4 de janeiro de 2012

Ceará: alta de 80% nos homicídios em uma década


Segurança

Índice saltou de 16 para 29 assassinatos a cada 100.000 habitantes de 2000 para 2010. Em Fortaleza, a taxa chega a 42 mortes

Rita de Sousa
O clima de medo que tomou conta de Fortaleza nos últimos dias por causa da greve de policiais militares e bombeiros no Ceará tem razão de ser. Até que a paralisação fosse encerrada, já na madrugada desta quarta-feira, a falta de patrulhamento na cidade havia encorajado criminosos a sair às ruas e atacar pedestres, motoristas e o comércio. E, apesar do acordo, a situação no estado ainda não foi completamente resolvida, já que os policiais civis decidiram entrar em greve na madrugada desta terça-feira. É a terceira paralisação da categoria desde julho de 2011. A situação instaurada na capital cearense nos últimos dias é reflexo de um triste fenômeno: o salto da criminalidade em regiões do Norte e Nordeste, que sofrem com a migração da bandidagem expulsa dos grandes centros. Para se ter uma ideia, a taxa de homicídios a cada 100.000 habitantes - um termômetro da segurança pública - subiu 80% no Ceará em dez anos. Em 2000, o índice era de 16,5 mortes. Pulou para 29,7 em 2010. Segundo o Ministério da Justiça, o Ceará tem um efetivo de 15.258 policiais militares, maior do que Alagoas e Maranhão. No estado, trabalham 1.659 bombeiros. 
A capital, Fortaleza, e a região metropolitana ainda concentram a maioria dos crimes (a taxa de assassinatos é de 42,9). No interior, a incidência de homicídios dobrou no período, pulando de 10,1 para 20,3 a cada 100.000 habitantes. Os dados constam do Mapa da Violência 2012, do Instituto Sangari, que compila dados do Ministério da Justiça e foi divulgado em dezembro. O estudo mostra que Fortaleza subiu sete posições em um lamentável ranking, o das cidades com maior taxa de homicídios: passou da 19º colocação em 2000 para o 12º lugar em 2010.
Até a década de 1980, as grandes metrópoles concentravam riqueza, investimentos, indústrias e comércio de maior porte, o que atraía a imigração de trabalhadores e, consequentemente, maiores índices de criminalidade. No início da década de 1990, foi consolidado o movimento de desconcentração econômica no Brasil, com a indústria se instalando em regiões do Nordeste ou no interior dos estados, o que atraiu mão-de-obra – especializada ou não –, imigrantes e a criminalidade para regiões que não tinham tradição nem condições de enfrentá-la.
"Esses novos polos de crescimento são atrativos de pessoas e criminalidade e estavam historicamente despreparados para combatê-la", afirma Julio Jacobo Waiselfisz, Diretor de Pesquisas do Instituto Sangari. 
Configuração - Em meados da década de 1990, o Ministério da Justiça criou o Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), um pacote de combate à criminalidade que levou para as grandes metrópoles melhorias para as forças policiais, como treinamento, estrutura tecnológica, conceitos de qualidade, aparelhamento, recursos e investimento. Isso acabou empurrando a violência para o interior. São Paulo, por exemplo, ocupava o 4º lugar no ranking nacional de crimes em 2000 e despencou para a 25ª posição em 2010.
"O plano nacional de combate ao crime expulsou a criminalidade dos grandes centros", afirma Waiselfisz, que explica que o deslocamento da violência para regiões emergentes, como Pará, Ceará, Alagoas e Mato Grosso fez crescer o índice de homicídios nessas regiões.
"A taxa de homicídios no Brasil está estagnada entre 25% e 26% desde 2000, porque, ao mesmo tempo em que diminuiu nos grandes centros urbanos, aumentou em outras regiões. É uma nova configuração da violência. O que acontece no Ceará é igual ao que acontece em outras 17 unidades federativas", explica Waiselfisz. "Mato Grosso, Maranhão, Santa Catarina, Minas Gerais, Sergipe e outros estados que apresentam crescimento na taxa de homicídios compõem o contexto nacional, refletindo a forte tendência de receber a violência de fora. Alagoas é o estado mais violento no momento”.
Veja abaixo o aumento dos homicídios no estado:

Nenhum comentário:

Postar um comentário