10 de janeiro de 2012

Argentina: antigos centros de repressão viram lugares da memória


10 de janeiro de 2012
 Agência Carta Maior | Internacional | BR

Na lógica do Nunca mais , o Estado argentino desenhou um plano de memória, verdade e justiça que busca recuperar e tornar visíveis as atrocidades cometidas durante a ditadura, por meio da Rede Federal de Lugares da memória, a cargo do Arquivo Nacional da Memória, o Estado assinalou 26 lugares vinculados com o terrorismo de Estado, 24 dos quais foram centros clandestinos de detenção. Segunda dados oficiais, mais de 500 centros clandestinos funcionaram durante a ditadura.
Francisco Luque - Direto de Buenos Aires
Passaram-se mais de 30 anos, mas ainda podem escutar-se as vozes dos prisioneiros. Os centros clandestinos de detenção, aquelas instalações secretas empregadas pelas forças armadas e pelos órgãos policiais para executar o plano sistemático de desaparecimento de pessoas implementado pela ditadura militar argentina, são o testemunho material e a prova contundente das práticas aberrantes de extermínio empregadas pelos repressores e genocidas que atuaram com total impunidade e com o amparo de um Estado terrorista.
Na lógica do Nunca mais , o Estado argentino desenhou um plano de memória, verdade e justiça que busca recuperar e tornar visíveis as atrocidades cometidas durante a ditadura, por meio da Rede Federal de Lugares da memória, a cargo do Arquivo Nacional da Memória, o Estado assinalou 26 lugares vinculados com o terrorismo de Estado, 24 dos quais foram centros clandestinos de detenção. Segunda dados oficiais, mais de 500 centros clandestinos funcionaram durante a ditadura.
O programa de identificação de lugares vinculados ao terrorismo do Estado surgiu em 2003 e se consolidou através de diversas experiências de recuperação e marcação dos lugares que foram utilizados pelas forças de segurança para deter, torturar e fazer desaparecer os opositores políticos. Seus objetivos são a reflexão crítica e a construção de memórias democráticas para que o terrorismo de Estado não volte a se repetir nunca mais .
Os 26 lugares vinculados com o terrorismo de Estado são sinalizados com placas ou com três pilares de cimento de 7 metros de altura unidos por uma viga horizontal que tem gravado o texto: Aqui funcionou o centro clandestino de detenção conhecido como...durante a ditadura militar que assaltou os poderes do Estado entre 24 de março de 1976 e 10 de dezembro de 1983 .
No dia 24 de março de 2004, com a recuperação da Escola de Mecânica da Armada (ESMA) como espaço para a memória, começou a sinalização destes lugares. Segundo um informe do Arquivo Nacional da Memória, a sinalização formal de centros clandestinos de detenção começou em novembro de 2005 e foi O chalé no Hospital Posadas, na localidade bonaerense de El Palomar, o primeiro a ganhar uma placa com as palavras Memória, Verdade e Justiça.
Mas a recuperação histórica envolve mais tempo. Em 2006 foi sinalizada a Base Aeronaval Almirante Zar e, em 2007, o antigo aeroporto de Trelew, em Chubut, lugares relacionados com o Massacre de Trelew, em 1972. Em 2010, foi sinalizada a estância A Anita , no Calafete, Santa Cruz, onde ocorreu a execução de trabalhadores rurais em 1921, na denominada Patagônia Trágica.
Na cidade de Buenos Aires foram sinalizadas a Superintendência de Segurança Federal (ex- Coordenação Federal ) da Polícia Federal Argentina, em abril de 2011; e a Garagem Olimpo (cuja história foi levada ao cinema e funcionou como dependência da Polícia Federal) foi marcada em agosto de 2011. Na província de Buenos Aires, foram sinalizados a Guarnição Campo de Maio do Exército (2008), o Destacamento de Arana ou Poço de Arana , destacamento policial da bonaerense (2009), e o Poço de Banfield , Brigada de Homicídio da polícia bonaerense (2008), onde se planeja construir um local de memória.
Em Buenos aires também foram assinaladas A cova , na Base Aérea de Mar del Plata, a Base Naval Mar del Plata; Monte Peloni , Regimento da Cavalaria de Atiradores Blindados 2, em Olavarría, onde se planeja um sítio de memórias; e La Cacha , ex-unidade penitenciária 8, cárcere.
O projeto de sinalização de centros de detenção envolve todo o país.
Na província de Córdoba, marcou-se no dia 24 de março de 2007 La Perla , um dos maiores centros clandestinos que funcionou no Esquadrão de Cavalaria Paraquedista 4 do III Corpo do Exército, onde atualmente funciona um Espaço para a Memória , Promoção e Defesa dos Direitos Humanos.
Na província de Tucumán foram sinalizados o Batalhão de Arsenais 5, Miguel de Azcuénaga , A Chefatura , Chefatura Central da Polícia de Tucumán, e a Escolhinha Escola Diego de Rojas, Faimallá (2011), onde este ano se inaugurou uma escola pública.
Na província de Entre Ríos sinalizou-se o Esquadrão de Comunicações 2 do Exército no Paraná e a Delegação Concepción do Uruguai, da Polícia Federal argentina.
Na província de Misiones, em 2011, sinalizou-se A Casinha de Mártires , em Posadas, e a Delegação Posadas, da Polícia Federal Argentina. Na província de Santiago del Estero, em 2010, o Batalhão de Engenheiros de Combate 141, na capital. E na província de La Rioja, também em 2011, a Base Aérea Militar de Chamical, atual Esquadrão de Apoio Operacional.
Além disso, está previsto para este ano que sejam sinalizados a Garagem Azopardo , em Buenos Aires; a Escola de Suboficiais de Infantaria da Marinha, o Farol de Mar del Plata; a Brigada Aérea de El Palomar; a VII Brigada Aérea de Morón; a Casa do SIN, em Thames e Panamericana, San Isidro; o Comissariado 1 de Escobar; e a Escolinha , de Baía Blanca. Na província de Neuquén, está prevista a identificação da Escolinha no ex-Batalhão de Engenheiros de Construções 181, e, em Tucumán, a sinalização definitiva de Faimallá e da Brigada de Investigações da polícia provincial.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

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