3 de julho de 2012

Benjamin Steinbruch - Transformações, Rio+20



O documento da Rio+20 foi uma simples declaração de princípios, mas refletiu o momento do mundoDo terraço da enorme estrutura de aço erguida sobre as pedras do Forte de Copacabana era possível observar a imensidão do mar e o Pão de Açúcar, um dos cartões postais do Rio de Janeiro.

Por esse espaço, denominado Humanidade 2012, passaram mais de 200 mil pessoas durante a Conferência da ONU para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Elas não foram lá apenas para contemplar a linda paisagem do Rio. Foram também para participar de seminários e debates sobre ambiente e outros temas relacionados à Rio+20 e para a exposição aberta ao público, uma criação da artista Bia Lessa, em uma área de quase 7.000 metros quadrados.

Dado o sucesso da Rio+20, é justo registrar que ela foi uma iniciativa conjunta da Fiesp, da Firjan, da Fundação Roberto Marinho, do Sesi-Rio-SP, do Senai-Rio-SP, com apoio da Prefeitura do Rio. Quem teve a oportunidade de participar encontra dificuldade para aceitar a tese de que a Rio+20 foi um fracasso, como querem alguns críticos.

Quando o Humanidade 2012 foi projetado, pensava-se que poderia atrair umas 5.000 pessoas por dia. Num sábado, porém, lá estiveram 50 mil jovens, idosos e crianças que, apesar de esperar muito tempo nas filas, saíram satisfeitos.

O documento final da Rio+20 provocou enorme polêmica. A opinião dominante é que "faltou ousadia" aos representantes que redigiram o documento. Segundo a unanimidade das ONGs, o momento exigia definições claras sobre responsabilidades específicas, contribuições financeiras, fixação de prazos para a adoção de medidas e ampliação de poderes do Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma). Ou seja, o documento teria sido vago, impreciso e decepcionante.

Essas críticas são plausíveis. Nada é mais frustrante do que o discurso repetitivo e teórico da sustentabilidade, sem que sejam feitas propostas de procedimentos concretos. Eu mesmo, nos debates no Humanidade 2012, pedi à presidente do conselho do Greenpeace internacional, Ana Toni, que colaborasse com a Fiesp para estudar possíveis campos de atuação conjunta para a elaboração de uma proposta concreta sobre a forma que o setor produtivo poderia influenciar a demanda sustentável, e ela aceitou. Seria, portanto, a sugestão de uma maneira prática de atuação dos empresários nessa área, na visão dessa combativa entidade internacional.

Para se contrapor a essas críticas, os responsáveis pelo documento argumentam que, embora não indique os passos de uma nova trajetória, ele reafirma itens considerados fundamentais em matéria de direitos humanos, de erradicação da pobreza e de economia verde.

A própria presidente Dilma Rousseff, ao fazer um balanço do evento, lembrou que somente o fato de haver um documento já representa uma vitória. O texto, de fato, foi assinado por 193 países, algo que não se conseguiu na reunião de Copenhague, por exemplo, esta sim um fracasso indiscutível.
O documento foi uma simples declaração de princípios. Isso é incontestável. Refletiu, entretanto, o atual momento vivido pelo mundo.

De um lado, há uma grande crise econômica, talvez a mais grave desde a Depressão dos anos 1930. De outro, é tempo de transição de poder global, com o avanço político e econômico de países emergentes e o declínio assustadoramente rápido do chamado Primeiro Mundo.

Considerado esse aspecto, o documento final significou um sucesso em matéria de comprometimento global. Foi possível colocar no papel algumas definições claras, assinadas por países ricos, pobres e emergentes.
Para o Brasil, ficou a sensação de que o engajamento da sociedade civil na causa ambiental atingiu níveis muito além do esperado para uma conferência desse gênero.

O interesse demonstrado pelas 200 mil pessoas que foram ao Humanidade 2012 dá esperanças de que, a despeito do lento avanço das decisões globais, a consciência da sociedade brasileira sobre a importância do tema possa promover transformações locais muito mais rapidamente do que se imagina. Nem de longe isso pode ser considerado um fracasso.

BENJAMIN STEINBRUCH, 58, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp.

bvictoria@psi.com.br
Folha de S.Paulo
03/07/2012 

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