Neurocientista é o primeiro pesquisador do país a ganhar o Pioneer Award, dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos. Entregue ao longo de cinco anos, prêmio de US$ 2,5 milhões será empregado no estudo do sistema nervoso e da interação cérebro-máquina
O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis foi um dos escolhidos este ano para receber o prêmio Pioneiro, um dos mais prestigiados dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês). Criado em 2004, o Pioneer Award financia projetos considerados visionários e de alto risco nas áreas de biomedicina e comportamento.
Nicolelis, professor e pesquisador do Departamento de Neurobiologia da Universidade Duke, na Carolina do Norte, receberá US$ 2,5 milhões (R$ 4,4 milhões) ao longo de cinco anos para aprofundar suas pesquisas sobre o funcionamento do sistema nervoso e a interação cérebro-máquina. O objetivo do prêmio, segundo o NIH, é estimular inovações futuras e não premiar resultados do passado. "É para fazer coisas do futuro mesmo; não só ciência incremental", disse Nicolelis ao Estado.
Com vários trabalhos pioneiros publicados em revistas internacionais nos últimos anos, ele desenvolve sistemas que permitem controlar máquinas por meio de comandos cerebrais, usando eletrodos implantados no cérebro e conectados a um computador.
O objetivo final é que pacientes vítimas de lesões ou doenças neuronais possam controlar robôs (ou qualquer outro aparato eletrônico) apenas com o cérebro. Um tetraplégico, por exemplo, poderia controlar um braço robótico para pegar objetos ou escrever textos numa tela usando apenas o pensamento. Outra estratégia é o desenvolvimento de neuropróteses, conectadas ao cérebro, que poderiam ser vestidas pelo paciente.
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Resultados experimentais promissores já foram obtidos com seres humanos, mas o aparato ainda era grande e complexo demais. O desafio é tornar o sistema mais seguro, dinâmico e prático, para que possa ser aplicado clinicamente.
A pesquisa, no momento, está sendo feita com macacos resos, inseridos em um ambiente virtual, no qual eles podem manipular objetos e interagir com outros macacos digitais (avatares), usando apenas comandos cerebrais. "Eles se relacionam com os avatares como se fossem macacos da mesma colônia", diz Nicolelis. Os comandos nervosos são transmitidos por telemetria (wireless) dos eletrodos no cérebro para um computador, que registra tudo e controla o que acontece no mundo digital.
"Com o dinheiro do prêmio, queremos desenvolver um sistema que possa ser carregado todo dentro de uma mochila", diz o cientista. Toda a tecnologia usada nos experimentos é desenvolvida no próprio laboratório. O sistema consegue captar os impulsos de quase mil neurônios. "Achamos que com 20 mil a 30 mil neurônios já será possível controlar uma prótese de corpo inteiro", prevê.
Nicolelis tem também vários projetos no Brasil. O principal deles é o Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra, que ele fundou em 2004. O dinheiro do prêmio, porém, só poderá ser usado na Universidade Duke, que receberá outro US$ 1,25 milhão para dar suporte à pesquisa com infraestrutura e equipamentos.
Cerca de 15 cientistas recebem o prêmio anualmente, após um rigoroso processo de seleção. Segundo a Duke, Nicolelis é o primeiro brasileiro agraciado.
Projeto capta dados de neurônios para entender Parkinson
Uma parceria de Nicolelis com o Hospital Sírio-Libanês para o estudo da doença de Parkinson começou a ser colocada em prática no fim de maio, com a realização de uma primeira cirurgia em que foram coletados dados do cérebro de uma paciente.
Regina Nogueira, de 64 anos, teve eletrodos implantados para estimular os neurônios afetados pela doença - um procedimento já antigo, mas que foi feito com uma nova máquina, capaz de mapear o cérebro e posicionar o eletrodo de forma muito mais precisa. Durante a cirurgia, um outro eletrodo, desenvolvido por Nicolelis, foi usado para gravar dados da atividade cerebral de Regina enquanto ela fazia movimentos com os braços. O mesmo será feito com outros 11 pacientes.
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