1 de junho de 2012

PRISCILA CRUZ Por um país grande, realmente de todos


Folha de S.Paulo, 01/06/2012
Para universalizar matrículas, políticas homogêneas serviam. Agora é preciso mudar. Médias escondem os alunos que estão muito atrás ou muito à frente
Em várias áreas, a desigualdade ainda é uma das características mais marcantes do nosso país, um eco da nossa história que torna comum a ideia de que é natural que existam diferenças de oportunidades entre os grupos sociais.
A desigualdade educacional talvez seja a mais cruel de todas. Tão importante quanto melhorar a qualidade da educação básica, garantindo a aprendizagem de que os alunos precisam para a vida, é combater as desigualdades educacionais.
Diversos indicadores educacionais apontam para resultados extremamente desiguais. E um resultado ruim puxa outro.
As crianças que vivem em famílias mais pobres frequentam menos a educação infantil. A taxa de conclusão do ensino médio é menor entre os jovens cujas mães têm baixa escolaridade. As escolas que apresentam resultados de desempenho mais baixos estão concentradas nas regiões mais pobres.
Em um país tão desigual, as médias dizem pouco. Elas são insuficientes para a avaliação dos cenários reais. Escondem, por exemplo, os que estão muito lá atrás ou os que estão muito à frente.
Quando o foco era universalizar as matrículas, as políticas eram mais homogêneas, pois construir uma escola, por exemplo, para uma criança com mais dificuldade em matemática é igual a construí-la para outra que esteja defasada em leitura e escrita.
Atualmente, o maior desafio é a qualidade do ensino, o que torna a política educacional mais complexa, pois ganhos de qualidade com maior equidade dependem de reconhecermos as diferentes necessidades de cada rede, escola e aluno.
Portanto, precisamos ter diagnósticos claros e mais desagregados, estratégias diversificadas e mais precisas e implementação competente e mais eficaz.
Não existe qualidade sem equidade. Os países que estão no topo do ranking mundial da educação apresentam uma média alta de desempenho e baixa desigualdade entre os alunos e redes.
Um exemplo é o Canadá, país entre os cinco primeiros colocados no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), que, apesar de abrigar um fluxo imigratório intenso de famílias de várias partes do mundo, tem uma das menores desigualdades educacionais.
Este é o momento de termos políticas públicas específicas para problemas específicos, adequadas a cada caso, que garantam uma atuação mais estratégica para lidar com um objeto muito mais sofisticado: a aprendizagem de todos e o combate à desigualdade.
Em uma sala de aula, nenhum aluno pode ficar para trás, esteja ele na região Sul ou na região Norte do país, seja ele de família de baixa ou alta renda. Os pontos de chegada dos alunos serão certamente diferentes, mas não se pode aceitar que alguns estejam tão defasados a ponto de acumular lacunas que impossibilitem seu sucesso ao longo de toda a sua trajetória escolar, com aprovação e aprendizagem.
Hoje, o Brasil passa por um momento importante de crescimento. Mas crescer economicamente sem aumento da qualidade e da equidade na educação é um equívoco.
É hora de que os frutos desse crescimento sejam usados para melhorar a vida de todos. Acima de outras prioridades estruturais, como os nós logísticos de infraestrutura e da questão tributária, se o Brasil quiser ser um país desenvolvido, sustentável, fortemente competitivo e socialmente justo, terá que colocar a questão da qualidade da educação no topo de suas prioridades.
Vale sempre lembrar que o direito à educação de qualidade é universal e igual para todos. O Brasil só será um grande país quando for realmente de todos.
PRISCILA CRUZ, 37, é diretora-executiva do movimento Todos Pela Educação

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