Folha de S.Paulo, 4/11/2012
Desde 1996, quando o historiador americano John W.F. Dulles publicou a sua notável biografia de Carlos Lacerda, não se via um retrato de político brasileiro como o que o repórter Mário Magalhães traçou no seu "Marighella - O guerrilheiro que incendiou o mundo". São 732 páginas de pesquisa minuciosa onde uma vida conta duas histórias, a do Partido Comunista e a do nascimento do surto terrorista que durou de 1967 a 1973. Nele, a Ação Libertadora Nacional de Marighella teve um dos papéis mais relevantes.
O objetivo de Mário Magalhães foi contar uma vida, não julgá-la. Marighella tornou-se personagem de romance em 1954, aos 43 anos, quando Jorge Amado esculpiu o mulato baiano Carlos, na trilogia stalinista "Os Subterrâneos da Liberdade". A biografia segue um personagem fortemente documentado em dois acervos. De um lado o da polícia política, que o perseguia. (Marighella viveu 57 anos, 33 dos quais no PCB, sete na cadeia e 19 na clandestinidade.) De outro, o dos seus correligionários, lapidadores de um mito heroico. Magalhães trabalhou durante nove anos, com 256 entrevistas, vasta leitura e pesquisas em arquivos brasileiros, americanos e russos.
O livro retrata um homem destemido e frugal que buscou o apoio de um psiquiatra quando o primeiro-ministro soviético Nikita Kruschev denunciou o stalinismo. Expansivo, fazia versos e um deles teve como subtítulo "Sonata em três tempos - Quarteto de inúbia, ataque, berimbau e piano". Expunha-se, e quando chegou a hora de assaltar bancos, foi lá e roubou um. Num camburão, adormeceu e sonhou ser o astronauta Yuri Gagarin dando voltas sobre a Terra.
Em março de 1964, Marighella era um dirigente do Partido Comunista e discutia o bombardeio do Palácio Guanabara. No dia 1º de abril, discursava em cima de caixotes. Um mês depois estava preso. Formou a ALN tirando uma costela do "Partidão", mobilizando jovens numa estrutura que Jacob Gorender classificou como "anarcomilitarismo". Ele pretendia começar a revolução movendo colunas guerrilheiras no campo. A ALN assaltou seu primeiro banco em 1967 e ele foi assassinado dois anos depois. Nenhuma coluna foi criada.
Quem quiser sapear o volume numa livraria pode ir ao capítulo "Os sobrinhos do titio Marighella", com a história de um assalto ao cinema Ópera, no Rio. A idade média do grupo era de 19 anos. Um "sobrinho" de 15 não podia entrar no filme em cartaz, "O Bebê de Rosemary". Depois do incidente, dois deles foram jogar futebol na madrugada do Aterro.
Desde 1996, quando o historiador americano John W.F. Dulles publicou a sua notável biografia de Carlos Lacerda, não se via um retrato de político brasileiro como o que o repórter Mário Magalhães traçou no seu "Marighella - O guerrilheiro que incendiou o mundo". São 732 páginas de pesquisa minuciosa onde uma vida conta duas histórias, a do Partido Comunista e a do nascimento do surto terrorista que durou de 1967 a 1973. Nele, a Ação Libertadora Nacional de Marighella teve um dos papéis mais relevantes.
O objetivo de Mário Magalhães foi contar uma vida, não julgá-la. Marighella tornou-se personagem de romance em 1954, aos 43 anos, quando Jorge Amado esculpiu o mulato baiano Carlos, na trilogia stalinista "Os Subterrâneos da Liberdade". A biografia segue um personagem fortemente documentado em dois acervos. De um lado o da polícia política, que o perseguia. (Marighella viveu 57 anos, 33 dos quais no PCB, sete na cadeia e 19 na clandestinidade.) De outro, o dos seus correligionários, lapidadores de um mito heroico. Magalhães trabalhou durante nove anos, com 256 entrevistas, vasta leitura e pesquisas em arquivos brasileiros, americanos e russos.
O livro retrata um homem destemido e frugal que buscou o apoio de um psiquiatra quando o primeiro-ministro soviético Nikita Kruschev denunciou o stalinismo. Expansivo, fazia versos e um deles teve como subtítulo "Sonata em três tempos - Quarteto de inúbia, ataque, berimbau e piano". Expunha-se, e quando chegou a hora de assaltar bancos, foi lá e roubou um. Num camburão, adormeceu e sonhou ser o astronauta Yuri Gagarin dando voltas sobre a Terra.
Em março de 1964, Marighella era um dirigente do Partido Comunista e discutia o bombardeio do Palácio Guanabara. No dia 1º de abril, discursava em cima de caixotes. Um mês depois estava preso. Formou a ALN tirando uma costela do "Partidão", mobilizando jovens numa estrutura que Jacob Gorender classificou como "anarcomilitarismo". Ele pretendia começar a revolução movendo colunas guerrilheiras no campo. A ALN assaltou seu primeiro banco em 1967 e ele foi assassinado dois anos depois. Nenhuma coluna foi criada.
Quem quiser sapear o volume numa livraria pode ir ao capítulo "Os sobrinhos do titio Marighella", com a história de um assalto ao cinema Ópera, no Rio. A idade média do grupo era de 19 anos. Um "sobrinho" de 15 não podia entrar no filme em cartaz, "O Bebê de Rosemary". Depois do incidente, dois deles foram jogar futebol na madrugada do Aterro.
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