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SÃO PAULO - Para mim, parto em casa é sinônimo de brincar com o perigo, mas não vejo como se possa negar às mulheres que desejem dar à luz no recôndito do lar o direito de fazê-lo, assim como não podemos recriminar aquelas que optam pelas comodidades da cesariana.
Do ponto de vista da saúde pública, a situação é cristalina: parto em casa é anátema e as cesáreas devem corresponder a 15% do total de nascimentos, para os quais há indicação clínica. Tudo o que fuja disso representa ou perigos desnecessários ou custos extras para o sistema. Essa matemática é implacável quando aplicada a grandes populações, mas, se analisada da perspectiva de uma única mulher, resulta num risco baixo o suficiente para ser relevado.
Filósofos nos oferecem alguns candidatos a valores universais sobre os quais poderíamos fundar uma ética, como felicidade, prazer, bem-estar, ausência de dor. O que eles não conseguem nos dar é uma fórmula eficaz para contabilizar esses itens segundo os diferentes pesos que cada um de nós atribui às experiências.
Para mim e para a maioria dos humanos, escalar o Everest é algo que traria muita dor e nenhum prazer, mas, para aqueles que se dedicam ao montanhismo, conquistar esse pico é a quintessência da vida. Não hesitam em sacrificar alguns dedos necrosados por congelamento pelo deleite de chegar ao topo do mundo.
Assim, embora dê para sustentar que existe um princípio de utilidade aplicável a todos os humanos, é pouco provável que se possa falar num risco aceitável universal. No que concerne à biologia, não há nada mais idiota do que morrer por uma ideia, mas é exatamente isso o que fazem os santos e os heróis da pátria incensados por tantas culturas.
É justamente porque não há como circunscrever as decisões a cálculos objetivos que as democracias resolveram esse dilema conferindo a homens e mulheres o direito de fazer escolhas, inclusive escolhas "erradas".
helio@uol.com.br
Do ponto de vista da saúde pública, a situação é cristalina: parto em casa é anátema e as cesáreas devem corresponder a 15% do total de nascimentos, para os quais há indicação clínica. Tudo o que fuja disso representa ou perigos desnecessários ou custos extras para o sistema. Essa matemática é implacável quando aplicada a grandes populações, mas, se analisada da perspectiva de uma única mulher, resulta num risco baixo o suficiente para ser relevado.
Filósofos nos oferecem alguns candidatos a valores universais sobre os quais poderíamos fundar uma ética, como felicidade, prazer, bem-estar, ausência de dor. O que eles não conseguem nos dar é uma fórmula eficaz para contabilizar esses itens segundo os diferentes pesos que cada um de nós atribui às experiências.
Para mim e para a maioria dos humanos, escalar o Everest é algo que traria muita dor e nenhum prazer, mas, para aqueles que se dedicam ao montanhismo, conquistar esse pico é a quintessência da vida. Não hesitam em sacrificar alguns dedos necrosados por congelamento pelo deleite de chegar ao topo do mundo.
Assim, embora dê para sustentar que existe um princípio de utilidade aplicável a todos os humanos, é pouco provável que se possa falar num risco aceitável universal. No que concerne à biologia, não há nada mais idiota do que morrer por uma ideia, mas é exatamente isso o que fazem os santos e os heróis da pátria incensados por tantas culturas.
É justamente porque não há como circunscrever as decisões a cálculos objetivos que as democracias resolveram esse dilema conferindo a homens e mulheres o direito de fazer escolhas, inclusive escolhas "erradas".
helio@uol.com.br
Folha de S.Paulo
20/06/2012
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