11 de fevereiro de 2012
Folha.com | BR
Aloizio Mercadante completou ontem 18 dias a frente do Ministério da Educação prometendo dar continuidade ao trabalho de seu antecessor, Fernando Haddad, mas com um discurso com forte ênfase no uso de tecnologias para melhorar a qualidade do ensino.Antes de pensar em grandes projetos, no entanto, ele precisará resolver problemas imediatos, como uma melhor gestão do Enem. Em entrevista àFolha, ele disse que a metodologia de correção das redações --alvo de contestações na Justiça-- vai mudar a favor dos alunos. Mas não garantiu a realização de duas provas em 2013.
O ministro, que quando candidato ao governo de São Paulo criticou duramente o que classificava como "aprovação automática", diz que não alterará a orientação --em vigor hoje no MEC-- de não reprovar alunos dos ciclos iniciais.
Leia a íntegra da entrevista:
*
Folha - No que o senhor vai se diferenciar do ex-ministro Fernando Haddad?
Mercadante - Primeiro eu quero continuar, porque educação é continuidade. Se tivermos que ajustar alguns programas, nós ajustaremos. Eu espero poder continuar ampliando o acesso, melhorando a qualidade do ensino, a formação dos professores, colocando a educação como a política pública mais importante do Brasil.
Mais importante de como eu vou sair, é como os alunos vão sair da escola. E o tempo dessas crianças que estão na escola é hoje, é agora, e é a isso que vou me dedicar.
Somos a sexta economia do mundo e temos condições de avançar. Mas temos de olhar mais além, que é construir um país desenvolvido e só seremos desenvolvidos se tivermos uma educação universal de qualidade.
O que eu sinto na presidenta Dilma é esse mesmo compromisso com a educação e também um olhar muito especial para a articulação entre educação e a ciência, tecnologia e inovação.
O senhor se mostrou favorável a levar o ensino superior para o Ministério da Ciência e Tecnologia, quando era titular dessa pasta, e até citou que alguns países tinham feito isso. Qual a sua posição agora?
É a mesma. Eu disse que esse era um debate do Congresso Nacional e, como ministro de Estado, não me cabia nenhum posicionamento. Mas de fato esse modelo existe em alguns países com a educação superior articulada ao sistema de ciência, tecnologia e inovação.
No entanto, há um outro lado dessa discussão, que é o papel indispensável das universidades para melhorar a qualidade de ensino básico, do fundamental, do ensino médio, em uma maior integração orgânica com a formação continuada, com a profissionalização dos professores, com a reflexão pedagógica.
Então o senhor defende que o ensino superior continue no MEC?
Para consolidar esse processo que é o maior desafio que temos hoje, que é dar qualidade ao ensino, criar uma escola mais atraente, mais acolhedora, para articular profissionalização e educação regular.
Neste início de gestão, ficou a impressão de que o senhor acredita que a tecnologia, que ainda não provou ser eficaz na sala de aula, salvará a educação. É uma impressão errada?
A tecnologia não é um objetivo em si mesma no processo educacional e sim um instrumento que pode contribuir para um salto de qualidade. Cada vez mais a tecnologia da informação está presente. Essa é a sociedade do futuro, uma sociedade do conhecimento, da informação.
A escola tem de ser um agente que contribua para esse processo da inclusão digital. E mais: não só preparar a juventude para utilizar essa ferramenta no mundo do trabalho e no mundo da ciência, como utilizar essa ferramenta no processo de aprendizagem.
O que é que estamos definindo no MEC? Primeiro que esse processo vai começar pelo professor, porque por ele você tem muito mais segurança do processo pedagógico. E porque o arranjo social da sala de aula e o quadro negro são do século 18, os professores são do século 20 e os alunos são do século 21. Os professores, nós todos somos analógicos e imigrantes digitais. Os alunos são nativos digitais.
E vamos começar pelo ensino médio, que é onde está o maior índice de evasão escolar, onde a pesquisa mostra que os alunos estão buscando mais o trabalho porque acham a escola desinteressante. Começaremos com um tablet, que é um instrumento muito amigável de pesquisa e distribuição de informações, com o respaldo de um material pedagógico digital que nós já temos para disponibilizar.
Nós vamos ter a partir de abril o Khan Academy, que é reconhecidamente um portal de excelência em termos de didática e conteúdo, traduzido para o português e oferecido gratuitamente para todos os professores da rede.
O tablet vai estar dialogando com um projetor digital, que estamos distribuindo para as escolas. Então toda a pesquisa que o professor fez no tablet, ele pode jogar no projetor digital e colocar diretamente para o aluno na sala de aula, com um custo muito pequeno.
A experiência com o UCA (Programa Um Computador Por Aluno), por exemplo, teve o relatório feito pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) foi bastante crítico.
Sobre o Uca, é uma prova de conceito, está sendo implantada entre outras experiências digitais em andamento em cinco escolas por estado e cinco municípios com UCA total, totalmente integral. Tem 27 grupos de pesquisa analisando essa experiência, sobre todas as possibilidades, exatamente para a gente ter uma reflexão pedagógica prévia, porque nós só compramos 150 mil laptops, em um universo de 56 milhões de alunos. Então é uma experiência localizada, é um observatório pedagógico. E também pesquisamos a experiência digital em 18 países.
A pesquisa da professora Lena Lavinas (da UFRJ) tem conclusões nas quais ela diz coisas assim [começa a ler o relatório]: "resultado notável dessa análise de painel é descobrir que dar um laptop para uma criança de seis anos, logo no início do seu processo de alfabetização, tem um impacto muito positivo pois aumenta a sua propensão a aprender a ler e a escrever nessa faixa etária". Ela diz que o ideal é que possa levar para casa, que é o que estamos fazendo com o tablet para o professor.
Ela diz que "sem o UCA, alunos extremamente pobres, dificilmente poderiam dispor de um computador e ter acesso regular à informática". Ou seja, você teria um apartheid digital no país, se a escola não enfrentar essa questão.
"A autoestima dos alunos aumentou com a aquisição do computador. Muitos professores tiveram a sua autoestima abalada, alguns se sentiram humilhados frente a essa novidade a qual ainda não conseguem se apropriar". Isso reforça a nossa estratégia de começar pelo professor.
Será que tudo isso que aconteceu com a tecnologia, com a evolução, não ajudará a gente a fazer uma escola muito mais criativa, mais interativa, que desperte mais inovação, curiosidade nos alunos? Eu acho que vai ter, mas tem de ter cuidado pedagógico.
Como atacar o problema no ensino médio que o senhor próprio descreveu como o "nó da educação"?
O primeiro instrumento é o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego). Nós precisamos romper a dualidade estrutural entre ensino regular e ensino técnico profissionalizante. Isso porque uma parte dessa juventude não vai para a escola porque diz que ela não é interessante.
Então temos de fazer uma escola criativa e inovadora, daí a ideia dos tablets e do portal digital começar pelo ensino médio, para motivar os alunos e os professores. E também buscar articular a formação técnico profissionalizante com o ensino regular. Com isso nós esperamos aumentar a demanda de opções e a oferta de matrícula.
Segundo nós temos o programa Ensino Médio Inovador, que é buscar novos currículos, reformar a grade de ensino, para tentar atender as novas demandas, os novos interesses, fazer uma escola mais criativa, mais inovadora, inclusive com parcerias com entidades que têm tido uma boa experiência na nossa avaliação.
O outro ponto é continuar fortalecendo e expandindo a rede de institutos federais, porque elas são o eixo estruturante em termos de qualidade nesse processo. Ali você tem um roteiro pedagógico integrado.
Mas o ensino técnico é uma agenda antiga. Qual a abordagem inovadora?
O que tem de novo primeiro são as parcerias que nós não tivemos na história recente entre o MEC e o sistema S. É um espaço muito qualificado e que pode dar uma resposta muito importante. Vamos ter a bolsa formação, que se divide entre bolsa formação do estudante e bolsa formação profissional.
Por exemplo, quase 2 milhões de trabalhadores na indústria não têm ensino fundamental ou são analfabetos. Essa é uma estrutura que estamos propondo agora uma parceria com a bolsa formação do trabalhador. Nós vamos dar financiamento do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) para a empresa formar esses trabalhadores. Acho que é uma parceria inteligente que pode dar certo.
O Enem vai parar de ter tanto problema?
Existe algum país desenvolvido que não tenha um exame semelhante ao Enem? Não, o Enem está ancorado numa estrutura de avaliação que todos os países desenvolvidos construíram. É um caminho republicando, democrático de acesso, que é a meritocracia.
O crescimento do Enem no Brasil é uma coisa espetacular, são 5 milhões de alunos. É muito mais complexo fazer um exame desse tamanho num país continental e que não tem a tradição.
Temos que melhorar a gestão? Evidentemente que temos que melhorar. Tem havido um esforço muito grande do MEC e melhorou muito a logística. Houve um avanço importante do ponto de vista logístico de aprimoramento.
Na TRI (Teoria de Resposta ao Item), que é indispensável ao Enem, precisamos aumentar o banco de itens e já estamos trabalhando fortemente nessa direção.
Nos Estados Unidos, eles construíram um sistema com mais de 100 mil questões. Se tivéssemos algo como 50 mil questões (hoje são 6 mil), não teríamos mais dificuldades para fazer o exame, pois quanto mais itens, menos riscos.
A meta é chegar a quantos itens?
Posso dizer que estamos trabalhando fortemente para aumentar de forma expressiva ao longo deste ano o nosso banco de itens, mas vamos aguardar. Tudo o que diz respeito ao Enem, quanto mais cuidado a gente tiver na divulgação, melhor para o sistema.
Além de ampliar o banco de itens, uma segunda providência que já tomamos foi constituir uma comissão técnica de alto nível para discutir a metodologia da prova.
E vamos melhorar a correção da redação a favor dos alunos. Vamos mudar a metodologia de correção e criar procedimentos mais rigorosos e que deem mais segurança na avaliação final. No momento adequado, vamos anunciar. O importante é que os jovens continuem estudando.
Haverá dois exames no ano que vem?
Estamos trabalhando nessa possibilidade. Se aumentarmos o banco de itens, teremos essa possibilidade. Primeiro vamos resolver o banco de itens porque sem isso não temos as condições de fazer com segurança dois exames ao ano.
Muitos educadores criticam o MEC por divulgar notas por escola do Enem e na Prova Brasil. O senhor pretende mudar isso?
Os pais não podem saber o que está acontecendo com os alunos se não houver um ranqueamento. Quando você compara, você permite uma discussão de metas e qualidade. As metas são fundamentais para que o sistema possa evoluir. Como posso projetar uma meta de qualidade se eu não tenho um ponto de referência de avaliação? Como posso construir metas consistentes se não sei como o conjunto de sistema está se movendo?
O senhor bateu muito no que chamou de aprovação automática quando foi candidato ao governo de São Paulo. O MEC, no entanto, orienta os municípios a não repetirem os anos iniciais do ensino fundamental. Manterá essa política?
O que nós vamos trabalhar no primeiro ciclo, dos seis aos oito anos de idade, é apresentar um programa de alfabetização na idade certa. É indispensável que nesse primeiro ciclo a criança saiba ler e escrever. É uma questão central do sistema. Precisamos criar uma consciência na rede de que os melhores professores, nos melhores horários e nas melhores salas de aula, com material pedagógico estruturado, devem ser ofertados para os alunos nesse primeiro ciclo.
Quando o senhor diz material estruturado, quer dizer apostilas de alfabetização?
Material estruturado não é material padronizado, como apostilas. Do ponto de vista pedagógico, temos muitos caminhos e muitas opções, e vamos respeitar a pluralidade. Será um material de qualidade, diversificado, e em quantidade suficiente para todos os alunos.
Temos nessa questão dois caminhos a superar. Um é a indústria da repetência, que é o reconhecimento do fracasso pedagógico. Mas igualmente temos que superar a aprovação automática, em que o aluno não domina as habilidades e condições necessárias para aquela etapa do processo. Precisamos ter acompanhamento pedagógico mais consistente.
Estamos trabalhando também com a ideia de ter algo semelhante a uma residência médica para os professores, com tutoria, inclusive com visita a casa dos alunos que tenham maior dificuldade de aprendizagem, como um médico de família.
O ministro, que quando candidato ao governo de São Paulo criticou duramente o que classificava como "aprovação automática", diz que não alterará a orientação --em vigor hoje no MEC-- de não reprovar alunos dos ciclos iniciais.
Leia a íntegra da entrevista:
*
Folha - No que o senhor vai se diferenciar do ex-ministro Fernando Haddad?
Mercadante - Primeiro eu quero continuar, porque educação é continuidade. Se tivermos que ajustar alguns programas, nós ajustaremos. Eu espero poder continuar ampliando o acesso, melhorando a qualidade do ensino, a formação dos professores, colocando a educação como a política pública mais importante do Brasil.
Mais importante de como eu vou sair, é como os alunos vão sair da escola. E o tempo dessas crianças que estão na escola é hoje, é agora, e é a isso que vou me dedicar.
Somos a sexta economia do mundo e temos condições de avançar. Mas temos de olhar mais além, que é construir um país desenvolvido e só seremos desenvolvidos se tivermos uma educação universal de qualidade.
O que eu sinto na presidenta Dilma é esse mesmo compromisso com a educação e também um olhar muito especial para a articulação entre educação e a ciência, tecnologia e inovação.
O senhor se mostrou favorável a levar o ensino superior para o Ministério da Ciência e Tecnologia, quando era titular dessa pasta, e até citou que alguns países tinham feito isso. Qual a sua posição agora?
É a mesma. Eu disse que esse era um debate do Congresso Nacional e, como ministro de Estado, não me cabia nenhum posicionamento. Mas de fato esse modelo existe em alguns países com a educação superior articulada ao sistema de ciência, tecnologia e inovação.
No entanto, há um outro lado dessa discussão, que é o papel indispensável das universidades para melhorar a qualidade de ensino básico, do fundamental, do ensino médio, em uma maior integração orgânica com a formação continuada, com a profissionalização dos professores, com a reflexão pedagógica.
Então o senhor defende que o ensino superior continue no MEC?
Para consolidar esse processo que é o maior desafio que temos hoje, que é dar qualidade ao ensino, criar uma escola mais atraente, mais acolhedora, para articular profissionalização e educação regular.
Neste início de gestão, ficou a impressão de que o senhor acredita que a tecnologia, que ainda não provou ser eficaz na sala de aula, salvará a educação. É uma impressão errada?
A tecnologia não é um objetivo em si mesma no processo educacional e sim um instrumento que pode contribuir para um salto de qualidade. Cada vez mais a tecnologia da informação está presente. Essa é a sociedade do futuro, uma sociedade do conhecimento, da informação.
A escola tem de ser um agente que contribua para esse processo da inclusão digital. E mais: não só preparar a juventude para utilizar essa ferramenta no mundo do trabalho e no mundo da ciência, como utilizar essa ferramenta no processo de aprendizagem.
O que é que estamos definindo no MEC? Primeiro que esse processo vai começar pelo professor, porque por ele você tem muito mais segurança do processo pedagógico. E porque o arranjo social da sala de aula e o quadro negro são do século 18, os professores são do século 20 e os alunos são do século 21. Os professores, nós todos somos analógicos e imigrantes digitais. Os alunos são nativos digitais.
E vamos começar pelo ensino médio, que é onde está o maior índice de evasão escolar, onde a pesquisa mostra que os alunos estão buscando mais o trabalho porque acham a escola desinteressante. Começaremos com um tablet, que é um instrumento muito amigável de pesquisa e distribuição de informações, com o respaldo de um material pedagógico digital que nós já temos para disponibilizar.
Nós vamos ter a partir de abril o Khan Academy, que é reconhecidamente um portal de excelência em termos de didática e conteúdo, traduzido para o português e oferecido gratuitamente para todos os professores da rede.
O tablet vai estar dialogando com um projetor digital, que estamos distribuindo para as escolas. Então toda a pesquisa que o professor fez no tablet, ele pode jogar no projetor digital e colocar diretamente para o aluno na sala de aula, com um custo muito pequeno.
A experiência com o UCA (Programa Um Computador Por Aluno), por exemplo, teve o relatório feito pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) foi bastante crítico.
Sobre o Uca, é uma prova de conceito, está sendo implantada entre outras experiências digitais em andamento em cinco escolas por estado e cinco municípios com UCA total, totalmente integral. Tem 27 grupos de pesquisa analisando essa experiência, sobre todas as possibilidades, exatamente para a gente ter uma reflexão pedagógica prévia, porque nós só compramos 150 mil laptops, em um universo de 56 milhões de alunos. Então é uma experiência localizada, é um observatório pedagógico. E também pesquisamos a experiência digital em 18 países.
A pesquisa da professora Lena Lavinas (da UFRJ) tem conclusões nas quais ela diz coisas assim [começa a ler o relatório]: "resultado notável dessa análise de painel é descobrir que dar um laptop para uma criança de seis anos, logo no início do seu processo de alfabetização, tem um impacto muito positivo pois aumenta a sua propensão a aprender a ler e a escrever nessa faixa etária". Ela diz que o ideal é que possa levar para casa, que é o que estamos fazendo com o tablet para o professor.
Ela diz que "sem o UCA, alunos extremamente pobres, dificilmente poderiam dispor de um computador e ter acesso regular à informática". Ou seja, você teria um apartheid digital no país, se a escola não enfrentar essa questão.
"A autoestima dos alunos aumentou com a aquisição do computador. Muitos professores tiveram a sua autoestima abalada, alguns se sentiram humilhados frente a essa novidade a qual ainda não conseguem se apropriar". Isso reforça a nossa estratégia de começar pelo professor.
Será que tudo isso que aconteceu com a tecnologia, com a evolução, não ajudará a gente a fazer uma escola muito mais criativa, mais interativa, que desperte mais inovação, curiosidade nos alunos? Eu acho que vai ter, mas tem de ter cuidado pedagógico.
Como atacar o problema no ensino médio que o senhor próprio descreveu como o "nó da educação"?
O primeiro instrumento é o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego). Nós precisamos romper a dualidade estrutural entre ensino regular e ensino técnico profissionalizante. Isso porque uma parte dessa juventude não vai para a escola porque diz que ela não é interessante.
Então temos de fazer uma escola criativa e inovadora, daí a ideia dos tablets e do portal digital começar pelo ensino médio, para motivar os alunos e os professores. E também buscar articular a formação técnico profissionalizante com o ensino regular. Com isso nós esperamos aumentar a demanda de opções e a oferta de matrícula.
Segundo nós temos o programa Ensino Médio Inovador, que é buscar novos currículos, reformar a grade de ensino, para tentar atender as novas demandas, os novos interesses, fazer uma escola mais criativa, mais inovadora, inclusive com parcerias com entidades que têm tido uma boa experiência na nossa avaliação.
O outro ponto é continuar fortalecendo e expandindo a rede de institutos federais, porque elas são o eixo estruturante em termos de qualidade nesse processo. Ali você tem um roteiro pedagógico integrado.
Mas o ensino técnico é uma agenda antiga. Qual a abordagem inovadora?
O que tem de novo primeiro são as parcerias que nós não tivemos na história recente entre o MEC e o sistema S. É um espaço muito qualificado e que pode dar uma resposta muito importante. Vamos ter a bolsa formação, que se divide entre bolsa formação do estudante e bolsa formação profissional.
Por exemplo, quase 2 milhões de trabalhadores na indústria não têm ensino fundamental ou são analfabetos. Essa é uma estrutura que estamos propondo agora uma parceria com a bolsa formação do trabalhador. Nós vamos dar financiamento do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) para a empresa formar esses trabalhadores. Acho que é uma parceria inteligente que pode dar certo.
O Enem vai parar de ter tanto problema?
Existe algum país desenvolvido que não tenha um exame semelhante ao Enem? Não, o Enem está ancorado numa estrutura de avaliação que todos os países desenvolvidos construíram. É um caminho republicando, democrático de acesso, que é a meritocracia.
O crescimento do Enem no Brasil é uma coisa espetacular, são 5 milhões de alunos. É muito mais complexo fazer um exame desse tamanho num país continental e que não tem a tradição.
Temos que melhorar a gestão? Evidentemente que temos que melhorar. Tem havido um esforço muito grande do MEC e melhorou muito a logística. Houve um avanço importante do ponto de vista logístico de aprimoramento.
Na TRI (Teoria de Resposta ao Item), que é indispensável ao Enem, precisamos aumentar o banco de itens e já estamos trabalhando fortemente nessa direção.
Nos Estados Unidos, eles construíram um sistema com mais de 100 mil questões. Se tivéssemos algo como 50 mil questões (hoje são 6 mil), não teríamos mais dificuldades para fazer o exame, pois quanto mais itens, menos riscos.
A meta é chegar a quantos itens?
Posso dizer que estamos trabalhando fortemente para aumentar de forma expressiva ao longo deste ano o nosso banco de itens, mas vamos aguardar. Tudo o que diz respeito ao Enem, quanto mais cuidado a gente tiver na divulgação, melhor para o sistema.
Além de ampliar o banco de itens, uma segunda providência que já tomamos foi constituir uma comissão técnica de alto nível para discutir a metodologia da prova.
E vamos melhorar a correção da redação a favor dos alunos. Vamos mudar a metodologia de correção e criar procedimentos mais rigorosos e que deem mais segurança na avaliação final. No momento adequado, vamos anunciar. O importante é que os jovens continuem estudando.
Haverá dois exames no ano que vem?
Estamos trabalhando nessa possibilidade. Se aumentarmos o banco de itens, teremos essa possibilidade. Primeiro vamos resolver o banco de itens porque sem isso não temos as condições de fazer com segurança dois exames ao ano.
Muitos educadores criticam o MEC por divulgar notas por escola do Enem e na Prova Brasil. O senhor pretende mudar isso?
Os pais não podem saber o que está acontecendo com os alunos se não houver um ranqueamento. Quando você compara, você permite uma discussão de metas e qualidade. As metas são fundamentais para que o sistema possa evoluir. Como posso projetar uma meta de qualidade se eu não tenho um ponto de referência de avaliação? Como posso construir metas consistentes se não sei como o conjunto de sistema está se movendo?
O senhor bateu muito no que chamou de aprovação automática quando foi candidato ao governo de São Paulo. O MEC, no entanto, orienta os municípios a não repetirem os anos iniciais do ensino fundamental. Manterá essa política?
O que nós vamos trabalhar no primeiro ciclo, dos seis aos oito anos de idade, é apresentar um programa de alfabetização na idade certa. É indispensável que nesse primeiro ciclo a criança saiba ler e escrever. É uma questão central do sistema. Precisamos criar uma consciência na rede de que os melhores professores, nos melhores horários e nas melhores salas de aula, com material pedagógico estruturado, devem ser ofertados para os alunos nesse primeiro ciclo.
Quando o senhor diz material estruturado, quer dizer apostilas de alfabetização?
Material estruturado não é material padronizado, como apostilas. Do ponto de vista pedagógico, temos muitos caminhos e muitas opções, e vamos respeitar a pluralidade. Será um material de qualidade, diversificado, e em quantidade suficiente para todos os alunos.
Temos nessa questão dois caminhos a superar. Um é a indústria da repetência, que é o reconhecimento do fracasso pedagógico. Mas igualmente temos que superar a aprovação automática, em que o aluno não domina as habilidades e condições necessárias para aquela etapa do processo. Precisamos ter acompanhamento pedagógico mais consistente.
Estamos trabalhando também com a ideia de ter algo semelhante a uma residência médica para os professores, com tutoria, inclusive com visita a casa dos alunos que tenham maior dificuldade de aprendizagem, como um médico de família.
Frase
"A escola tem de ser um agente que contribua para a inclusão digital (...). O arranjo social da sala de aula e o quadro negro são do século 18, os professores são do século 20 e os alunos são do século 21. Nós, professores, somos analógicos e imigrantes digitais"ALOIZIO MERCADANTE
ministro da Educação
ministro da Educação
ANTONIO GOISRENATO MACHADO
Petista fala em continuidade da gestão Haddad, com foco em tecnologia
Crítico da aprovação automática quando foi candidato, ministro da Educação diz que não mudará essa orientação
Aloizio Mercadante completou ontem 18 dias a frente do Ministério da Educação prometendo dar continuidade ao trabalho do antecessor, Fernando Haddad, mas com discurso com ênfase no uso de tecnologias para melhorar a qualidade do ensino.
Antes de grandes projetos, porém, ele precisará resolver problemas imediatos, como uma melhor gestão do Enem.
Em entrevista à Folha, disse que a metodologia de correção da redação mudará a favor dos alunos, mas não garantiu duas provas em 2013.
O ministro, que quando foi candidato ao governo de São Paulo criticou duramente o que chamava de "aprovação automática", diz que não alterará a orientação -em vigor no MEC- de não reprovar alunos de ciclos iniciais. Leia trechos da entrevista.
Folha - Neste início de gestão, ficou a impressão de que o senhor acredita que a tecnologia salvará a educação. É uma impressão errada?
Aloizio Mercadante - A tecnologia não é um objetivo em si mesma, mas um instrumento que pode contribuir para um salto de qualidade. A escola tem de ser um agente que contribua para o processo de inclusão digital. Não é só preparar a juventude para usar a ferramenta no mundo do trabalho e da ciência, mas também na aprendizagem.
O arranjo social da sala de aula e o quadro negro são do século 18, os professores são do século 20 e os alunos são do século 21. Nós, professores, somos analógicos e imigrantes digitais. Os alunos são nativos digitais.
Será que tudo isso que aconteceu com a tecnologia não ajudará a gente a fazer uma escola muito mais criativa, mais interativa, que desperte mais inovação, curiosidade nos alunos? Eu acho que vai ter, mas tem de ter cuidado pedagógico, tem de dar passos consistentes. Acho que o MEC está sendo cuidadoso nessa trajetória.
O Enem vai parar de dar tanto problema?
Temos que melhorar a gestão? Sim. Mas já tem havido um esforço grande do MEC.
Estamos trabalhando para aumentar o banco de itens da prova [as questões precisam ser pré-testadas para medir o nível de dificuldade e permitir a comparação das notas ao longo dos anos]. Nos EUA, eles construíram um sistema com mais de 100 mil questões. Se tivéssemos 50 mil [hoje são 6.000], não teríamos mais dificuldade.
Estamos constituindo uma comissão de técnicos do Inep e especialistas em avaliação para discutir a metodologia da prova. E vamos melhorar a correção das redações, a favor dos alunos. E criar procedimentos mais rigorosos.
O que vai mudar?
No momento adequado vamos anunciar. O importante agora para os jovens é que continuem estudando.
Teremos dois exames no ano que vem?
Estamos trabalhando nessa possibilidade, mas primeiro vamos resolver o problema da ampliação do banco.
O MEC continuará divulgando notas por escolas, o que é criticado por alguns educadores?
Os pais não podem saber o que está acontecendo com os alunos se não houver um ranqueamento. Quando você compara, permite uma discussão de metas e de qualidade. Metas são fundamentais para que o sistema possa evoluir.
Quando candidato ao governo paulista, o senhor criticava o que chamava de "aprovação automática". O MEC, no entanto, orienta as redes a não repetirem nos anos iniciais. O senhor vai rever isso?
Vamos trabalhar no primeiro ciclo, dos seis aos oito anos, num programa de alfabetização na idade certa. Devemos criar a consciência de que os melhores professores, nos melhores horários e nas melhores salas de aula, com material pedagógico estruturado, devem ser destacados para o primeiro ciclo.
Temos dois caminhos a superar. Um é a indústria da repetência, que é o reconhecimento do fracasso pedagógico. Mas temos que superar a aprovação automática, em que o aluno não domina as habilidades necessárias para a etapa. Precisamos ter acompanhamento pedagógico mais consistente.
Mas o senhor manterá ou não a orientação de não reprovar?
Acho o ciclo [de não repetência dos seis aos oito anos] necessário. Os alunos chegam em condições familiares heterogêneas. Mas cumprindo metas de criação de creches e pré-escolas e alfabetizando na idade certa, vamos enfrentar o problema.
Petista fala em continuidade da gestão Haddad, com foco em tecnologia
Crítico da aprovação automática quando foi candidato, ministro da Educação diz que não mudará essa orientação
Aloizio Mercadante completou ontem 18 dias a frente do Ministério da Educação prometendo dar continuidade ao trabalho do antecessor, Fernando Haddad, mas com discurso com ênfase no uso de tecnologias para melhorar a qualidade do ensino.
Antes de grandes projetos, porém, ele precisará resolver problemas imediatos, como uma melhor gestão do Enem.
Em entrevista à Folha, disse que a metodologia de correção da redação mudará a favor dos alunos, mas não garantiu duas provas em 2013.
O ministro, que quando foi candidato ao governo de São Paulo criticou duramente o que chamava de "aprovação automática", diz que não alterará a orientação -em vigor no MEC- de não reprovar alunos de ciclos iniciais. Leia trechos da entrevista.
Folha - Neste início de gestão, ficou a impressão de que o senhor acredita que a tecnologia salvará a educação. É uma impressão errada?
Aloizio Mercadante - A tecnologia não é um objetivo em si mesma, mas um instrumento que pode contribuir para um salto de qualidade. A escola tem de ser um agente que contribua para o processo de inclusão digital. Não é só preparar a juventude para usar a ferramenta no mundo do trabalho e da ciência, mas também na aprendizagem.
O arranjo social da sala de aula e o quadro negro são do século 18, os professores são do século 20 e os alunos são do século 21. Nós, professores, somos analógicos e imigrantes digitais. Os alunos são nativos digitais.
Será que tudo isso que aconteceu com a tecnologia não ajudará a gente a fazer uma escola muito mais criativa, mais interativa, que desperte mais inovação, curiosidade nos alunos? Eu acho que vai ter, mas tem de ter cuidado pedagógico, tem de dar passos consistentes. Acho que o MEC está sendo cuidadoso nessa trajetória.
O Enem vai parar de dar tanto problema?
Temos que melhorar a gestão? Sim. Mas já tem havido um esforço grande do MEC.
Estamos trabalhando para aumentar o banco de itens da prova [as questões precisam ser pré-testadas para medir o nível de dificuldade e permitir a comparação das notas ao longo dos anos]. Nos EUA, eles construíram um sistema com mais de 100 mil questões. Se tivéssemos 50 mil [hoje são 6.000], não teríamos mais dificuldade.
Estamos constituindo uma comissão de técnicos do Inep e especialistas em avaliação para discutir a metodologia da prova. E vamos melhorar a correção das redações, a favor dos alunos. E criar procedimentos mais rigorosos.
O que vai mudar?
No momento adequado vamos anunciar. O importante agora para os jovens é que continuem estudando.
Teremos dois exames no ano que vem?
Estamos trabalhando nessa possibilidade, mas primeiro vamos resolver o problema da ampliação do banco.
O MEC continuará divulgando notas por escolas, o que é criticado por alguns educadores?
Os pais não podem saber o que está acontecendo com os alunos se não houver um ranqueamento. Quando você compara, permite uma discussão de metas e de qualidade. Metas são fundamentais para que o sistema possa evoluir.
Quando candidato ao governo paulista, o senhor criticava o que chamava de "aprovação automática". O MEC, no entanto, orienta as redes a não repetirem nos anos iniciais. O senhor vai rever isso?
Vamos trabalhar no primeiro ciclo, dos seis aos oito anos, num programa de alfabetização na idade certa. Devemos criar a consciência de que os melhores professores, nos melhores horários e nas melhores salas de aula, com material pedagógico estruturado, devem ser destacados para o primeiro ciclo.
Temos dois caminhos a superar. Um é a indústria da repetência, que é o reconhecimento do fracasso pedagógico. Mas temos que superar a aprovação automática, em que o aluno não domina as habilidades necessárias para a etapa. Precisamos ter acompanhamento pedagógico mais consistente.
Mas o senhor manterá ou não a orientação de não reprovar?
Acho o ciclo [de não repetência dos seis aos oito anos] necessário. Os alunos chegam em condições familiares heterogêneas. Mas cumprindo metas de criação de creches e pré-escolas e alfabetizando na idade certa, vamos enfrentar o problema.
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