1 de junho de 2012

Dom Evaristo Arns conta como eram efetuadas as prisões na ditadura


01/06/2012 


da Livraria da Folha

Com uma pesquisa iniciada em 1979, em sigilo absoluto, dom Paulo Evaristo Arns quis trazer a público o mecanismo de repressão do regime militar brasileiro (1964-1985) que prendia e torturava pessoas. O resultado da empreitada, realizada a partir de documentos produzidos pelo próprio governo, pode ser conhecido em "Brasil: Nunca Mais".
Divulgação
Por meio de documentos, obra denuncia crueldades da ditadura
Por meio de documentos, obra denuncia crueldades da ditadura

No livro, o autor relata detalhes de como funcionaram as agências de investigação, quais eram seus critérios, quem foram os principais perseguidos, os movimentos de esquerda existentes na época, como eram feitas as prisões e as cruéis técnicas de tortura utilizadas nos presos políticos.
Arns também denuncia o fato de crianças e gestantes também terem sido submetidos às violentas agressões físicas e psicológicas perpetradas pelos torturadores.
O título foi uma das primeiras denúncias fortemente documentadas sobre os crimes cometidos pela ditadura. Leia um trecho.
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Como eram efetuadas as prisões
O labirinto do sistema repressivo montado pelo Regime Militar brasileiro tinha como ponta-do-novelo-de-lã o modo pelo qual eram presos os suspeitos de atividades políticas contrárias ao governo. Num completo desrespeito a todas as garantias individuais dos cidadãos, previstas nas Constituição que os generais alegavam respeitar, ocorreu uma prática sistemática de detenções na forma de sequestro, sem qualquer mandado judicial nem observância de qualquer lei.
Através da pesquisa BNM foi possível selecionar alguns casos, apresentado a seguir, que ilustram com fidelidade a prática rotineira das prisões ilegais ocorridas naqueles anos difíceis da vida nacional.
A funcionária pública Lara de Lemos, de 50 anos, narrou ao juiz-auditor, em 1973, como fora presa no Rio:
[...] a depoente estranhou a maneira pela (qual foi) feita a sua detenção, altas horas da noite, por três indivíduos de aspecto marginal, sem nenhum mandado judicial, os quais intimaram a depoente a acompanhá-los; no veículo para onde fora conduzida, fora encapuzada e obrigada a deitar-se no chão do carro para não ser vista; posteriormente veio a saber que o local de sua prisão era a P.E. (Polícia do Exército) [...].
As capturas eram cercadas de um clima de terror, do qual não se poupavam pessoas isentas de qualquer suspeita, conforme carta, anexada aos autos, do estudante de Medicina Adail Ivan Lemos, de 22 anos, encaminhada à Justiça Militar Carioca em 1970:
[...] Quando entrei na sala de jantar, minha mãe, sentada escrevendo à máquina, chorava em silêncio. Um pouco antes, por volta das 15:30h, meu irmão tinha sido preso enquanto estudava. Minutos depois começou a ser agredido fisicamente, no quarto de minha mãe, levando, segundo suas palavras, "um pau violento". Socos, cuteladas, empurrões, seriam "café pequeno" perto do que viria mais tarde. Mas, ainda ali, separado da mãe por alguns metros, teve sua cabeça soqueada contra a parede [...].
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