria nem se dedicaria a aprender, normalmente. É preciso sempre procurar novas fontes de conhecimento."
Natalia Paloma Rodrigues, 16 anos, 2º ano, Setor Leste
"Sim. Escolhi um dia na semana para ficar sozinha na biblioteca e estudar para o PAS . Não tinha o costume de fazer isso. E não se adianta sentar com amigos ou ficar em casa porque não rende."
André William, 17 anos, 3º ano, Setor Leste
"Olha, no primeiro ano, eu estava até incentivado a estudar. Estudei bastante. Mas já não foi a mesma coisa para a segunda etapa por causa da minha primeira nota. Eu acompanho as aulas e tento estudar em casa, mas não tenho horário certo."

Fique ligado
Inscrições /Pas e vestibular
As inscrições para o 1º vestibular de 2012 e o PAS podem ser feitas no período de 26 de setembro a 16 de outubro. Na mesma data, os candidatos poderão se inscrever para os processos de certificação de habilidades específicas, proficiência em inglês e espanhol, transferência facultativa para o 1º semestre de 2012 e admissão de portadores de diplomas de ensinos superiores.
Quatro novidades pra já!
O Conselho Universitário da UnB aprovou, na semana passada, cinco novos cursos - sendo que quatro já passam a valer para o primeiro semestre de 2012 - num total de 170 vagas.
São eles: engenharia aeroespacial, engenharia química, teoria crítica e história da arte, além de bacharelado em educação física. O curso de fonoaudiologia, embora também faça parte da lista, só abrirá suas matrículas a partir do segundo semestre de 2012.

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